Laudato Si: inspirar soluções para a crise provocada pela pandemia
Rui Saraiva
Passaram cinco anos desde a publicação da Encíclica do Papa Francisco “Laudato Si” no Pentecostes de 2015 e que tem motivado muitos comentários na opinião pública internacional.
“Laudato Si, sobre o cuidado da casa comum”, são seis capítulos que desenvolvem um conceito concreto: ecologia integral, novo paradigma de justiça.
Um texto papal que aqui recordamos nas suas linhas essenciais e que pode ser muito útil na procura de soluções para a crise económica e social que estamos a viver devido à pandemia do novo coronavírus.
Para um novo tempo de encontro e reencontro onde ainda impera a regra do distanciamento social.
Conversão ecológica
Na Encíclica “Laudato Si”, Francisco de Roma coloca-se na esteira de Francisco de Assis e inspira-se no Cântico das Criaturas para recordar que a terra “se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma mãe, que nos acolhe nos seus braços”.
“Esta terra agora, está maltratada e saqueada e ouvem-se os gemidos dos abandonados do mundo” – escreve Francisco.
É preciso uma “conversão ecológica” – evidencia o Papa na sua Encíclica – uma “mudança de rumo”, para que o homem assuma a responsabilidade de um compromisso para o cuidado da casa comum.
Um compromisso para erradicar a miséria e promover a igualdade de acesso para todos aos recursos do planeta.
Não à cultura do descartável
A Encíclica faz, assim, um diagnóstico minucioso dos males do planeta: poluição, mudanças climáticas, desaparecimento da biodiversidade, débito ecológico entre o Norte e o Sul do mundo, antropocentrismo, predomínio da tecnocracia e da finança que leva a salvar os bancos em detrimento da população, propriedade privada não subordinada ao destino universal dos bens.
Sobre tudo isto parece prevalecer uma cultura do descartável, usa e deita fora, algo que leva a explorar as crianças, a abandonar os idosos, a reduzir os outros à escravidão, a praticar o comércio dos diamantes de sangue. É a mesma lógica de muitas mafias – escreve o Papa Francisco.
Investir na formação para uma ecologia integral
A Encíclica sublinha que se deve investir na formação para uma ecologia integral, para compreender que o ambiente é um dom de Deus, uma herança comum que se deve administrar e não destruir.
E bastam pequenos gestos quotidianos: fazer a recolha diferenciada dos lixos, não desperdiçar água e alimentos, apagar luzes inúteis, agasalhar-se um pouco mais em vez de acender o aquecimento.
Desta forma, poderemos sentir que “temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo e que vale a pena sermos bons e honestos”.
Necessária nova economia, mais atenta à ética
Podemos ler na Encíclica que é necessária uma “revolução cultural corajosa” que mantenha em primeiro plano o valor e a tutela de cada vida humana, porque a defesa da natureza “não é compatível com a justificação do aborto” e “cada mau trato a uma criatura é contrário à dignidade humana”.
O Santo Padre pede diálogo entre política e economia a nível internacional e não poupa um juízo severo aos líderes mundiais relativamente à falta de decisões políticas a nível ambiental. Propõe uma nova economia mais atenta à ética.
Recordemos que como consequência concreta desta necessidade de diálogo entre política e economia e a construção de uma economia mais ética, foi lançada a iniciativa “Economia de Francisco” que deveria ter acontecido em março passado e que, devido à pandemia, teve que ser adiada para o mês de outubro próximo.
Os sonhos do Papa para a Amazónia
Uma outra iniciativa que foi influenciada pela Encíclica Laudato Sí do Papa Francisco, quase com uma ligação filial, foi o Sínodo dos bispos dedicado à região pan-amazónica que decorreu no Vaticano de 6 a 27 de outubro em 2019.
Na Exortação pós-Sínodo “Querida Amazónia”, publicada pelo Papa, é bem evidente a influencia do espírito da Encíclica “Laudato Sí”. São quatro os sonhos de Francisco para a Amazónia: um sonho social, um sonho cultural, um sonho ecológico e um sonho eclesial. Sonhos que podem ser inspiradores de soluções para a atual crise provocada pela pandemia.
No sonho social Francisco propõe o “diálogo social” como o método “para encontrar formas de comunhão e luta conjunta”. Um diálogo que comece “pelos últimos”, pois são eles os “principais interlocutores”.
O sonho cultural do Papa para a Amazónia é uma proposta de encontro intercultural através do qual se assumem “os direitos dos povos e das culturas”.
Por sua vez no sonho ecológico, o Santo Padre salienta a importância da Amazónia para a vida no planeta e afirma que “para cuidar da Amazónia, é bom conjugar a sabedoria ancestral com os conhecimentos técnicos contemporâneos, mas procurando sempre intervir no território de forma sustentável, preservando ao mesmo tempo o estilo de vida e os sistemas de valores dos habitantes”.
Finalmente, para a Amazónia, o Papa tem um sonho eclesial no qual destaca a importância dos sacerdotes, dos diáconos permanentes e dos leigos, mas, muito particularmente, das mulheres, pois foi “graças à presença de mulheres fortes e generosas” que a Igreja se manteve “de pé nesses lugares”.
Nota importante do Santo Padre para a convivência ecuménica e inter-religiosa numa Amazónia “plurirreligiosa” onde se devem encontrar “espaços para dialogar e atuar juntos pelo bem comum e a promoção dos mais pobres” – escreve o Papa.
Recordemos que na Encíclica Laudato Sí o Papa Francisco convida-nos à pratica dos sacramentos, em particular da Eucaristia, que “une céu e terra e nos orienta a ser guardiões de toda a Criação”.
Francisco conclui que no final “nos encontraremos face a face com a beleza de Deus”.
Laudetur Iesus Christus
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