Comentário: Um grito contra a fome
Silvonei José - Cidade do Vaticano
No início desta semana o Papa Francisco voltou a levantar a sua voz pelos últimos da terra, mais precisamente pelos povos da África ameaçados pela fome. Um grito, um enésimo apelo à solidariedade e à cooperação em prol dos países africanos.
O novo chamado foi feito nas frases de uma mensagem enviada pelo Secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, em nome de Francisco por ocasião do encontro de cúpula da União Africana, que se realizou em Addis Abeba, na Etiópia. O evento foi organizado com o apoio da Fao (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
Os jornais, as televisões, a internet nos trazem diariamente notícias de um drama de milhões de pessoas que se consome na mais total indiferença. Seres humanos que perambulam de um lado para o outro de fronteiras físicas na tentativa de ultrapassar a linha imaginável da extrema pobreza. Cruzam fronteiras para poder conservar a esperança de ter um pedação de pão e um copo de água potável. O que pode para nós parecer normalidade, para milhões de pessoas é desejo cotidiano que nem sempre se concretiza.
No mundo há abundância de alimentos: segundo a FAO se produz hoje comida para 12 bilhões de pessoas. Nós somos um pouco mais de 7 bilhões em todo o planeta. Por que então esse abismo entre os que têm e os que não têm alimentos, já que uma em cada sete pessoas no mundo tem dificuldades em se alimentar dignamente?
O Olhar do Papa Francisco vai nesta direção pois ele está consciente da situação sempre mais difícil na África. Uma África que necessita de uma renovada atenção e de uma cooperação em nome de povos que, por vários motivos, “não conseguem satisfazer as próprias necessidades fundamentais”. A dignidade de toda pessoa humana requer justamente superar as barreiras que impedem alcançar este objetivo, através da determinação de todos, “em especial respeitando os princípios de justiça distributiva para dividir os recursos através de estratégias e projetos aptos”.
Princípios de justiça distributiva para dividir recursos, esse o caminho para combater a chaga da fome e dar esperança a milhões de homens, mulheres e crianças que todas as noites vão dormir com fome, mas também a com a esperança de que o novo dia trará um novo alento para as suas vidas.
A situação de fome na África não é certamente novidade. O continente em algumas de suas áreas vive uma situação de insegurança alimentar há décadas. A mídia nos traz diariamente imagens e testemunhos do impacto dramático da fome. O que fazer então?
A falta de alimentos na África e em outros lugares do planeta, certamente está ligada ao problema do clima, das guerras, das lutas de poder, mas também à concentração da produção, distribuição e acesso a eles. A fome é também um problema político e uma questão de justiça social e políticas de redistribuição. Para erradicar o problema da fome na África, e no mundo são necessárias decisões políticas que coloquem no seu centro as pessoas, as suas necessidades, aqueles que trabalham a terra.
O Papa Francisco faz votos que se mantenha a importância da produção alimentar e da cooperação entre os países, inclusive de outros continentes, e organizações internacionais. Cooperação e partilha, uma estrada a ser percorrida para dar dignidade a milhões de pessoas. A fome não é uma fatalidade inevitável.
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