Cardeal Re: Sodano, dons intelectuais e do coração combinados com alto senso do dever
Alessandro Di Bussolo - Cidade do Vaticano
"Muitos de nós puderam apreciar de perto o elevado sentido do dever do cardeal Sodano, seus dons intelectuais e de coração, sua sensibilidade para os propósitos pastorais da ação da Igreja no mundo, sua sabedoria em avaliar acontecimentos e situações e sua disponibilidade em ajudar, buscando soluções adequadas em cada caso".
Assim o decano do Colégio Cardinalício, cardeal Giovanni Batista Re, recordou em sua homilia do saudoso cardeal Angelo Sodano - falecido na noite da última sexta-feira, 27 de maio - que por 15 anos foi um dos principais colaboradores de São João Paulo II e mais tarde de Bento XVI. A Missa de exéquias foi celebrada no Altar da Cátedra da Basílica de São Pedro, no final da manhã desta terça-feira.
"Ele acreditou firmemente em Cristo e o seguiu fielmente"
Por dez anos, Re e Sodano trabalharam juntos na Secretaria de Estado. De fato, do final de 1989 a 2000, o cardeal lombardo, 6 anos mais novo, serviu na Secretaria de Estado como substituto para assuntos gerais, enquanto o falecido cardeal piemontês era primeiro pró-secretário e depois secretário de Estado do Papa Wojtyla.
Em seus sessenta anos de serviço à Santa Sé, desde quando era um jovem diplomata nas Nunciaturas do Equador, Uruguai e Chile, até sua renúncia ao cargo de decano do Colégio Cardinalício no final de 2019, Angelo Sodano - sublinha o cardeal Re - “acreditou firmemente em Cristo e o seguiu fielmente, servindo-o com amor e dedicação à Igreja e ao seu Vigário”.
Amar a Igreja "atuando em suas instituições"
O tema do amor à Igreja, esclarece o decano, era familiar ao cardeal Sodano, que várias vezes nas suas homilias ou nas suas intervenções citou o livro do cardeal Ballestrero "Esta Igreja a ser amada", de 1992, "enfatizando que não basta acreditar no mistério da Igreja, mas é necessário amá-la não de forma abstrata, mas atuando em suas instituições, compartilhando os problemas cotidianos de uma Igreja que ensina, de uma Igreja que santifica e de uma Igreja que guia na caridade".
Seu testamento espiritual, escrito nos anos 90
A certeza de que a morte "é a porta que nos abre o caminho" que leva "a um encontro pessoal com Deus", porque "temos um destino de eternidade - explica o Cardeal Re ao apresentar sua homilia – iluminou toda a existência do cardeal Angelo Sodano, a quem o Senhor chamou do leito de um hospital onde estava internado há três semanas”.
E recorda que "há quatro anos, tendo chegado aos noventa anos", o cardeal Sodano, em seu testamento espiritual escreveu para renovar - enquanto aguarda o chamado do Senhor - seu "ato de fé, de esperança e de caridade, como o aprendeu desde a infância no colo da minha mãe”. Olhava para o Senhor, "esperando que um dia me receba misericordiosamente em seus braços", e a Maria Santíssima, "invocada desde jovem como a 'Porta do Paraíso'".
As missões no Leste Europeu e o serviço do núncio no Chile
Do serviço à Santa Sé do cardeal falecido, o decano do Colégio Cardinalício recorda também o período, de 1968 a 1977, no então Conselho para os Assuntos Públicos da Igreja, sob a guia do cardeal Agostino Casaroli, quando monsenhor Sodano "dedicou-se às relações da Sé Apostólica com a Europa Oriental e teve a oportunidade de visitar a Romênia, a Hungria e a Alemanha Oriental. A Europa era então dividida em dois blocos”.
Recorda então seu serviço como núncio apostólico no Chile de 1977 a 1988, colaborando na iniciativa de mediação na disputa entre Chile e Argentina pelo território do Beagle, que o Papa João Paulo II havia confiado ao cardeal Antonio Samoré. “Foram anos difíceis para o Chile – sublinha Re – também por causa da ditadura do general Pinochet”.
Secretário de Estado, "fez o máximo a favor da paz"
Em maio de 1988, o Papa Wojtyla o chamou de volta do Chile para Roma, “nomeando-o secretário para as relações com os Estados; dois anos depois, nomeou-o pró-secretário de Estado e, pouco depois, cardeal e secretário de Estado, cargo que continuou a ocupar também com o Papa Bento XVI por um ano e meio”.
“Nos quase 16 anos em que foi o primeiro colaborador do Papa, trabalhou com competência e dedicação em favor da paz", em momentos de particular complexidade desde o "fim da guerra fria, até a conflito no Golfo Pérsico, à guerra no Iraque, aos conflitos nos Balcãs, ao trágico 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque e ao subsequente crescimento do terrorismo no mundo”.
O último rito presidido pelo Papa
Ao final da celebração, o Papa Francisco presidiu o rito da Ultima Comendatio e da Valedictio.
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