Papa Francisco celebra os 60 anos de vida religiosa
Griselda Mutual – Cidade do Vaticano
Em 13 de março de 2018 completam-se cinco anos da eleição do primeiro Papa jesuíta, do primeiro Papa proveniente da América Latina, do primeiro pontífice que não é nativo da Europa, Oriente Médio ou África do Norte.
Há sessenta anos, Jorge Mario Bergoglio ingressava na Companhia de Jesus. Era o dia 11 de março de 1958.
Como era a Companhia nos jovens anos de Bergoglio? O padre Arturo Sosa Abascal, eleito em 2016 como o XXXI Superior Geral dos Jesuítas, respondeu a esta e outras perguntas a nossa colega Griselda Mutual do Vatican News:
É uma pergunta difícil para mim, porque eu era uma criança dez anos de idade na época, porém eu estava estudando em um Colégio da Companhia de Jesus em Caracas, Venezuela. Era um momento de esperança pelo Concílio: o Concílio estava em preparação, era a etapa prévia. Era uma Companhia de Jesus no estilo como foi formada com a restauração no século XIX. No entanto, surgiram alguns elementos importantes que logo florescem no Concílio. Em particular, na Europa, surge uma profunda reflexão teológica, com outra perspectiva, mais aberta às mudanças que foram observadas no meio ambiente. Na América Latina, começava-se a falar sobre a criação de centros de ação e pesquisa social. O padre Janssens convidou todas as províncias latino-americanas a criarem centros de reflexão, pesquisa e ação social, e enviou muitos jovens jesuítas ao estudo das ciências sociais. Começa a abertura ao que chamamos lugar da inculturação na Índia, na África, na Ásia. A Companhia passa a ter interesse em lançar raízes em cada cultura. É um momento em que por fora não são vistas muitas mudanças, mas há sim esforços para encontrar uma maneira de enfrentar um mundo cada vez mais complicado. Esse foi a etapa do padre Bergoglio. Foi ordenado durante o Concílio Vaticano II com a eleição do padre Arrupe. Sua vida apostólica começa precisamente quando tudo isso aparece e dá frutos. Na América Latina, o Concílio foi uma explosão de esperança e a Igreja sentiu um vento forte que levou a procurar novos caminhos para viver a vida cristã e levou a estar mais comprometidos com a sorte dos povos. Era um período em que a América Latina estava buscando novas formas de desenvolvimento; era um momento muito entusiasmante para os jovens jesuítas da época e para aqueles os que estavam ao redor da Companhia de Jesus naquele momento.
De mais de 35 mil membros nos anos sessenta, para cerca da metade em nossos dias. Padre Arturo Sosa Abascal, por que?
É uma pergunta também difícil, porque não se pode dar uma "única" resposta. Somente dizer que a Companhia de Jesus desde suas origens, não está preocupada com os números, mas com a qualidade. Oxalá fossem muitos, mas a mentalidade não é a de buscar pessoas. Estamos preocupados em manter a qualidade dos jesuítas que decidem permanecer na SI. A Companhia nasceu com dez, depois cresceu, foi suprimida, então cresceu novamente, tudo em circunstâncias muito diferentes. Além disso, os crescimentos e reduções foram geograficamente muito desiguais, não é o mesmo fenômeno em todos os lugares. Hoje, certamente, somos menos e seremos menos nos próximos anos por razões puramente demográficas. Porém essa demografia também indica outras coisas: por exemplo, a diminuição muito forte é na Europa e nos EUA e um crescimento muito forte na África, no Sul da Ásia e no Pacífico. Isso ocorre porque a Europa experimentou um processo muito complexo de secularização, o que tem um efeito, e viveu também um processo demográfico muito diferente, ou seja, hoje há muito menos jovens na Europa do que há cinquenta anos atrás, o que faz com que mesmo as universidades consideram se podem continuar ou não. O mesmo pode ser dito dos EUA. Em contrapartida, a demografia na América Latina ou na África ou na Ásia é distinta: são predominantemente jovens continentes, com a diferença de que os católicos são minorias, ou seja, são muitos elementos. Por outro lado, eu diria que se tomássemos as obras apostólicas que a Companhia de Jesus tinha sob sua responsabilidade quando havia 35 mil jesuítas, e quantas temos agora, elas são mais agora do que antes, porque aprendemos a colaborar. Aprendemos que não podemos fazer as coisas sozinhos: não podemos e não queremos fazê-las sozinhas; e aprendemos que a Companhia vive porque é capaz de gerar outras dinâmicas e que é possível, em vez de ter um colégio com trinta ou quarenta jesuítas, ter uma rede com vinte colégios e você tem os mesmos 30 jesuítas, com muitas outras pessoas que participam na mesma missão: é outro estilo. Por isso também repito que esta é a Companhia de Jesus, isto é, aquele que vai cuidar disso é o Senhor Jesus.
Papa Francisco como Sumo Pontífice, cumpriu as expectativas da Companhia?
Não cabe a nós julgar um Papa, eu diria que deveria ser perguntado ao Papa Francisco se a Companhia correspondeu às expectativas do Papa. A Companhia de Jesus nasceu para se colocar a serviço da Igreja através do que o Papa considera que são os pontos nos quais a Companhia pode ajudar melhor com a missão da Igreja. Certamente, quisemos fazer um esforço para apoiar este Papa como fizemos com os anteriores, desde o Concílio Vaticano II que é esse ponto de referência tão importante para nós, porque com o Papa Paulo VI houve uma colaboração muito estreita. O Papa Paulo VI pediu especificamente à Companhia para trabalhar no tema da secularização, da expansão cultural e no enraizamento em outras culturas. Do mesmo modo, no longo pontificado de João Paulo II, a Companhia estava tentando ajudar no que fosse possível àquela que era essa visão mais missionária que João Paulo II queria ter na Igreja e, é claro, com o Papa Francisco, nos sentimos chamados a apoiar essa linha com a qual ele insistiu tanto, que está muito o coração dos jesuítas, que é tema do discernimento. Ele insistiu que a Igreja deve ser capaz de discernir como Deus atua na história e como nós podemos acompanhar esse processo. Nos disse na Congregação Geral, oxalá que pudéssemos contribuir para que a Igreja seja uma Igreja com maior capacidade de discernimento, mais sinodal, mais capaz de buscar as orientações de hoje, com maior integração da Igreja nesse processo.
No que se torna evidente que estamos diante de um Papa jesuíta?
Este tema é fundamental: acredito que o Papa se caracterize por essa liberdade que torna possível o discernimento, que são elementos medulares da espiritualidade inaciana que nós jesuítas buscamos viver. Sua insistência na oração, em estar realmente próximos da pessoa de Jesus, que não é apenas dos jesuítas, mas também de todos os cristãos, porém existe um modo muito específico de fazê-lo que marca a Companhia em sua formação. Também sua extraordinária sensibilidade social: o Papa tem uma sensibilidade social que sai pelos poros, algo que foi desenvolvido pela Companhia desde os primórdios, especialmente após o Concílio, com esse vínculo entre a promoção da fé e a luta por justiça social, o diálogo com todas as culturas, a abertura ao mundo. O Papa se caracteriza por ser uma das poucas figuras mundiais que realmente tem uma consciência do mundo em um sentido muito amplo e que leva em consideração acima de tudo as pessoas e povos que mais sofrem e o sofrimento do planeta. Eu acredito que ao ter tomado essa linha - que ninguém gosta - em defesa da natureza e da biodiversidade do planeta, mostra uma pessoa que esteve no que a Companhia tentou fazer nos últimos cinquenta anos.
O Santo Padre em suas viagens apostólicas geralmente reserva um espaço para conhecer seus irmãos que são membros da Companhia de Jesus: ainda existe um vínculo especial hoje?
Esta entrevista é por ocasião de lembrar os sessenta anos de sua entrada no noviciado e isso cria um vínculo que, mesmo que ele tenha bastante tempo como bispo e agora como Papa, não se perde. Esse ar familiar está lá e é bom para todos. Para ele, nas vezes que o encontrei com grupos de jesuítas, fica evidente que agrada a ele sentir-se no meio dos irmãos jesuítas. E para nós também é uma benção ter um irmão que está cumprindo este importante papel na Igreja, o que não é nada fácil neste momento da história, e muito menos como o está enfrentando Papa Francisco enfrentou. É uma maneira de reconhecer que existe um vínculo e uma maneira de dizer-nos mutuamente que contamos uns com os outros. Usufruímos, depois, quando alguém se reúne com a família, o que é sempre muito bom.
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