Os anjos do Mare Jonio, 180 pessoas resgatadas nas últimas horas
Joseph Tulloch, do Mar Jônio
“Anjos, enviados por Deus para nos ajudar”, a emoção e a gratidão dos resgatados das ondas se misturam com a dor e os traços de tortura que marcam seus olhos e corpos. Os socorristas do Mar Jónio são os “anjos” que os abraçam, os migrantes, a maioria deles fugindo da ferocidade das milícias líbias. Eles os recebem a bordo, tirando-os do bote que partiu da Líbia na noite anterior. As histórias se entrelaçam, as palavras também, assim como os vários idiomas. Todos falam de salvação, alguns buscam consolo em Shakespeare, como o professor de árabe que fugiu de Damasco, outros se lembram de seu papel como juiz. Em todos eles, uma vez passada a euforia da salvação, surge a consciência de que agora haverá a tarefa titânica de reconstruir existências inteiras, novas vidas a serem imaginadas em uma Europa que, em muitos casos, tem dificuldades em acolhê-los.
Os resgates
Um total de 182 pessoas foram resgatadas no Mar Mediterrâneo pelo navio humanitário Mare Jonio entre sábado, 24 de agosto, e domingo, 25, durante a 18ª operação de resgate conduzida pela ONG Mediterranea Saving Humans, a primeira organizada em conjunto com a Fundação Migrantes da Conferência Episcopal Italiana. Às 18 horas de sábado, o Mare Jonio avistou e acompanhou um barco de madeira em águas internacionais, a cerca de 35 milhas da costa da Tunísia. Foram distribuídos coletes salva-vidas a todos os passageiros, pois o barco parecia muito instável e corria o risco de afundar. As pessoas foram então resgatadas a bordo de um barco de patrulha da Guarda Costeira e desembarcaram no porto de Lampedusa. Foram resgatados 67 migrantes, todos de origem norte-africana, entre eles 16 mulheres e muitas crianças.
Também no sábado, às 23h30, o navio, seguindo uma informação, avistou outro barco, um bote de borracha sobrecarregado. Depois de levar os ocupantes a bordo, o Mare Jonio os transportou para o navio da Guarda Costeira italiana. Cinquenta pessoas foram resgatadas nesse caso, em sua maioria menores e mulheres, quase todas de nacionalidade etíope. O último resgate do fim de semana foi no domingo, às 6h30, enquanto o navio Mediterranea navegava para o sul. Mais de 60 pessoas foram resgatadas, incluindo sírios, bengaleses e paquistaneses, que foram levados para um local seguro, de acordo com as instruções do governo italiano, no porto siciliano de Pozzallo, próximo a Ragusa.
Construindo uma sociedade de solidariedade
182 pessoas resgatadas em apenas algumas horas, um patrimônio de vidas humanas, mas uma gota em um mar de morte, cerca de mil vítimas no Mediterrâneo central neste 2024, conforme documentado pela Organização Internacional para as Migrações. Números que nos fazem refletir sobre a importância da missão Mediterrâneo-Migrantes, uma peça importante desse imenso trabalho de construção de redes de solidariedade, de construção da sociedade de “fraternidade e amizade social” sonhada pelo Papa Francisco, que tem seu verdadeiro início em terra firme.
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