Papa: não se pode ser cristão e viver sob a lei de talião
Bianca Fraccalvieri – Maputo
Com a missa no estádio nacional Zimpeto, na periferia de Maputo, o Papa Francisco concluiu sua visita a Moçambique.
A chuva e o frio não diminuíram o entusiasmo dos milhares de fiéis que aguardavam a chegada do Pontífice com cantos e danças tradicionais.
Em sua homilia, o Papa refletiu sobre uma passagem do Sermão da Planície, contida no Evangelho de Lucas. Depois de escolher os seus discípulos e ter proclamado as Bem-aventuranças, Jesus acrescenta: «Digo-vos a vós que Me escutais: “Amai os vossos inimigos”» (Lc 6, 27).
Portanto, explicou Francisco, Jesus não nos convida a um amor abstrato, etéreo ou teórico, redigido em escrivaninhas para discursos, mas a seguir o seu exemplo, pois amou aqueles que o traíram e o mataram.
Alta é a medida que o Mestre propõe!
É difícil falar de reconciliação quando ainda estão vivas as feridas causadas durante tantos anos de discórdia, afirmou, mas mesmo assim Jesus Cristo convida a amar e a fazer o bem. Isso vai além de simplesmente ignorar nosso inimigo, mas implica também abençoar e rezar por ele. “Alta é a medida que o Mestre nos propõe!”
Jesus propõe a primeira regra de ouro ao alcance de todos: fazer aos outros aquilo que gostaríamos fizessem a nós. Isso significa reciprocidade e implica amar-se e ajudar-se sem esperar nada em troca.
Paradoxo humano
O Pontífice faz uma amarga constatação: "o mundo desconhecia – e continua sem conhecer – a virtude da misericórdia, da compaixão, matando ou abandonando deficientes e idosos, eliminando feridos e enfermos, ou divertindo-se com os sofrimentos dos animais".
O Papa aponta então para o paradoxo de Moçambique: um território cheio de riquezas naturais e culturais, mas com uma quantidade enorme da sua população abaixo do nível de pobreza. “E por vezes parece que aqueles que se aproximam com o suposto desejo de ajudar, têm outros interesses. E é triste quando isto se verifica entre irmãos da mesma terra, que se deixam corromper; é muito perigoso aceitar que a corrupção seja o preço que temos de pagar pela ajuda externa."
Agir a serviço de interesses políticos ou pessoais é ser ideológico. Este é o termômetro, disse o Papa.
“Se Jesus for o árbitro entre as emoções em conflito do nosso coração, entre as decisões complexas do nosso país, então Moçambique tem garantido um futuro de esperança.”
Despedida
A missa no estádio Zimpeto foi o último compromisso do Papa em Moçambique. Antes de deixar o estádio, Francisco fez sua saudação final:
Da sacristia, o Pontífice se dirige diretamente ao aeroporto internacional de Maputo para a cerimônia de despedida. A próxima etapa é a capital malgaxe, Antananarivo, onde Francisco chegará depois de três horas de voo.
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