Papa: educar exige amor, confrontar-se com a realidade
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
Neste sábado, o Papa Francisco concluiu sua série de audiências recebendo na Sala Paulo VI, no Vaticano, cerca de 2.600 estudantes e docentes do Colégio São Carlos de Milão, por ocasião dos seus 150 anos de atividades.
Trata-se de uma Escola particular fundada, em Milão, em 1869, com o objetivo de "treinar almas ricas, com uma cultura saudável, preservando-as da falta de religião". Um dos seus alunos excelentes foi Achille Ratti, futuro Papa Pio XI.
No lugar do seu discurso, o Papa preferiu responder a algumas perguntas de um estudante, duas professoras e uma mãe de um aluno.
Deus não faz distinções
A primeira pergunta foi feita pelo aluno, Adriano que disse. “O que nós e a Escola podemos fazer concretamente pelas pessoas menos desfavorecidas que nós? Por que parece que Deus tem preferências?”
E o Papa respondeu:
“Há perguntas que não têm nem terão respostas. Devemos nos habituar a isso. (...) Somos nós que fazemos distinções. Nós somos artífices das diferenças e inclusive diferenças de dor, de pobreza. Por que hoje no mundo existem tantas crianças famintas? Por que Deus faz esta distinção? Não! Quem o faz é o sistema econômico injusto.”
Não se trata de ser comunista, acrescentou Francisco, mas é o ensinamento de Jesus. “Devemos sempre fazer perguntas incômodas. Nós cresceremos e nos tornaremos adultos com a inquietação no coração. E depois devemos estar consciente de que somos nós que fazemos as distinções.”
Máfia made in Italy
A seguir, uma professora, Silvia, disse ao Papa: “Como podemos transmitir melhor, aos nossos alunos, os valores enraizados na cultura cristã e conciliá-los com outras culturas”?
Francisco respondeu: “Aqui a palavra-chave é ‘radicados’. E para ter raízes são necessárias duas coisas: consistência e memória. O mal de hoje, segundo os analistas é – seguindo a escola de Bauman – a liquidez. (...) Regar as raízes com o trabalho, com o confronto com a realidade, mas crescer com a memória das raízes”.
O Pontífice aproveitou para falar dos migrantes e recordar que somos todos migrantes, que Jesus era um migrante. E quem os acusar de serem delinquentes, o Papa recordou: “A máfia não foi inventada pelos nigerianos; é um valor nacional [italiano]. A máfia é nossa, made in Itália: é nossa. Todos temos a possibilidade de ser delinquentes”.
Educar com amor
Uma terceira pergunta foi dirigida a Francisco por outra professora, Júlia: “Como nós, educadores e estudantes, podemos dar exemplo e testemunho da nossa nobre, mas difícil tarefa”?
Para o Papa, as palavras-chave são: testemunho e sustento. O educador deve se confrontar continuamente com a realidade, “sujar as mãos”, “arregaçar as mangas”. “O testemunho é não ter medo da realidade.” Já o sustento significa “doçura”. “Não se pode educar sem amor. Não é possível ensinar palavras sem gestos e o primeiro gesto é o carinho: acariciar os corações, acariciar as almas. E a linguagem da carícia qual é? A persuasão. Educa-se não com escribas, não com segurança, mas com a paciência da persuasão.”
Síndrome do ninho vazio
Por fim, a mãe de um aluno, Marta, também dirigiu sua palavra ao Papa, pedindo seu parecer de como acompanhar e orientar seus filhos nas suas escolhas futuras.
Francisco aconselhou os pais a não sofrerem da síndrome do “ninho vazio”.
“Vocês pais não devem ter medo da solidão, não tenham medo! É uma solidão fecunda. E pensem nos muitos filhos que estão crescendo e estão fazendo outros ninhos, culturais, científicos, de comunhão política e social. É preciso proximidade com os filhos para ajudá-los a caminhar.”
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui