A criação no Magistério dos Papas
Cidade do Vaticano
A Laudato si’ é uma encíclica ecológica? Verde? Ou uma encíclica social? É uma encíclica social, recordou o Papa Francisco, porque tutelar o meio ambiente significa tutelar o homem, a sua dignidade, o seu destino. Desde a sua primeira homilia, 19 de março de 2013 o Papa dissera:
Paulo VI
Conceitos que estão em perfeita continuidade com a Doutrina Social da Igreja e com a chamada “ecologia humana”. O primeiro a falar foi Paulo VI, na audiência geral de 7 de novembro de 1973.
Paulo VI partia, com certeza, da sensibilidade de um homem de Igreja do seu tempo. Tempos em que a revolução dos costumes estava revirando os valores elementares, e lançava as bases para uma desenvolta e culpável inconsciência para com as relações sagradas existentes entre o homem e a natureza, e portanto consequentemente entre os homens. Dois anos antes, Para VI escrevera na Carta Apostólica Octagesima Adveniens, parágrafo 21:
“À medida que o horizonte do homem assim se modifica, a partir das imagens que se selecionam para ele, uma outra transformação começa a fazer-se sentir, consequência tão dramática quanto inesperada da atividade humana. De um momento para outro, o homem toma consciência dela: por motivo da exploração inconsiderada da natureza, começa a correr o risco de destruí-la e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação. Não só já o ambiente material se torna uma ameaça permanente, poluições e lixo, novas doenças, poder destruidor absoluto; é mesmo o quadro humano que o homem não consegue dominar, criando assim, para o dia de amanhã, um ambiente global, que poderá tornar-se-lhe insuportável. Problema social de envergadura, este, que diz respeito à inteira família humana. O cristão deve voltar-se para estas perspectivas novas, para assumir a responsabilidade, juntamente com os outros homens, por um destino, na realidade, já comum”.
João XXIII
Menos de uma década antes, em Assis, no dia 4 de outubro de 1962, Papa João XXIII já tinha sugerido esta leitura antropológica do respeito da criação…
Não se pode aproveitar da criação senão em uma perspectiva comunitária, social, de compartilhamento. João Paulo II o confirma em 24 de março de 1997, ao falar em um simpósio sobre meio ambiente e saúde. Faltava menos de três anos ao novo milénio…
“A relação que o homem tem com Deus é que determina a relação do homem com os seus semelhantes e com o seu ambiente. Por isso a cultura cristã sempre reconheceu nas criaturas que circundam o homem outros tantos dons de Deus a serem cultivados e conservados com sentido de gratidão para o Criador. (…)
"O ambiente tornou-se assim, com frequência, uma presa em vantagem de alguns fortes grupos industriais e em prejuízo da humanidade no seu conjunto, com o consequente dano para os equilíbrios do ecossistema, da saúde dos habitantes e das gerações futuras. (…)
Mas o equilíbrio do ecossistema e a defesa da salubridade do ambiente têm necessidade precisamente da responsabilidade do homem e de uma responsabilidade que deve estar aberta às novas formas de solidariedade. É preciso uma solidariedade aberta e compreensiva para com todos os homens e todos os povos, uma solidariedade fundada sobre o respeito da vida e sobre a promoção de recursos suficientes para os mais pobres e para as gerações futuras”.
Bento XVI
Na audiência geral de 26 de agosto de 2009, quando a degradação ambiental já é um dano conclamado Papa Bento XVI afirma:
“A terra é um dom precioso do Criador, que delineou os ordenamentos intrínsecos, indicando-nos assim os sinais orientativos que devemos respeitar como administradores da sua criação. É precisamente a partir desta consciência, que a Igreja considera as questões ligadas ao meio ambiente e à sua salvaguarda intimamente vinculadas ao tema do desenvolvimento humano integral. Referi-me várias vezes a estas questões na minha última encíclica Caritas in veritate, evocando a "urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade" (n. 49), não apenas nas relações entre os países, mas também entre os homens individualmente, porque o ambiente natural é oferecido por Deus a todos, e o seu uso comporta uma nossa responsabilidade pessoal por toda a humanidade, de modo particular pelos pobres e as gerações futuras (cf. ibid., n. 48).
"Não é porventura verdade que o uso desconsiderado da criação começa lá onde Deus é marginalizado ou onde se chega a negar até a sua existência? Se vier a faltar a relação da criatura humana com o Criador, a matéria fica reduzida a uma posse egoísta, o homem torna-se ‘a última instância’ e a finalidade da existência reduz-se a ser uma corrida ofegante para possuir quanto mais possível.
A criação, matéria estruturada de modo inteligente por Deus, está confiada à responsabilidade do homem, que é capaz de a interpretar e de a voltar a modelar ativamente, sem se considerar seu senhor absoluto. Ao contrário, o homem é chamado a exercer um governo responsável para a conservar, fazer frutificar e cultivar, encontrando os recursos necessários para uma existência digna de todos”.
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