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Presidente Joe Biden durante uma coletiva de imprensa Presidente Joe Biden durante uma coletiva de imprensa  (AFP or licensors)

Saber dar um passo atrás

No editorial do L’Osservatore Romano, Alessandro Gisotti, vice-diretor dos meios de comunicação do Vaticano, aborda Joe Biden e o valor de se retirar. A escolha do presidente americano lembra a decisão de Nelson Mandela em 1999, quando optou por não se candidatar a um segundo mandato na presidência sul-africana.

Alessandro Gisotti

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Renunciar custa. E muito. Não é necessário ocupar uma posição de poder ou um cargo de grande relevância. Às vezes, até mesmo abrir mão de um hábito de trabalho consolidado ou de uma posição arduamente conquistada pode ser muito difícil. Por isso, sempre que uma personalidade de destaque público escolhe dar um passo atrás, de se retirar, conquista imediatamente a simpatia e a estima da opinião pública. Experimentamos isso de forma marcante em 11 de fevereiro de 2013 com a histórica renúncia ao ministério petrino de Bento XVI. E percebemos – embora em um contexto diferente – igualmente de forma evidente nas últimas 24 horas, após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de que não tentará um segundo mandato na Casa Branca, deixando ao seu partido a escolha de um novo candidato para desafiar Donald Trump (Biden já indicou, no entanto, a vice-presidente Kamala Harris como sua preferência para sucedê-lo no Salão Oval).

Como é bem sabido, a decisão já era esperada há algum tempo e muitos, entre os principais representantes do Partido Democrata, haviam insistentemente pedido a Biden que desistisse da candidatura à reeleição. Contudo, a decisão final cabia ao ocupante da Casa Branca, sendo, portanto, uma escolha pessoal e certamente difícil, de não concorrer a mais quatro anos como presidente. Uma escolha nobre, que – como diversos observadores constataram – coloca o bem do país acima de seus interesses pessoais. Isso independente das avaliações políticas sobre sua presidência, que agora se aproxima do fim. Em 1999, Nelson Mandela tomou uma decisão semelhante – e por certos aspectos até mais forte e evocativa – ao optar por não se candidatar a um segundo mandato presidencial e se retirar da vida pública. Ele havia derrotado o apartheid e iniciado a reconciliação de seu amado país, a África do Sul. Era o momento de deixar aos outros a colheita do que havia semeado, após 27 anos de prisão.

O tempo na política pode ser muito fecundo mesmo em períodos curtos: a Joe Biden restam “apenas” 6 meses antes da transferência de poder em 20 de janeiro de 2025. Não tendo mais que tomar decisões exclusivamente em vista da campanha eleitoral, é de se esperar que o presidente dos Estados Unidos promova novas iniciativas corajosas e criativas para alcançar aqueles objetivos que definirão seu legado na história, especialmente na política externa, começando pelo fim dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio.

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22 julho 2024, 15:25