Francisco, 2019: viagens à Bulgária, Tailândia e Japão
Rui Saraiva – Porto
O ano 2019 foi pleno de etapas importantes e intensas no pontificado de Francisco. De 5 a 7 de maio teve lugar a 29ª Viagem Apostólica. O Papa visitou a Bulgária e a Macedónia do Norte. Países onde os católicos são minoria. Destacamos aqui o encontro inter-religioso pela paz em Sófia, na Bulgária.
Bulgária: encontro inter-religioso pela paz
Sófia, Bulgária, dia 6 de maio: na Praça da Independência o Papa Francisco participou num evento pela paz, juntamente com representantes de outras confissões religiosas. Seis crianças empunhando luzes fizeram a ponte, representando as seis principais confissões religiosas do país: Ortodoxa, Arménia, Hebraica, Protestante, Muçulmana e Católica.
O significado deste momento foi o de testemunhar que todos os búlgaros rezam pela paz. A paz, que é também a paz de Cristo, sobre a qual escreveu S. João XXIII na sua Encíclica “Pacem in Terris”. João XXIII, Angelo Roncalli, que ali na Bulgária, foi Visitador Apostólico de 1925 a 1934.
O Papa recitou a oração de S. Francisco e recordou o seu amor “pela Criação”. “Amor que o levou a ser um autêntico construtor de paz” – disse o Santo Padre exortando todos os presentes a serem construtores de paz:
“Paz que devemos implorar e pela qual devemos trabalhar: dom e tarefa, presente e esforço constante e diário para construir uma cultura, onde também a paz seja um direito fundamental. Paz ativa e «fortificada» contra todas as formas de egoísmo e indiferença, que nos fazem antepor os interesses mesquinhos de alguns à dignidade inviolável de toda a pessoa. A paz exige e pede-nos para fazermos do diálogo um caminho, da colaboração comum a nossa conduta, do conhecimento mútuo o método e o critério” (cf. Documento sobre a Fraternidade Humana, Abu Dhabi 4 de fevereiro de 2019).
Francisco referiu-se à simbologia da luz, chamando-lhe “fogo de amor” e “farol de misericórdia, amor e paz” para todo o mundo: “Com o fogo do amor, queremos derreter o gelo das guerras” – disse o Papa.
“Estamos a viver este evento em prol da paz nas ruínas da antiga Serdika, em Sófia, coração da Bulgária. Daqui podemos ver os lugares de culto de diferentes Igrejas e Confissões religiosas: Santa Nedélia dos nossos irmãos ortodoxos, São José dos católicos, a sinagoga dos nossos irmãos mais velhos – os judeus –, a mesquita dos nossos irmãos muçulmanos e, aqui perto, a igreja dos arménios” – recordou o Santo Padre.
Considerando ser aquele local um símbolo e “testemunho de paz”, o Papa lançou um apelo aos líderes religiosos, políticos e culturais para que cada um seja “um instrumento de paz”. E recordou o sonho do Papa S. João XXIII:
“… uma terra onde a paz seja de casa. Adotemos o seu desejo e, com a nossa vida, digamos: “Pacem in terris”! Paz, na terra, a todos os homens amados pelo Senhor!” – disse o Papa Francisco.
Tailândia: recordar as vítimas de violência, abuso e exploração
A 32ª Viagem Apostólica do pontificado de Francisco foi à Tailândia e ao Japão e decorreu de 19 a 26 de novembro neste ano de 2019. A Tailândia foi a primeira etapa.
No discurso às autoridades tailandesas o Santo Padre lembrou as vítimas de violência, abuso e de exploração. Foi em Bangkok, na quinta-feira 21 de novembro, na sede do Governo da Tailândia. Um país aonde os missionários portugueses chegaram em 1567.
No seu discurso o Papa começou por assinalar os desafios globais do mundo que “envolvem toda a família humana” e exigem esforços “em prol da justiça internacional e da solidariedade entre os povos”.
“Esta terra tem como nome liberdade” – recordou o Papa afirmando a necessidade de serem superadas as desigualdades através do acesso à saúde, ao trabalho, à educação: “… é necessário trabalhar para que as pessoas e as comunidades possam ter acesso à educação, a um trabalho digno, à assistência sanitária, e assim alcançar os níveis mínimos indispensáveis de sustentabilidade que tornem possível um desenvolvimento humano integral” – disse Francisco.
Espaço no discurso do Papa para falar sobre a crise migratória, apontando que cada nação deve “proteger a dignidade e os direitos dos migrantes e refugiados, que enfrentam perigos, incertezas e exploração”. “Não se trata apenas de migrantes, trata-se também da fisionomia que queremos dar às nossas sociedades” – frisou o Papa.
Muito importante a referência de Francisco às vítimas de escravidão e abuso, especialmente as mulheres e as crianças: “… penso nas mulheres e nas crianças de hoje que são particularmente feridas, violentadas e expostas a todas as formas de exploração, escravidão, violência e abuso”.
No final do seu discurso, o Papa assinalou que as sociedades precisam de “artesãos da hospitalidade” que “cuidem do desenvolvimento integral dos povos”: “… hoje mais do que nunca as nossas sociedades precisam de artesãos da hospitalidade, homens e mulheres que cuidem do desenvolvimento integral de todos os povos, no seio duma família humana que se empenhe a viver na justiça, solidariedade e harmonia fraterna”.
Japão: defender a abolição das armas nucleares
Muito importante o momento vivido pelo Papa Francisco em Nagasaki no segundo dia da sua visita ao Japão a 24 de novembro. Ao visitar esta cidade, o Santo Padre prestou homenagem às vítimas das bombas nucleares durante a Segunda Guerra Mundial e recolheu-se num breve momento de oração.
No seu discurso, o Papa sublinhou o horror do sofrimento causado pelas armas nucleares, como documentam recentes “descobertas na Catedral de Nagasaki”.
Francisco afirmou que a posse de armas “não é a melhor resposta” para a paz e estabilidade internacional que não se constroem através do “medo” – assinalou.
O Santo Padre ergue a sua voz “contra a corrida aos armamentos” e apelou a um futuro de paz que “requer a participação de todos: as pessoas, as religiões, a sociedade civil, os Estados que possuem armas nucleares e os que não as possuem, os setores militares e privados, e as organizações internacionais” – disse o Papa.
Francisco referiu o perigo das novas tecnologias de armamento e declarou a necessidade de se romper com a desconfiança que prevalece na política internacional: “É necessário romper a dinâmica de desconfiança que prevalece atualmente e que faz correr o risco de se chegar ao desmantelamento da arquitetura internacional de controlo dos armamentos. Estamos a assistir a uma erosão do multilateralismo, agravada ainda mais com o desenvolvimento das novas tecnologias das armas; esta abordagem é bastante incoerente no contexto atual caraterizado pela interconexão e constitui uma situação que requer atenção urgente e dedicação por parte de todos os líderes” – declarou.
Francisco afirmou o empenho da Igreja Católica na promoção da paz, recordou o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares e o apelo dos bispos do Japão em julho passado sobre a abolição das armas nucleares.
Reafirmou a força da oração, da “busca incansável de promover acordos” e de insistir no “diálogo” como autênticas “armas” pela paz. E pediu aos líderes políticos para não se esquecerem de que as armas nucleares não defendem das ameaças à segurança: “Que a oração, a busca incansável de promover acordos, a insistência no diálogo sejam as «armas» em que deponhamos a nossa confiança e também a fonte de inspiração dos esforços para construir um mundo de justiça e solidariedade que forneça reais garantias para a paz. Com a convicção de que é possível e necessário um mundo sem armas nucleares, peço aos líderes políticos para não se esquecerem de que as mesmas não nos defendem das ameaças à segurança nacional e internacional do nosso tempo” – afirmou.
No final do seu discurso o Papa Francisco propôs a Oração de S. Francisco de Assis “pelo triunfo duma cultura da vida, da reconciliação e da fraternidade”.
Passamos aqui em revista três das sete viagens internacionais do Papa Francisco em 2019. Peregrino da paz e da esperança.
Laudetur Iesus Christus
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