Papa: as culturas autorreferenciais adoecem. A vida é a arte do encontro
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
No final da tarde desta sexta-feira, o Papa Francisco participou da inauguração da Sala de Exposição da Biblioteca Apostólica Vaticana.
O Pontífice dedicou o seu discurso ao tema do “valor da beleza”, que não é uma ilusão fugaz de uma aparência ou de um ornamento. Pelo contrário, nasce da raiz da bondade, da verdade e da justiça, que são os seus sinônimos. O Papa se inspirou nos Evangelhos para extrair o significado mais autêntico deste conceito. Em João, o adjetivo “kalòs” (belo) é usado exclusivamente em referência a Jesus e à sua missão. Já em Mateus, Cristo fala da beleza dos seus discípulos.
Para Francisco, não devemos deixar de pensar e falar da beleza, pois não só de pão vive o coração do homem: “Necessita também de cultura, daquilo que toca a alma, que reaproxima o ser humano à sua profunda dignidade”. Por isso, os votos do Pontífice são para que o novo espaço da Biblioteca faça resplandecer a luz não só da ciência, mas também da beleza.
A vida é a arte do encontro
A mostra inaugural faz uma reflexão a partir da encíclica “Fratelli tutti”, intitulada “Todos. Humanidade em caminho”, com obras do artista contemporâneo italiano Pietro Ruffo, que foram elogiadas pelo Papa.
“Aprecio esta aposta de realizar um diálogo. A vida é a arte do encontro. As culturas adoecem quando se tornam autorreferenciais, quando perdem a curiosidade e a abertura ao outro. Quando excluem ao invés de integrar.”
Francisco então questiona qual seria a vantagem de ser guardiães das fronteiras ao invés de guardiães dos nossos irmãos. “A pergunta que Deus nos repete é esta: Onde está o seu irmão?”
A lógica estéril dos "blocos fechados"
Portanto, o mundo necessita de novos mapas para redescobrir o sentido da fraternidade, da amizade social e do bem comum. “A lógica dos blocos fechados é estéril e repleta de equívocos. Precisamos de uma nova beleza, que não seja mais o reflexo sempre igual do poder de alguns, mas o mosaico corajoso da diversidade de todos.”
Ao citar uma expressão típica do seu pontificado, “Igreja em saída”, o Papa concluiu seu discurso afirmando que conta com a contribuição da Biblioteca Apostólica para traduzir o depósito do cristianismo e a riqueza do humanismo nas linguagens de hoje e de amanhã. Pois a responsabilidade da Igreja, afirmou, é manter vivas as raízes, a memória, sempre orientada, porém, para as flores e para os frutos.
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