Santo Irineu será declarado Doutor da Igreja
Adriana Masotti – Vatican News
Um passo em frente para o reconhecimento do título de Doutor da Igreja universal de Santo Irineu de Lyon. Na manhã da quinta-feira (20/01), encontrando-se com o Papa Francisco, o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, propôs ao Santo Padre acolher o parecer afirmativo da sessão plenária dos cardeais e bispos membros do Dicastério, sobre a atribuição do título ao bispo de Lyon do século II.
Francisco já havia tratado do assunto em 7 de outubro do ano passado, ao encontrar o Grupo Misto de trabalho ortodoxo-católico Santo Irineu: “Com prazer – havia dito – declararei seu patrono Doutor da Igreja”. Naquela ocasião, o Papa o havia definido como “uma grande ponte espiritual e teológica entre cristãos orientais e ocidentais”, sublinhando que seu próprio nome “traz impressa a palavra paz”.
O primeiro grande teólogo da Igreja
Apóstolo junto aos povos celtas e germânicos, foi um defensor da doutrina. Santo Irineu de Lyon enfrentou a heresia representada pelo nascente gnosticismo no âmbito cristão e a disseminação entre os pagãos da filosofia do neoplatonismo, que apresentava algumas afinidades com o cristianismo, abrindo-se ao diálogo e acolhendo dela alguns princípios.
Santo Irineu pode ser considerado o primeiro grande teólogo da Igreja. No centro de sua reflexão está a “Regra de fé” e sua transmissão, ou seja, a questão da Tradição apostólica. Os Apóstolos ensinaram uma fé simples, alicerçada na revelação de Deus, defendi Irineu. Não há uma doutrina secreta por trás do Credo comum da Igreja, não há um cristianismo superior para intelectuais. Verdade e a salvação não são privilégio e monopólio de poucos, mas todos podem alcançá-las.
Todas as Igrejas locais – afirmava o bispo de Lyon - devem se referir à Igreja de Roma. De fato, ele escreve: “Para esta Igreja, devido ao seu peculiar principado, é necessário que convirja cada Igreja, isto é, os fiéis espalhados por toda a parte, pois nela a tradição dos Apóstolos foi sempre conservada”.
Permanecem duas obras do bispo de Lyon: os cinco livros “Contra as heresias” e a “Exposição da pregação apostólica”, considerado o mais antigo catecismo da doutrina cristã. O objetivo de seus escritos é defender a verdadeira doutrina e expor com clareza as verdades da fé, mas nas suas obras também transparece o ‘bom pastor’, preocupado com aqueles que estão perdidos.
A vida de Santo Irineu
Santo Irineu nasceu na Ásia Menor, provavelmente em Esmirna, hoje Izmir na Turquia, entre 130 e 140 de uma família cristã de origem grega. Ainda jovem, conhece São Policarpo, bispo daquela cidade e discípulo de São João.
Por volta do ano 170, se transferiu para a Gália (antiga França), para anunciar o Evangelho àquelas populações. Após a trágica morte na prisão de Dom Patinus em 177, Irineu foi chamado para sucedê-lo á frente da cidade de Lyon e a partir de então se dedicou totalmente ao ministério pastoral. Sua atuação encerra em 202, quando foi martirizado durante o massacre de cristãos de Lyon sob o comando do imperador Lúcio Sétimo Severo. Irineu foi sepultado na Igreja de São João, que mais tarde foi chamada de Santo Irineu. Em 1562 seu túmulo foi destruído e seus restos mortais dispersos pelos huguenotes durante as guerras de religião.
Três novos Veneráveis
No encontro com o cardeal Marcello Semeraro, o Papa Francisco autorizou a Congregação para as Causas dos Santos a promulgar os decretos relativos ao reconhecimento das virtudes heroicas de três Servos de Deus, todos italianos, que agora se tornam Veneráveis. São eles: Dom Francesco Saverio Toppi, irmã Maria Teresa De Vicenti e irmã Gabriella Borgarino.
Um homem apaixonado por Cristo e que amava as pessoas
Dom Francesco Saverio Toppi, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, arcebispo de Pompeia, nasceu em Brusciano (Nápoles), em 26 de junho de 1925, em uma família camponesa. Entrou no Seminário franciscano capuchinho de Sorrento aos 11 anos, sendo ordenado sacerdote em 29 de junho de 1948. Posteriormente, obteve doutorado em História Eclesiástica na Pontifícia Universidade Gregoriana. De 1959 a 1968 foi ministro provincial da Província de Nápoles, em 1971 ministro provincial de Palermo e, cinco anos mais tarde, foi eleito definidor geral da Ordem.
Terminado o encargo em Roma no ano de 1982, retornou à sua Província, unindo-se aos seus confrades com grande simplicidade. Em 13 de outubro de 1990, foi nomeado arcebispo prelado de Pompeia e, ao mesmo tempo, delegado pontifício para o santuário mariano. Em 2000, tendo atingido o limite de idade, apresentou a renúncia ao cargo, que foi aceita pelo Papa João Paulo II em 2001. Após três anos, mudou-se para a enfermaria dos Frades Capuchinhos em Nola, onde faleceu em 2 de abril de 2007.
Dom Toppi era um homem apaixonado por Cristo, profundamente devoto de Maria, desprendido dos interesses pessoais, preocupado apenas com o bem dos fiéis. Frequentemente, em suas visitas aos doentes, se privava do pouco que tinha para dar aos necessitados. A sua confiança no Senhor era inabalável, mesmo nos momentos mais difíceis. Sua existência foi acompanhada de fenômenos místicos e ele viveu a “noite escura”, uma provação espiritual que o atormentou por vários anos.
O persistir do equilíbrio humano e espiritual que sempre caracterizou seu ministério, foi possível graças também à amizade com personalidades de extraordinária santidade de vida, como o confrade São Pio de Pietrelcina, ou de profunda espiritualidade, como a serva de Deus Chiara Lubich, pertencente ao Movimento dos Focolares.
Uma alma imbuída de fé e amor
“O diário de Dom Toppi contém páginas de elevado nível místico, repletas de uma experiência de Deus que, às vezes, o levou, como ele mesmo diz, a ‘tocar o céu’, não sem profundas provações interiores que o purificaram e o levaram aos pontos mais elevados da comunhão com Deus”.
É o que se lê no comunicado do Santuário de Pompéia, que expressa a alegria do anúncio da quinta-feira, 20, para toda a Igreja local e para os devotos de Nossa Senhora do Rosário.
Do novo Venerável, são recordados alguns trechos de uma oração a Maria escrita por ele e ainda hoje recitada diariamente no Santuário: “Ó Maria, (...) que a Igreja seja um só coração e uma só alma... Mãe da Igreja e da Humanidade! Comunica-nos o impulso missionário do teu Coração para a nova evangelização e impulsiona-nos pelos caminhos do mundo para proclamar o Evangelho com vida”.
Por ocasião da abertura da investigação diocesana, o atual arcebispo de Pompeia, Dom Tommaso Caputo, recordou que nele “percebeu-se não apenas o pregador, mas uma alma toda imbuída de fé e amor”.
Confiança ilimitada em Deus
Maria Teresa De Vincenti, nascida Raffaella, é a Fundadora da Congregação das Pequenas Operárias dos Sagrados Corações (Congregationis Sororum Parvarum Operariarum a SS. Cordibus). Nasceu em 1º de maio de 1872 em Acri (Cosenza) em uma família de classe média. Ainda muito jovem, conheceu o beato Francesco Maria Grego, pároco de Acri, e começou a se dedicar às crianças abandonadas e aos doentes. Ao longo dos anos, continuou sua colaboração, participando em 1892 da fundação criada pelo mesmo padre: a Pia União das “Pequenas Operárias dos Sagrados Corações”. Maria Teresa ingressou na Ordem Terceira de São Domingos mas, em 1898, junto com algumas companheiras, mudou-se para uma pequena casa, para iniciar a vida comum, baseada na observância da primeira regra escrita pelo Beato Greco.
Em 17 de fevereiro de 1902 o novo Instituto, cujo campo de ação ia da educação aos abrigos para idosos abandonados, hospitais e escolas, recebeu a aprovação diocesana. Em 1931 tornou-se superiora geral, exercendo essa função até sua morte em Acri, no dia 23 de novembro de 1936. Ao longo de toda sua vida, Maria Teresa alimentou sua fé com intensa vida de oração. Ela desejava poder anunciar a fé até o martírio. Maria Teresa viveu os sofrimentos abandonando-se em Deus com uma confiança ilimitada, tentando acolher a vontade de Deus em tudo. O amor ao próximo, vivido com humildade e solicitude, era o sinal visível do seu caminho para Deus.
Serenidade, humildade e fortaleza
A terceira Serva de Deus agora reconhecida Venerável é Gabriella Borgarino, no século Teresa, da Sociedade das Filhas da Caridade. Nascida no seio de uma família de modestas condições econômicas em 2 de setembro de 1880 em Boves (Cuneo), começou a trabalhar aos 10 anos. Em 1899 foi acolhida na Congregação das Filhas da Caridade no Hospital de Fossano e, em 1902, recebeu o hábito e foi enviada primeiro para a Casa da Misericórdia de Argera e depois para Lugano, onde se encarregou do serviço de cozinha. Neste período, viveu algumas experiências místicas. Em 1919, foi transferida para a comunidade de Grugliasco, depois para Luserna, na região de Turim. Ali, entre 1936 e 1937, Jesus apareceu-lhe, inspirando a exclamação: “Providência Divina do Coração de Jesus, providenciai”, que depois se espalha por todo o mundo.
Gabriella morreu em Luserna no dia 1º de janeiro de 1949. No centro de sua espiritualidade, estava o Sagrado Coração de Jesus e uma fé absoluta na providência – da qual ela estava convicta – que guia a história de todos os homens. Durante a “Gripe Espanhola”, Gabriella se dedicou a ajudar os infectados. Dentro da Congregação, realizou sempre com um sorriso as humildes tarefas que lhe foram confiadas. Além disso, aceitou com serenidade e coragem a doença que a levou à morte. Sua fama de santidade se difundiu até nossos dias, graças também ao grupo de oração que se refere a ela e sua espiritualidade.
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