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Papa Francisco: prefácio do livro "O Evangelho face a face" sobre o Pe. Pernet

Graças a este livro, ágil, mas cheio de histórias de vida, é possível conhecer Pe. Stefano Pernet, declarado venerável pelo meu predecessor São João Paulo II, em 1983.

Cidade do Vaticano

O jornal italiano “La Stampa” publicou o prefácio do Papa Francisco no livro “O Evangelho face a face” da jornalista Paola Bergamini que conta a vida do Pe. Stefano Pernet, fundador da Congregação das Pequenas Irmãs da Assunção.

Na França pós-revolucionária em meados do século XIX, Pe. Pernet dedicou sua vida ao apoio às famílias mais pobres nos bairros mais degradados de Paris.

O livro estará nas livrarias a partir do próximo dia 6, e será apresentado na próxima quinta-feira (08/03), na feira “Tempo de livros”, em Milão.

Segue, na íntegra, o prefácio do Papa Francisco.

Nasci e antes de completar um dia, uma jovem noviça das Pequenas Irmãs da Assunção, fundada pelo Pe. Stefano Pernet, Antônia, chegou à nossa casa, no bairro Flores, em Buenos Aires, e me pegou no colo. Mantive o contato com essa religiosa durante toda a sua vida, até quando foi para o Céu alguns anos atrás.

Tenho várias recordações ligadas a essas religiosas que como anjos silenciosos nas casas de quem precisa, trabalham com paciência, auxiliam, ajudam e, depois, silenciosamente, voltam para o convento. Seguem a sua regra, rezam e depois saem para as casas de quem se encontra em dificuldade, fazendo as enfermeiras e governantes, acompanhando as crianças à escola e preparando o que comer para elas.

Meu pai tinha vários colegas de trabalho que voltaram para a Argentina depois da Guerra Civil Espanhola. Eram anticlericais. Um dia, um deles ficou doente. Pegou uma infecção. Aquele homem tinha o corpo coberto de chagas, sofria muito. Tinha três filhos e a mulher tinha de trabalhar. Portanto, ficava fora de casa muitas horas por dia. Quando souberam, as Pequenas Irmãs da Assunção mandaram uma delas à casa dele. Como se tratava de um caso difícil, a superiora foi lá. Sabia-se que o colega de meu pai era um anticlerical convicto e não olhava com bons olhos nenhuma túnica.

A religiosa disse: “Eu vou!” Vocês podem imaginar o que aquele homem disse à religiosa: os piores palavrões. Mas ela estava tranquila, fazia o seu trabalho, cuidava das feridas, levava as crianças para a escola, preparava o almoço e limpava a casa. Depois de mais de um mês, aquele homem ficou curado e voltou à vida normal. Voltou a trabalhar. Alguns dias depois, saindo do trabalho junto com outros três ou quatro colegas anticlericais como ele, passavam na rua duas religiosas. Um deles disse palavras feias contra elas. Então, o colega de trabalho do meu pai deu-lhe um soco e disse: «Sobre os sacerdotes e sobre Deus, diga o que quiser, mas contra Nossa Senhora e contra as religiosas não!» Pensem? Ele era ateu, um anticlerical, e mesmo assim defendeu as religiosas. Por que o fez? Simplesmente porque tinha conhecido o rosto materno da Igreja, tinha visto o sorriso de Nossa Senhora no rosto daquela superiora, aquela religiosa paciente que ia curá-lo não obstante as suas maldições. Aquela mulher consagrada que curava as suas chagas, fazia a empregada em sua casa, levava as crianças à escola e depois ia buscá-las.”

Padre Stefano Pernet 

Graças a este livro, ágil, mas cheio de histórias de vida, é possível conhecer Pe. Stefano Pernet, declarado venerável pelo meu predecessor São João Paulo II, em 1983. É uma história composta de rostos, dedicação, gestos de caridade e gratuidade pura. Uma história que não perdeu o seu frescor e a sua atualidade. Também hoje, vivemos num tempo em que a evangelização passa através do testemunho da proximidade e da caridade, através do testemunho do rosto misericordioso de Deus. Evangelizar nos leva também a apoiar a nossa face na face de quem sofre, no corpo e no espírito.

Com o seu trabalho escondido e silencioso, essas mulheres consagradas seguiram e seguem a inspiração de seu fundador, que em 7 de março de 1867, no mosteiro de Auteuil, disse: «Os pobres, quando ficam doentes, são abandonados completamente, ninguém os ajuda. Para este fim, nos oferecemos ao Senhor para que os pobres tenham uma religiosa na cabeceira que preste assistência material. Mas isso não basta para as pequenas irmãs. Vejam, nos tempos em que vivemos, o homem do povo, os trabalhadores, os homens e as mulheres, muitos vezes são arruinados pela má companhia, pelas más leituras e depois se afastam de Deus. Nesta situação, o sacerdote, mesmo quando quer levar alívio espiritual a quem está doente, é visto como um espantalho, um mensageiro da morte. Por outro lado, o que pode fazer a não ser confortar com as palavras? Mas eles não querem ouvir. Ao invés, as pequenas religiosas não têm medo. Com sua maneira educada de agir são olhadas com gratidão, confiam nelas. Através dos simples gestos de limpeza e medicação as religiosas pregam Jesus Cristo melhor do que qualquer sermão. A sua presença é suficiente. Com paciência, levam a oração e os costumes cristãos de volta a essas famílias ».

Servindo, com paciência, e confiando somente no Senhor, pode acontecer que os corações das pessoas, até mesmo as mais distantes, sejam tocados.

Como Maria, nossa Mãe, nos ensina: a única força capaz de conquistar o coração dos homens é a ternura de Deus. O que encanta e atrai, que abre e desfaz as correntes, não é a força dos instrumentos ou a dureza da lei, mas a fragilidade onipotente do amor divino: a força irresistível de sua doçura e a promessa irreversível de sua misericórdia. Aquela doçura e misericórdia que o Pe. Pernet testemunhou ao longo de sua vida e que as suas Pequenas Irmãs em muitos países do mundo continuam a reverberar.

 

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06 março 2018, 12:36