Reconciliação, esperança, paz: três palavras do Papa na África
Alessandro De Carolis – Cidade do Vaticano
Os lemas que acompanham os logotipos das três etapas do Papa na África logo chamaram a atenção. Seguem por subtrações. Em Moçambique “Esperança, paz e reconciliação”, em Madagascar , Francisco “Semeador de paz e esperança”, enquanto que nas Ilhas Maurício o Papa é “peregrino da paz”. É uma singularidade, mas também uma curiosidade que leva a refletir sobre as complexas expectativas que acompanham cada visita papal e que se manifestam na síntese proposta pelos slogans.
Da noite ao alvorecer
Moçambique que repropõe o valor universal, a paz! É um país que pede a Francisco que estas três colunas - Esperança, paz e reconciliação - presentes no lema da viagem e no histórico Acordo de 1992 que proclamava a paz depois de 15 anos de guerra civil, sejam fortalecidas. Na assinatura do Acordo entre as forças opostas: Frelimo de inspiração marxista e resistência moçambicana e Renamo apoiada pelos EUA, “Reconciliação, esperança e paz” pareciam raios de um magnífico alvorecer depois da noite da guerra civil e o sangue de 1 milhão de mortos e 2-3 milhões de deslocados.
Os contrastes da Fênix
Todavia, na África acontece com frequência, a democracia é uma planta frágil. As tensões continuaram no decorrer dos anos até o último, novo Acordo de paz, assinado dia 1º de agosto deste ano com a previsão de eleições no próximo dia 15 de outubro. Com isso uma reconciliação que traga esperança e paz, em uma terra de contrastes, que sofre também pelos fenômenos naturais. No início deste ano foi atingida por dois ciclones (600 mortos, mais de 70 mil deslocados) e encontra-se no 180º lugar (num total de 189) do Índice de Desenvolvimento Humano de 2017. País onde a miséria que atinge ainda a maior parte dos moçambicanos compete com o imperioso crescimento econômico financeiro que depois do Acordo de 1992 levou muitos países estrangeiros a investir em uma nação riquíssima de recursos naturais (carvão, gás, ouro e diamantes).
Madagascar. A alma da Ilha vermelha
Pensa-se em Madagascar pensa-se ao Éden, no sentido da natureza e dos naturalistas. Quase toda a flora e fauna desta ilha são únicas e encontra-se somente aqui. Neste excepcional cenário de biodiversidade Francisco poderia ser considerado “ semeador”, de paz e de esperança, como no lema. País distante que ficou longe da influência europeia por muito tempo. De fato, entre 1550 e 1700 serviu de base para os piratas que roubavam na rota para as Índias. Depois da independência da França em 1960, as 18 “tribos” malgaxes formaram a maioria da “Ilha vermelha” (a cor deve-se a grande quantidade de laterito) e deram vida à democracia muitas vezes modificada para manter equilíbrios de poder. O atual presidente desde 2013 é Andry Rajoelina, que guia uma nação ainda frágil quanto à pobreza com muita desnutrição, doenças endêmicas e lepra. Um país onde a Igreja (os católicos são 8 mil, 35% da população) trabalha muito no âmbito da formação tentando ajudar principalmente os jovens no mundo do trabalho e a evitar que caiam no mundo da prostituição infantil. A visita de Francisco pode ajudar a evidenciar o melhor perfil desta terra, como disse o Papa na mensagem vídeo ao povo malgaxe. Um perfil ainda escondido, por assim dizer, na majestosa sombra do baobab, árvore símbolo nacional e que precisa resplendescer a paz e a esperança que a Igreja local coloca como meta.
Maurício. A única língua que conta
As ilhas da República de Maurício são um arquipélago a mil quilômetros de Madagascar nas quais o cristianismo nasceu das correntes de ex-escravos. Aqui nos anos Trinta do século XIX os crioulos da colônia britânica libertados da escravidão sobreviviam abandonados a si mesmos. Foi o coração de Jacques Désiré Laval, um missionário espiritano que levou-os à fé e a uma vida mais digna. Nas 8 horas que o Papa passará na capital Port Louis, em 9 de setembro, irá rezar no santuário onde estão os restos mortais do padre Laval. Um homem que permitiu à Igreja mostrar o seu lado mais evangélico – o que mais agrada ao Papa – em um país onde a pobreza absoluta não é uma ferida aberta, pois menos de 2% da população vive nessas condições. Aqui a paz, como observa Francisco na sua mensagem vídeo aos mauricianos – é recordar que em uma terra de tantas línguas a mais importante e universal é sempre a do amor. A falada com obras e ação, como a do padre Laval.
O ponto essencial
Concluindo, os três lemas da viagem, Moçambique, Madagascar e Maurício, falam não tanto de uma maior ou menor capacidade de desejar o melhor para a própria terra, mas concentram claramente o olhar para o essencial. Em qualquer lugar que se promova a reconciliação coloca-se a primeira pedra da paz e abre-se o horizonte à esperança. E isso, é banal recordar, não vale somente para as “periferias” da África.
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