Papa despede-se do Panamá: é preciso multiplicar a esperança
Jackson Erpen – Cidade do Panamá
No final da tarde deste domingo, 27, o Papa deixou o Panamá para voltar ao Vaticano, concluindo mais uma Viagem Apostólica internacional de seu Pontificado. E deixou o Panamá com saudades. Este pequeno país da América Central acolheu de braços abertos Francisco e os milhares de peregrinos de todas as partes do mundo que vieram para a Jornada Mundial da Juventude. Uma visita histórica e inesquecível, comentavam os panamenhos, pois - perguntavam-se – quando e por que um Papa viria ao Panamá?, mesmo ainda estando na memória a visita de São João Paulo II em março de 1985.
Realmente, um pequeno país pelas dimensões, com pouco mais de 4 milhões de habitantes, canal e ponte entre a América do Sul e o restante da América. Daqui partiu a evangelização para o restante do continente e aqui foi ereta a primeira Diocese em “terra firme”.
Pela localização, a JMJ possibilitou uma maior presença de jovens vindos da Nicarágua, Costa Rica, El Salvador, Venezuela, Colômbia, que vivem em muitos casos com desafios semelhantes. Francisco veio como pai e pastor, trazer um alento e um encorajamento especialmente à juventude deste lado do Oceano.
Uma palavra que bem poderia resumir sua viagem é “esperança”, uma esperança levada por suas palavras e gestos ao que parecia perdido, a esperança ao que parece não ter saída. O fez, ao visitar o centro de recuperação de menores onde também ouviu confissões e fez até mesmo correr lágrimas de jornalistas. O fez novamente ao visitar o centro que acolhe doentes de aids e que não recebem apoio de suas famílias e nem tem condições de pagar algum tratamento. Não julgou, não repreendeu, simplesmente amou.
Em continuidade ao Sínodo dos bispos de outubro, esta Jornada tinha um forte chamado vocacional, como diz o próprio lema: “Eis-me aqui, faça-se em mim segundo a tua vontade”. E “dizer sim ao Senhor é ter a coragem de abraçar a vida como vem, com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas contradições e insignificâncias, abraçá-la com amor”, disse ao jovens na Vigília. “Damos também provas de que se abraça a vida, quando acolhemos tudo o que não é perfeito, puro ou destilado, mas lá por isso não menos digno de amor”, completou.
Nos dez pronunciamentos – incluindo três homilias mais o Angelus – Francisco falou de imigração, de pecados da Igreja, de dor, de miséria, de crianças não nascidas, de violência contra a mulher, de corrupção: “é preciso ter a ousadia de criar uma cultura de maior transparência entre governos, setor privado e população.”
O Papa é conhecedor das dificuldades enfrentadas pelos jovens. “São muitos os que dolorosamente foram seduzidos com respostas imediatas que hipotecam a vida”, afirmou. Mas também sabe do grande potencial de bem que há no ser humano e é este potencial que busca despertar, para que num mundo nem sempre tão luminoso, possa brilhar e se propagar esta luz, capaz de contrastar a indiferença, o egoísmo e a mentira: os peregrinos da JMJ, “com seus gestos e atitudes, com seu olhar, seus desejos e especialmente com sua sensibilidade, desmentem e desautorizam todos os discursos que se concentram e se empenham em semear divisão, em excluir ou expulsar ‘os que não são como nós’.”
Usando expressões para chegar mais facilmente a seus interlocutores, Francisco disse que Maria foi a maior ‘influencer’ da história, mesmo não usando redes sociais.
Na mensagem antes da jornada, já havia dito que nossa vida só encontra sentido no serviço a Deus e ao próximo. E ao agradecer aos voluntários antes de partir, disse que eles quiseram “dar o melhor de si para tornar possível o milagre da multiplicação, não só dos pães, mas da esperança. Precisamos multiplicar a esperança.”
JMJ é peregrinação, é comunhão, é partilha, uma marca que fica no coração. A próxima, será em Portugal 2022. Que até lá nós, e os milhares de jovens que aqui estiveram, possam multiplicar a esperança.
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