Texto integral da homilia na Missa pelo Dia Mundial das Missões
HOMILIA DO SANTO PADRE
Eucaristia
no XXIX Domingo do Tempo Comum
Dia Mundial das Missões
Quero tomar três palavras das Leituras escutadas: um substantivo, um verbo e um pronome. O substantivo é o monte: dele profetiza Isaías, quando nos fala de um monte do Senhor, dominando sobre as colinas, para onde acorrerão todas as nações (cf. Is 2, 2). E o monte reaparece no Evangelho: depois da sua ressurreição, Jesus indica aos discípulos como local de encontro um monte da Galileia, precisamente aquela Galileia habitada por muitas populações diferentes, a «Galileia dos gentios» (cf. Mt 4, 15). Em suma, o monte parece ser o lugar onde Deus gosta de marcar encontro com toda a humanidade. É o lugar do encontro connosco, como mostra a Bíblia a começar do Sinai, passando pelo Carmelo até Jesus, que proclamou as Bem-aventuranças no monte, transfigurou-Se no monte Tabor, deu a vida no Calvário e subiu ao Céu no monte das Oliveiras. O monte, lugar dos grandes encontros entre Deus e o homem, é também o sítio onde Jesus passa horas e horas em oração (cf. Mc 6, 46), para unir terra e Céu, unir-nos, nós seus irmãos, ao Pai.
A nós, que nos diz o monte? Que somos chamados a aproximar-nos de Deus e dos outros: aproximar-nos de Deus, o Altíssimo, no silêncio, na oração, afastando-nos das maledicências e boatos que poluem; e aproximar-nos também dos outros, que, vistos do monte, aparecem-nos noutra perspetiva, a de Deus que chama todos os povos: vistos de cima, os outros aparecem-nos no seu todo e descobre-se que a harmonia da beleza só é dada pelo conjunto. O monte lembra-nos que os irmãos e as irmãs não devem ser selecionados, mas abraçados com o olhar e sobretudo com a vida. O monte liga Deus e os irmãos num único abraço, o da oração. O monte leva-nos para o alto, longe de tantas coisas materiais que passam; convida-nos a redescobrir o essencial, o que permanece: Deus e os irmãos. A missão começa no monte: lá se descobre aquilo que conta. No coração deste mês missionário, interroguemo-nos: Para mim, o que é que conta na vida? Quais são as altitudes para onde tendo?
E o substantivo monte aparece acompanhado por um verbo: subir. Isaías exorta-nos: «Vinde, subamos à montanha do Senhor» (2, 3). Nascemos, não para ficar em terra contentando-nos com coisas triviais, mas para chegar às alturas encontrando Deus e os irmãos. Para isso, porém, é preciso subir: é preciso deixar uma vida horizontal, lutar contra a força de gravidade do egoísmo, realizar um êxodo do próprio eu. Por isso, subir requer esforço, mas é a única maneira para ver tudo melhor, como o panorama mais bonito ao escalar a montanha só se vê no cimo e, então, compreendemos que o único modo possível para o abarcar era seguir aquela vereda sempre em subida.
E como não é fácil subir ao monte se formos carregados de coisas, assim na vida é preciso alijar o que não serve. É também o segredo da missão: para partir é preciso deixar, para anunciar é preciso renunciar. O anúncio credível é feito, não de bonitas palavras, mas de vida boa: uma vida de serviço, que sabe renunciar a tantas coisas materiais que empequenecem o coração, tornam as pessoas indiferentes e as fecham em si mesmas; uma vida que se separa das inutilidades que atafulham o coração e encontra tempo para Deus e para os outros. Podemos interrogar-nos: Como procede a minha subida? Sei renunciar às bagagens pesadas e inúteis do mundanismo para subir ao monte do Senhor? Faço a minha estrada subindo à minha custa ou trepando sobre os outros?
Se o monte nos lembra o que conta – Deus e os irmãos –, e o verbo subir, o modo como lá chegamos, há uma terceira palavra que hoje ressoa como a mais forte. É o pronome todos, que prevalece nas Leituras: «todas as nações», dizia Isaías (2, 2); «todos os povos», repetimos no Salmo; Deus «quer que todos os homens sejam salvos», escreve Paulo (1 Tm 2, 4); «ide, pois, fazei discípulos de todos os povos», pede Jesus no Evangelho (Mt 28,19). O Senhor obstina-Se a repetir este «todos». Sabe que somos teimosos a repetir «meu» e «nosso»: as minhas coisas, a nossa nação, a nossa comunidade... e Ele não Se cansa de repetir «todos». Todos, porque ninguém está excluído do seu coração, da sua salvação; todos, para que o nosso coração ultrapasse as alfândegas humanas, os particularismos baseados nos egoísmos que não agradam a Deus. Todos, porque cada qual é um tesouro precioso e o sentido da vida é dar aos outros este tesouro. Eis a missão: subir ao monte para rezar por todos, e descer do monte para se doar a todos.
Subir e descer… Assim o cristão está sempre em movimento, em saída. Realmente, no Evangelho, o mandato de Jesus é «ide». Todos os dias nos cruzamos com tantas pessoas, mas – podemo-nos interrogar – vamos ter com as pessoas que encontramos? Assumimos o convite de Jesus ou ocupamo-nos apenas das nossas coisas? Todos esperam algo dos outros, o cristão vai ter com os outros. A testemunha de Jesus nunca se sente em crédito do reconhecimento de outros, mas em dívida de amor com quem não conhece o Senhor. A testemunha de Jesus vai ao encontro de todos, e não apenas dos seus, do seu grupinho. Jesus diz também a ti: «Vai; não percas a ocasião de testemunhar!» Irmão, irmã, o Senhor espera de ti o testemunho que ninguém pode dar em tua vez. «Oxalá consigas identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a tua vida (...), e assim a tua preciosa missão não fracassará» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 24).
Para ir ao encontro de todos, que instruções nos dá o Senhor? Uma só e muito simples: fazei discípulos. Mas, atenção! Discípulos d’Ele, não nossos. A Igreja só anuncia bem, se viver como discípula. E o discípulo segue dia a dia o Mestre e partilha com os outros a alegria do discipulado. Não conquistando, obrigando, fazendo prosélitos, mas testemunhando, colocando-se ao mesmo nível – discípulo com os discípulos –, oferecendo amorosamente o amor que recebemos. Esta é a missão: oferecer ar puro, de alta quota, a quem vive imerso na poluição do mundo; levar à terra aquela paz que nos enche de alegria, sempre que encontramos Jesus no monte, na oração; mostrar, com a vida e mesmo com palavras, que Deus ama a todos e não se cansa jamais de ninguém.
Queridos irmãos e irmãs, cada um de nós tem, melhor, é uma missão nesta terra (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 273). Estamos aqui para testemunhar, abençoar, consolar, erguer, transmitir a beleza de Jesus. Coragem! Ele espera muito de ti! O Senhor prova uma espécie de ânsia por aqueles que ainda não sabem que são filhos amados pelo Pai, irmãos pelos quais deu a vida e o Espírito Santo. Queres acalmar a ânsia de Jesus? Vai com amor ao encontro de todos, porque a tua vida é uma missão preciosa: não é um peso a suportar, mas um dom a oferecer. Coragem! Sem medo, vamos ao encontro de todos!
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