Comentário: Agir com amor
Cidade do Vaticano
Nos próximos seis meses, em quatro países africanos cerca de 20 milhões de pessoas podem morrer de fome se a comunidade internacional não se mover. Uma afirmação feita pelo Diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, que chega como um soco no estômago. Os países são Iêmen, Nigéria, Somália e Sudão do Sul. Uma declaração feita nesta semana aqui na sede da FAO em Roma.
O tema da fome fora já tratado no último dia 16 de outubro pelo Papa Francisco quando ele visitou a FAO por ocasião do Dia Mundial da Alimentação. No seu encontro com líderes mundiais recordou que a realidade atual exige uma maior responsabilidade em todos os níveis, não só para garantir a produção necessária ou a distribuição equitativa dos frutos da terra, mas, sobretudo para garantir o direito de todo ser humano de alimentar-se segundo as próprias necessidades.
Segundo Francisco, diante de tal objetivo, o que está em jogo é a credibilidade de todo o sistema internacional.
É preciso, portanto, encontrar urgentemente novas maneiras de transformar as possibilidades que dispomos numa garantia que permita a cada pessoa encarar o futuro com confiança, e não apenas com alguma ilusão.
Falando de fome e migração o Papa afirmou ainda que a relação entre os dois, ou seja, entre fome e migração só pode ser enfrentada se formos à raiz do problema. A este respeito, os estudos realizados pelas Nações Unidas, como tantos outros realizados por organizações da sociedade civil, concordam que existem dois obstáculos a serem superados: conflitos e mudanças climáticas.
“Como os conflitos podem ser superados? O direito internacional nos indica os meios para preveni-los ou resolvê-los rapidamente, evitando que se prolonguem e produzam fome e destruição do tecido social. Pensemos nas populações martirizadas por guerras que duram décadas e que poderiam ter sido evitadas, propagando efeitos desastrosos e cruéis como a insegurança alimentar e o deslocamento forçado de pessoas.”
Para Francisco, são necessários boa vontade e diálogo para frear os conflitos. Quanto às mudanças climáticas, vemos suas consequências todos os dias. Somos chamados a propor uma mudança nos estilos de vida, no uso dos recursos, nos critérios de produção, mesmo no consumo, que em termos de alimentos apresenta um aumento de perdas e de desperdício. Não podemos nos conformar em dizer ‘outro o fará’.
Francisco afirmou que diante desta situação podemos e devemos mudar o rumo.
O Papa fez uma pergunta, a si mesmo e também aos presentes: “Seria exagerado introduzir na linguagem da cooperação internacional a categoria do amor, conjugada como gratuidade, igualdade de tratamento, solidariedade, cultura do dom, fraternidade e misericórdia? Essas palavras efetivamente expressam o conteúdo prático do termo “humanitário”, tão usado na atividade internacional.
É necessário que a diplomacia e as instituições multilaterais alimentem e organizem essa capacidade de amar, porque é o caminho principal que garante, não só a segurança alimentar, mas também a segurança humana em seu aspecto global.
Amar significa contribuir para que cada país aumente a produção e alcance a autossuficiência alimentar.
E o apelo de Francisco: “vamos ouvir o grito de tantos nossos irmãos marginalizados e excluídos: “Tenho fome, sou estrangeiro, estou nu, doente, confinado em um campo de refugiados”. É um pedido de justiça, não uma súplica ou um chamado de emergência.
Um discurso corajoso e original de Francisco que falou de amor como parte integrante das relações internacionais e um pedido para acelerar a vontade de responder concretamente ao drama da fome. Responder com um agir, um agir com amor, um agir que dá esperança.
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