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No Encontro de Rimini, o testemunho do israelense Rami Elhanan e do palestino Bassam Aramin No Encontro de Rimini, o testemunho do israelense Rami Elhanan e do palestino Bassam Aramin  

Israelenses e palestinos: “o futuro depende do respeito ao próximo"

O Encontro de Rimini termina neste domingo (25/08). Um dos muitos testemunhos que se destacam é o do “The Parents Circle”, a associação à qual pertencem o israelense Rami Elhanan e o palestino Bassam Aramin. Ambos perderam suas filhas e, juntos, estão empenhados em um longo percurso de reconciliação entre os dois povos, que vai além da guerra que estourou entre Israel e o Hamas.

Benedetta Capelli - Rimini

As fotos de Abir e Smadar são projetadas no palco do Meeting de Rimini. São meninas que se assemelham no frescor da idade, ambas com os cabelos presos para trás e olhar profundo. Smadar, de 13 anos, foi morta por um homem-bomba palestino no centro de Jerusalém; Abir, de 10 anos, foi morta a tiros em frente à sua escola por um jovem soldado israelense. Um destino semelhante, trágico, violento, até mesmo inexplicável e, infelizmente, relacionado ao conflito israelense-palestino.

Suas famílias, como tantas outras, choraram e sofreram e hoje são testemunhas da paz e da reconciliação. Seus pais, Rami Elhanan e Bassam Aramin, estão envolvidos há anos na associação “The Parents Circle” (O Círculo dos Pais), fundada em 1995 por iniciativa de Isaac Frankenthal, cujo filho Arik foi sequestrado e morto por grupos terroristas afiliados ao Hamas. O que os uniu no palco do Meeting na sexta-feira, 23 de agosto, foi a apresentação do livro de Colum McCann, autor do romance “Apeirogon”, no qual ele relata o encontro deles, o reconhecimento de suas respectivas tristezas e o compromisso de trabalhar por um futuro diferente. Esse é um dos encontros mais tocantes entre os 140 que animaram, durante uma semana, o encontro Comunhão e Libertação e representa a busca pelo essencial, o tema e o coração de tantas reflexões, palestras e encontros.

Entre o ódio e o perdão

O palestino Bassam Aramin relata o momento em que mudou sua perspectiva. “Eu estava na prisão e queria me entreter assistindo a um filme sobre o Holocausto. Para mim, era uma espécie de vingança, eu queria ver outras pessoas sendo torturadas e mortas, mas, em vez disso, comecei a chorar. Entendi que se tratava de pessoas inocentes: esse filme, depois de 25 anos, me levou a escrever uma dissertação sobre o Holocausto para entender o medo presente na mentalidade judaica”.

Conhecer seu inimigo é começar a entendê-lo: esse é o primeiro passo, diz Bassam, para sentar e conversar. Ser palestino não é fácil, diz ele, especialmente sob a ocupação israelense, e é preciso pôr um fim a isso para não continuar se matando. "O Hamas”, explica Aramin, ”não representa o povo palestino, mas faz parte dos palestinos. A opressão gera resistência e essa situação não muda há décadas, apenas gera mais sofrimento, mais vítimas, e o governo israelense deve reconhecer o direito dos palestinos à autodeterminação”.

As rachaduras da parede

O israelense Rami Elhanan se concentra na fraternidade. “Para expressar o amor”, diz ele, ”não é preciso passar pela dor para entender, não é preciso estar em nosso lugar. Muitos pais, que passaram pelo que nós passamos, buscam vingança. Há pessoas com raiva, presas em um círculo de violência, outras morrem sozinhas, mas nós estamos aqui, somos reais, somos um exemplo concreto”.

Rami relata o espanto de muitas crianças israelenses e palestinas quando ele e Bassam levam seu testemunho de amizade e respeito às escolas. “Elas nos olham com os olhos arregalados, é como se a terra estivesse vibrando e como se estivessem entrando na boca de um vulcão ativo: um rio de sangue corre entre nossas duas nações e, muitas vezes, tudo muda quando elas ouvem que nos chamamos de irmãos, quando eu digo algumas palavras em árabe e Bassam fala em hebraico. É como ver e ouvir as rachaduras de uma parede desmoronando e a luz entrando”.

O respeito é necessário

Rami e Bassam relembram com intensidade o encontro com o Papa Francisco no Vaticano em 27 de março de 2014, contando sua emoção ao ver as fotos de suas meninas. Ao concluir o encontro, o israelense Rami Elhanan diz que não tem motivos para amar o Hamas. “O Hamas matou minha filha”, diz Rami, mas enfatiza que o que aconteceu em 7 de outubro trouxe a questão israelense-palestina de volta à atenção do mundo. “Não conheço a solução, mas sei que nosso futuro juntos depende de uma palavra: respeito!”. Respeito que passa pelo reconhecimento do Estado palestino, diz Rami. “Que haja um fim para a ocupação e que possamos virar a página de nossa história.”

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25 agosto 2024, 11:18