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Papa aos jovens jesuítas: estar ao lado dos desempregados para evitar suicídios

Na última quarta-feira (01/08) Papa Francisco recebeu no Vaticano os jovens jesuítas que participam de um encontro de formação que se realiza em Roma. A pedido dos jovens, falou sobre o desemprego e o papel da Companhia de Jesus nos dias de hoje.

Cidade do Vaticano

Em um mundo onde a finança “abstrata” e “cruel”, está no centro das atenções de todos, devemos colocar em primeiro lugar “o homem e a mulher”, porque “o grande pecado contra a dignidade da pessoa” é exatamente o fato de ter tirado o homem e a mulher do “lugar central”. São palavras do Papa Francisco aos participantes do encontro “European Jesuits in formation” na manhã desta quarta-feira, 1º de agosto, antes da Audiência Geral na Sala Paulo VI, no Vaticano. Estavam presentes o presidente da Conferência dos Provinciais Europeus, Franck Janin, e os delegados da Formação Europeia e da Província Euro-Mediterrânea, Alessandro Manaresi e Angelo Schettini, e os jovens participantes. O encontro formativo que se realiza anulamente em Roma teve início no dia 28 de julho e se encerra em 20 de agosto.

Trabalho é dignidade

Um dos jovens presentes pediu ao Papa que tipo de comunicação e ajuda pode-se oferecer aos jovens desempregados, que não têm trabalho e que possa dar-lhes “dignidade”. Francisco – com a ajuda de um intérprete para a tradução em inglês – refletiu sobre o tema afirmando que talvez “seja um dos problemas mais agudos e dolorosos para os jovens, porque atinge diretamente o coração da pessoa”: com o desemprego, não podendo levar o pão para casa – reiterou o Pontífice – “não há dignidade”.

“Há uma reestruturação da economia mundial, onde a economia, que é concreta, deixa lugar à finança, que é abstrata. No centro, há a finança, e a finança é cruel: não é concreta, é abstrata. E neste caso aposta-se em algo que não é concreto, mas é líquido ou gasoso, tendo como ponto central o mundo das finanças. Todavia ali seria o lugar do homem e da mulher. Hoje isto, acredito, é o grande pecado contra a dignidade da pessoa: tirar a pessoa do ponto central.”

Recorrer ao suicídio

As finanças, acrescentou, “assemelham-se em escala mundial às correntes de Santo Antônio”: com o deslocamento da pessoa do ponto central e dando evidência às finanças que são “gasosas”, gera-se então a “falta de trabalho”.

“O número de suicídios de jovens está em aumento, mas os governos – não todos –, não publicam os números exatos: publicam até um certo ponto, porque é vergonhoso. E por que estes jovens se enforcam e se suicidam? Em quase todos os casos a principal razão é a falta de trabalho. Não conseguem sentir-se úteis e optam pela morte.”

A alienação com as dependências

Para os jovens desempregados há também uma “alienação intermediária” a das dependências: hoje as dependências – explicou – “é um modo de fugir da falta de dignidade”. Pensem que por detrás de cada dose de cocaína – pensemos –, há uma grande indústria mundial que possibilita isso, e provavelmente – não tenho certeza –, é onde circula a maior quantidade de dinheiro no mundo.

A deriva terrorista

Mas segundo o Papa, o quadro ainda não está completo: há também os que para ganharem mais escolhem “como projeto de vida” o recrutamento “ao Isis”.

“Suicídios, dependências e participação em guerrilhas são as três opções para os jovens de hoje quando não têm trabalho. Isto é importante: entender o problema dos jovens, fazer com que o jovem compreenda que eu o entendo, e isto significa comunicar com ele. Em seguida procurar resolver este problema. O problema tem solução, mas precisa–se encontrar o modo certo, há necessidade da palavra profética, há necessidade da criatividade humana, fazer muitas coisas. Sujar as mãos…”

Paulo VI e padre Arrupe

Em seguida o Papa Francisco exortou os co-irmãos a uma “corajosa criatividade”, buscando “o modo de encontrar uma solução” para esta emergência. Enfim deteve-se sobre a “originalidade da Companhia de Jesus: unidade na grande diversidade”. Recordou que “o discurso mais bonito” feito por um Papa à Companhia de Jesus, foi o do Beato Paulo VI em 1974, quando – convidando à “coragem” os padres chamados à XXXII Congregação Geral – disse que “onde há troca de ideias, de problemas, de desafios, há um Jesuíta”. O pontífice, ao recordar a memória litúrgica de São Pedro Favre, companheiro de Santo Inácio de Loyola, referiu-se ao último discurso do padre Pedro Arrupe, 28º Superior Geral da Companhia de Jesus, do qual a diocese de Roma abriu recentemente causa de beatificação.

“Estes dois discursos  - continuou Francisco - emolduram o que a Companhia deve fazer: coragem, ir às periferias, aos encontros para trocar ideias, conhecer problemas, missão… o testamento do padre Arrupe está aqui, o “canto do cisne”, a oração. É preciso coragem para ser Jesuíta. Não significa que um Jesuíta deva ser inconsciente, ou imprudente. Mas deve ter coragem. A coragem é uma graça de Deus, a parresia paulina… São necessãrios “joelhos fortes” para a oração. Acredito que com estes dois discursos vocês terão inspiração para ir onde o Espírito Santo indicar, no coração.”

O Vatican News conversou com o Padre Vasco Teixeira, jesuíta da Cidade do Porto, Portugal.

Ouça a reportagem
Papa fala aos estudantes jesuítas!

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02 agosto 2018, 10:07