Papa no Japão em 2019: não às armas, sim ao diálogo
Rui Saraiva - Porto
No passado domingo dia 9 de agosto, o Papa Francisco recordou o 75º aniversário do bombardeamento de Nagasaki, a segunda cidade do Japão, depois de Hiroshima, que foi vítima de um bombardeamento atómico em 1945 durante a Segunda Guerra Mundial. Foi na oração do Angelus na Praça de S. Pedro:
“A 6 e 9 de agosto de 1945, há 75 anos atrás, aconteceram os trágicos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki. Enquanto recordo com emoção e gratidão a visita que fiz aqueles lugares no ano passado, renovo o convite a rezar e a comprometer-se por um mundo totalmente livre de armas nucleares” – disse o Papa.
Romper a dinâmica de desconfiança
Precisamente, a 24 de novembro de 2019, no segundo dia da sua visita ao Japão, o Santo Padre prestou homenagem, em Nagasaki às vítimas das bombas nucleares durante a Segunda Guerra Mundial.
Francisco foi acolhido por dois sobreviventes desse terrível evento de metade do século XX. Esteve no Hipocentro da Bomba Atómica no interior do Memorial da Paz da cidade nipónica. Recolheu-se num breve momento de oração.
No seu discurso, o Papa sublinhou o horror do sofrimento causado pelas armas nucleares, como documentam recentes “descobertas na Catedral de Nagasaki”.
Francisco afirmou que a posse de armas “não é a melhor resposta” para a paz e estabilidade internacional que não se constroem através do “medo” – assinalou o Santo Padre erguendo a sua voz “contra a corrida aos armamentos” e apelando a um futuro de paz que rompa com a desconfiança que prevalece na política internacional:
“É necessário romper a dinâmica de desconfiança que prevalece atualmente e que faz correr o risco de se chegar ao desmantelamento da arquitetura internacional de controlo dos armamentos. Estamos a assistir a uma erosão do multilateralismo, agravada ainda mais com o desenvolvimento das novas tecnologias das armas; esta abordagem é bastante incoerente no contexto atual caraterizado pela interconexão e constitui uma situação que requer atenção urgente e dedicação por parte de todos os líderes” – declarou.
Oração e diálogo
Francisco afirmou o empenho da Igreja Católica na promoção da paz, recordou o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares e o apelo dos bispos do Japão em julho de 2019 sobre a abolição das armas nucleares. Reafirmou a força da oração, da “busca incansável de promover acordos” e de insistir no “diálogo” como autênticas “armas” pela paz. E pediu aos líderes políticos para não se esquecerem de que as armas nucleares não defendem das ameaças à segurança:
“Que a oração, a busca incansável de promover acordos, a insistência no diálogo sejam as «armas» em que deponhamos a nossa confiança e também a fonte de inspiração dos esforços para construir um mundo de justiça e solidariedade que forneça reais garantias para a paz. Com a convicção de que é possível e necessário um mundo sem armas nucleares, peço aos líderes políticos para não se esquecerem de que as mesmas não nos defendem das ameaças à segurança nacional e internacional do nosso tempo” – afirmou.
No final do seu discurso o Papa Francisco propôs a Oração de S. Francisco de Assis “pelo triunfo duma cultura da vida, da reconciliação e da fraternidade”.
No Japão, Papa evocou os mártires cristãos
Nesta visita ao Japão o Papa Francisco visitou o Museu e Monumento dos Mártires, uma obra projetada pelo arquiteto japonês Kenji Imai, inspirada na Sagrada Família de Barcelona de Gaudì.
Este monumento foi inaugurado a 10 de junho de 1962 para comemorar o centenário da canonização dos vinte e seis mártires do Japão, um grupo de cristãos que foram crucificados neste mesmo local em 1597 durante a perseguição ao cristianismo.
Recordemos que o Papa Francisco tinha o sonho de jovem jesuíta de ser missionário no Japão. Ao Papa foi entregue uma vela à entrada do monumento por um dos descendentes dos cristãos perseguidos.
Nas palavras que proferiu, o Santo Padre começou por revelar estar “ansioso” que chegasse aquele momento para ali poder estar como “peregrino” para “rezar, confirmar e também ser confirmado na fé por estes irmãos, que nos mostram o caminho com o seu testemunho e dedicação” – disse o Santo Padre lembrando S. Paulo Miki e os seus companheiros mortos em finais do século XVI.
Francisco afirmou que aquele monumento fala do “triunfo da vida” que anuncia a Páscoa “através do martírio” que é fonte profunda de inspiração” para que “não esqueçamos o amor da sua entrega” – sublinhou o Papa.
O Santo Padre evocou também os mártires do século XXI “que nos interpelam com o seu testemunho” e ergueu a sua voz contra a “manipulação das religiões” por “políticas de integralismo e divisão”:
“Rezemos por eles e com eles, e ergamos a voz para que a liberdade religiosa seja garantida a todos nos vários cantos do planeta; e ergamos a voz também contra toda a manipulação das religiões «pelas políticas de integralismo e divisão, pelos sistemas de lucro desmesurado e pelas tendências ideológicas odiosas, que manipulam as ações e os destinos dos homens”.
O Japão foi evangelizado por S. Francisco Xavier no século XVI a pedido da Coroa Portuguesa. Os portugueses foram expulsos em 1639. Em 1867 foram beatificados 205 mártires do Japão, entre os quais sete portugueses.
A partir do século XVII os cristãos no Japão entraram na clandestinidade até à segunda metade do século XIX. Foi o tempo dos cristãos escondidos que de geração em geração transmitiram a fé até aos dias de hoje.
Atualmente os católicos no Japão são 536 mil, menos de 1% da população. Reúnem-se em 859 paróquias. Servem-nas 29 bispos.
Laudetur Iesus Christus
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