Papa a voluntários que salvam migrantes no Mediterrâneo: contem comigo!
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco escreveu uma curta mensagem de próprio punho nesta sexta-feira (10) em resposta à carta recebida da organização não-governamental “Mediterranea Saving Humans”, plataforma que procura salvar a vida dos migrantes, testemunhar, documentar e denunciar o que acontece naquelas águas. O jornal italiano Avvenire, de inspiração católica, divulgou nesta sexta o conteúdo da mensagem do Pontífice, que respondeu prontamente aos voluntários. O Papa escreveu à mão:
Carta de Palermo ao Vaticano
A extensa carta da ONG foi assinada pelo chefe de missão, Luca Casarini, em nome de todos os componentes, depois das últimas notícias provenientes da Líbia. Na mensagem, a manifestação de amargura por todos os obstáculos impostos aos navios humanitários, mas, sobretudo, pelo agravamento das condições de milhares de pessoas nos campos de refugiados na Líbia e na Grécia, onde vivem mais de 40 mil pessoas em pequenos espaços e com condições higiênicas espaventosas.
Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), quase 800 pessoas partiram da Líbia em março e cerca de 600 foram deportadas de volta ao país. Na Grécia, a ameaça do Covid-19 colocou campos de refugiados em quarentena após o registro de casos que testaram positivo ao vírus.
Sobre o privilégio de salvar vidas
O chefe da missão “Rescuemed” escreveu: “nestes dias terríveis, penso ao que fazemos no mar e o que sentimos quando temos o privilégio de poder salvar da morte os nossos irmãos e irmãs migrantes, enquanto o mundo tem a cabeça virada para o outro lado”. O pensamento é direcionado à pandemia que “hoje obriga todos a fazer as contas com a luta pela vida, a pedir ajuda aos outros para se salvar”.
Sobre a piedade humana
O Papa Francisco responde com palavras de afeto e gratidão, ao dizer: “Luca, querido irmão, muito obrigado pela tua carta”, e pela “piedade humana que tens diante a tantas dores. Obrigado pelo teu testemunho, que me faz muito bem”.
Salvando os refugiados do iminente afogamento, Casarini (investigado e depois inocentado junto ao comandante Pietro Marrone) confidenciou ao Pontífice, de sempre ter tido “a sensação de estar salvando nós mesmos, mas que, na verdade, eram aqueles homens, mulheres e crianças indefesos que estavam salvando a nós. Hoje tudo está claro, transparente como a água daquele Mar Mediterrâneo, que queremos imaginar como o ‘Grande Lago de Tiberíades’”.
Colete salva-vidas crucificado
No início de dezembro, o Papa Francisco mostrou ao mundo um gesto inesperado ao expor uma cruz no acesso ao Palácio Apostólico do Cortile do Belvedere, no Vaticano. Doada ao Pontífice pela própria ONG Mediterranea, a cruz foi realizada com água de mar e um colete salva-vidas como símbolo de tantos mortos sem nome, afogados no Mediterrâneo.
Na época, o Papa disse que decidiu expor naquele local o colete salva-vidas, “crucificado na cruz, para nos recordar que devemos manter os olhos abertos, o coração aberto; para recordar a todos o empenho imprescindível de salvar toda vida humana, um dever moral que une crentes e não-crentes”. Palavras que acabaram sendo renovadas pelo Pontífice na recente mensagem dirigida aos voluntários do Mediterranea que lutam para salvar vidas.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui