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Às autoridades moçambicanas, Francisco pede a "coragem da paz"

O primeiro compromisso oficial foi a visita de cortesia ao Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, no Palácio presidencial “Ponta Vermelha”.

Maputo

A quinta-feira do Papa Francisco em Maputo começou celebrando a missa em privado na nunciatura apostólica.

Durante a celebração, de acordo com o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, o Pontífice recordou o cardeal Roger Etchegaray, “homem de diálogo e de paz”, e o cardeal José de Jesús Pimiento Rodríguez, que faleceu em 3 de setembro.

Ouça a reportagem completa com a voz do Papa Francisco

Scholas Occurrentes

Depois da missa, o Papa reuniu-se com alguns responsáveis e um grupo de participantes dos programas criados pela Fundação Scholas Occurrentes em várias cidades do país, acompanhados do diretor Enrique Adolfo Palmeyro. Durante o encontro, foram ilustradas ao Santo Padre as atividades desenvolvidas pela Fundação, particularmente no campo do esporte e da formação humana.

Numa breve saudação, Francisco contou alguns episódios da sua infância em Buenos Aires, quando jogava futebol com bolas feitas de pano num pátio perto de sua casa, e destacou que jogo e trabalho devem sempre caminhar juntos. 

Solidariedade às vítimas do ciclone

Ao deixar a nunciatura, o primeiro compromisso oficial foi a visita de cortesia ao Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, no Palácio presidencial “Ponta Vermelha”.

Houve um encontro a portas fechadas, a apresentação da família do presidente e a troca de dons. Ali mesmo no Palácio presidencial o Pontífice dirigiu suas primeiras palavras às autoridades, aos representantes da sociedade civil e ao corpo diplomático.

Em seu discurso, o primeiro pensamento do Papa foi às vítimas dos recentes ciclones Idai e Kenneth.

“Infelizmente, não poderei ir pessoalmente até junto de vós, mas quero que saibais que partilho a vossa angústia, sofrimento e também o compromisso da comunidade católica para fazer frente a tão dura situação.”

A coragem da paz

Mas foi à paz que o Pontífice dedicou grande parte do seu pronunciamento. O Papa mencionou o recente acordo assinado na Serra da Gorongosa para a cessação definitiva das hostilidades militares e o Acordo Geral de 1992 em Roma.

 

A história não deve ser escrita pela luta fratricida, disse o Papa, mas pela capacidade de se reconhecer como irmãos. É preciso ter “a coragem da paz! Uma coragem de alta qualidade: não a da força bruta e da violência, mas aquela que se concretiza na busca incansável do bem comum”.

Francisco prosseguiu afirmando que a busca pela paz é um trabalho árduo, requer determinação mas sem fanatismo, coragem mas sem exaltação, tenacidade mas de maneira inteligente: “não à violência que destrói, sim à paz e à reconciliação”.

O Pontífice encorajou as autoridades a prosseguirem no caminho do desenvolvimento, avançando nas áreas da educação e da saúde, “para que ninguém se sinta abandonado”, especialmente os jovens.

“Não cesseis os esforços enquanto houver crianças e adolescentes sem educação, famílias sem teto, trabalhadores sem trabalho, camponeses sem terra... Tais são as bases dum futuro de esperança, porque futuro de dignidade! Tais são as armas da paz.”

Tendência à espoliação

Por fim, o Papa recordou que a paz convida a olhar também para a Casa Comum. Moçambique foi “abençoada por sua beleza natural”, mas constata a tendência à espoliação, “guiada por uma ânsia de acumular que, em geral, não é cultivada sequer por pessoas que habitam estas terras, nem é motivada pelo bem comum do povo”.

Uma cultura de paz, concluiu Francisco, implica um desenvolvimento produtivo, sustentável e inclusivo, “onde cada moçambicano possa sentir que este país é seu”.

“Senhor Presidente, distintas Autoridades! Todos vós sois os construtores da obra mais bela a ser realizada: um futuro de paz e reconciliação. (…) Peço a Deus que possa – eu também – contribuir para que a paz, a reconciliação e a esperança reinem definitivamente entre vós.”

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05 setembro 2019, 10:25