Lituânia: a oração do Papa em memória das vítimas da ocupação soviética
Cidade do Vaticano
A oração no Museu das Ocupações e Lutas pela Liberdade, em Vilnius, conclui a visita de dois dias do Papa Francisco à Lituânia, primeira etapa de sua viagem aos países bálticos.
Vítimas do Gueto
Após deixar a Catedral de Kaunas, onde se encontrou com os religiosos, o Pontífice voltou a Vilnius e, a caminho do Museu, fez uma visita ao Monumento pelas Vítimas do Gueto, onde se deteve em oração silenciosa.
Dos cerca de 95 mil residentes judeus (quase a metade da população) e as 110 sinagogas ativas antes da ocupação nazista, hoje existem quatro mil judeus e somente duas sinagogas. O dia 23 de Setembro de 1943, quando foi fechado o Gueto de Vilnius, foi declarado o Dia do genocídio hebraico na Lituânia.
Escritório da KGB
Do Monumento, o Pontífice prosseguiu até o Museu das Ocupações. O local é o símbolo da dominação soviética, e na época foi sede dos escritórios da KGB e, sobretudo, no sótão, das prisões em que eram torturados e detidos os opositores do regime.
Precedentemente, foi a Gestapo a ocupar o edifício entre 1941 e 1944 com finalidades análogas.
Segundo estimativas, mais de mil pessoas perderam a vida no prédio entre 1944 e os anos 60.
Para recordar esta parte da história, em 1992 o edifício foi reformado para se tornar um Museu em memória das vítimas. Ali dentro, é possível visitar cerca de 20 celas, das quais as duas de isolamento são as mais impressionantes, com 60 cm quadrados cada uma.
Oração
O Papa visitou as celas 9 e 11, onde acendeu uma vela, e a sala das execuções. Além das autoridades, o Pontífice foi acolhido por um bispo católico da Companhia de Jesus, sobrevivente da perseguição e por um descendente de deportados. No pátio externo, Francisco depositou flores e pronunciou a seguinte oração:
«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?» (Mt 27, 46).
O vosso grito, Senhor, não pára de ressoar, ecoando dentro destas paredes que recordam os sofrimentos vividos por tantos filhos deste povo. Lituanos e originários de diferentes nações sofreram na sua carne o delírio de omnipotência daqueles que tudo pretendiam controlar.
No vosso grito, Senhor, ecoa o grito do inocente que se une à vossa voz e se eleva para o céu. É a Sexta-feira Santa do sofrimento e da amargura, da desolação e da impotência, da crueldade e do absurdo que viveu este povo lituano face à ambição desenfreada que endurece e cega o coração.
Neste lugar da memória, nós Vos imploramos, Senhor, que o vosso grito nos mantenha despertos. Que o vosso grito, Senhor, nos liberte da doença espiritual que sempre nos tenta como povo: esquecer-nos dos nossos pais, de quanto viveram e sofreram.
Que, no vosso grito e na vida dos nossos pais que tanto sofreram, possamos encontrar a coragem de nos comprometermos, com determinação, no presente e no futuro; que aquele grito seja estímulo para não nos adequarmos às modas do momento, aos slogans simplificadores e a toda a tentativa de reduzir e tirar a qualquer pessoa a dignidade de que Vós a revestistes.
Senhor, que a Lituânia seja farol de esperança; seja terra da memória operosa, que renova os compromissos contra toda a injustiça. Que promova esforços criativos na defesa dos direitos de todas as pessoas, especialmente das mais indefesas e vulneráveis. E que seja mestra na reconciliação e harmonização das diferenças.
Senhor, não permitais que sejamos surdos ao grito de todos aqueles que hoje continuam a erguer a voz para o céu.
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