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A fome entre as crianças deslocadas em Gaza (AFP) A fome entre as crianças deslocadas em Gaza (AFP)

Relatório Cesvi 2024: um ano particularmente difícil de guerras e desastres naturais

O relatório da Fundação Cesvi de Cooperação e Desenvolvimento analisa dados de outros institutos: na Ucrânia, há três mortes para cada recém-nascido; em Gaza, o maior número de vítimas civis

Federico Piana – Vatican News

À medida que se aproxima o fim de 2024, as lágrimas do mundo não são mais suficientes. Chorar por conflitos que causam destruição e morte e por desastres causados por mudanças climáticas que arrasam até mesmo cidades inteiras, tornou-se uma rotina triste e macabra. Que parece não ter fim. Haveria lágrimas para derramar, e muitas delas, por cada dado de um relatório - produzido pela Fundação de Cooperação e Desenvolvimento (Cesvi), comparando dados de outras organizações e instituições internacionais - que resume um Annus horribilis talvez sem precedentes no passado recente.

Números assustadores

Cada número impressiona, como o que mostra quantos homens, mulheres e crianças perderam a vida por causa das guerras ainda em andamento e pela transformação da natureza muitas vezes violentada e maltratada: mais de 200 mil, quase o mesmo número de toda a população de Florença. A isso se somam os 117 milhões de pessoas deslocadas: para dar uma ideia plástica e imediata, é como se, mais ou menos, os habitantes da Itália e da França juntos começassem a vagar sem rumo depois de perder tudo por causa de bombas ou da seca extrema causada pela exploração insensata do planeta.

Cada vez mais conflitos

É desanimador o número de focos de conflitos bélicos que praticamente não poupam nenhum continente: mais de 56, um dos números mais altos desde a Segunda Guerra Mundial. Também não há mais lágrimas para lamentar as vítimas de desastres naturais, terremotos e tsunamis principalmente, que este ano atingiram o notável número de 100, uma média de um a cada três dias. Os agentes humanitários sabem algo sobre isso, pois em 2024 ajudaram pelo menos 116 milhões de pessoas, colocando suas vidas em perigo. “As pessoas que morreram em campo foram mais de 280, mais do que o dobro do número de cinco anos atrás e quatro vezes o número de vítimas registradas há vinte anos”, revela Stefano Piziali, diretor geral da Cesvi.

Massacre de inocentes

Um massacre que, de acordo com as estatísticas, ocorreu principalmente em Gaza, onde 178 voluntários perderam suas vidas, enquanto no Sudão e na Ucrânia, 36 foram mortos. “É uma violência inconcebível”, admite Piziali, “que contraria o direito humanitário internacional, que deve proteger os trabalhadores envolvidos em zonas de conflito”. Situações extremamente perigosas podem ser encontradas na Ucrânia, onde as áreas próximas à linha de frente estão sujeitas a ataques contínuos. A população civil, bem como os agentes humanitários, são obrigados a passar longas horas em bunkers para se protegerem dos bombardeios”.

Ajudas em dificuldade

A crise que afeta as organizações humanitárias, detalha o diretor-geral da Fundação Cesvi, também está paralisando o fornecimento de produtos de primeira necessidade: “Em muitas situações, como em Gaza, onde a Cesvi está presente desde 1994, o acesso às ajudas em si está seriamente comprometido: os corredores humanitários muitas vezes permanecem bloqueados e os comboios não conseguem chegar às populações em dificuldade. Os agentes locais também vivem em uma condição de dupla vulnerabilidade, sendo eles mesmos deslocados, mas também responsáveis pelas operações de ajuda”.

Enormes áreas de conflito

Desde 2021, as áreas de conflito aumentaram em 65%. Se quiséssemos calcular a área de todos os lugares onde essa terceira guerra mundial em pedaços, frequentemente evocada pelo Papa Francisco, está ocorrendo, teríamos que dobrar o tamanho da Índia. Uma enormidade.

Trágico primeiro lugar

Quase óbvio, mas trágico, é o primeiro lugar da Ucrânia no ranking das nações mais violentas em 2024: nos primeiros seis meses do ano, para cada recém-nascido três pessoas morreram, enquanto o número total de mortos ultrapassa 37 mil. “As crianças”, afirma ainda Piziali, ”estão entre as primeiras vítimas, 3 milhões são carentes, 1,5 milhão sofrem de problemas de saúde mental. Estima-se também que as crianças das áreas próximas à frente de batalha passaram um número de horas nos bunkers equivalente a sete meses de suas vidas”.

Carnificina

A área com o maior número de vítimas civis é Gaza. Desde janeiro, foram registrados 35 mil mortos e mais de 100 mil feridos. O diretor da Fundação Cesvi também destaca que “em 14 meses, mais de 70 mil edifícios foram destruídos e há quase 2 milhões de pessoas deslocadas na Faixa. O abastecimento de água continua limitado. No momento, estamos instalando cisternas para água potável e banheiros para os alunos e funcionários dos centros educacionais, os únicos lugares que restam para as crianças e os jovens se reunirem”. De fato: as lágrimas do mundo acabaram.

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28 dezembro 2024, 15:05