Francisco: Scalfari, o talento de um leigo fascinado pelo divino
Alessandro De Carolis – Vatican News
"Eugenio foi um intelectual aberto à contemporaneidade, corajoso, transparente em contar seus medos, nunca nostálgico do passado glorioso, mas projetado para frente, com uma pitada de desilusão, mas também grandes esperanças de um mundo melhor." Três linhas mostram o retrato de um homem e sua interioridade. Este é Eugenio Scalfari segundo a lembrança que permaneceu impressa no Papa Francisco, a de um "amigo fiel" com quem trocar reflexões sobre os grandes temas da contingência humana e da eternidade de Deus, sobre as coisas terrenas e as da alma.
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O Papa recorda sua amizade com o jornalista falecido, nesta segunda-feira (14/07), aos 98 anos, nos textos de Paolo Rodari jornalista de La Repubblica, e de Domenico Agasso do jornal La Stampa, publicados nesta sexta-feira (14/07). Scalfari fundou o jornal La Repubblica, em 1976, e o dirigiu por 20 anos, transformando-o num ponto de referência na informação italiana. Nas colunas desses dois jornais, Francisco recorda os encontros na Casa Santa Marta quando o jornalista, "que dizia ser cético", contou como estava tentando entender o sentido da existência e da vida, analisando o cotidiano e o futuro através da meditação sobre experiências e grandes leituras". Uma conversa intensa com Scalfari no papel de explorador que "sempre se perguntava sobre a presença de Deus, sobre as coisas últimas", igualmente pronto para refletir "profundamente também sobre o significado da fé".
Um entusiasta ávido por conhecimento
O Papa refere-se a conversas "agradáveis e intensas". Os "minutos com ele passavam rapidamente, marcados pelo confronto sereno das respectivas opiniões e pela partilha de nossos pensamentos e ideias, e também por momentos de alegria". No diálogo também havia espaço para a vida cotidiana e os temas dos "grandes horizontes da humanidade do presente e do futuro, da escuridão que pode envolver o ser humano e da luz divina que pode iluminar o caminho". Intercâmbios partilhados com "um homem de extraordinária inteligência e capacidade de escuta", ávido "pelo conhecimento e por testemunhos que pudessem enriquecer a compreensão da modernidade", um "entusiasta e apaixonado por seu trabalho de jornalista", cujo percurso profissional "muitos de seus colaboradores e sucessores estão seguindo".
Sensível à atração de Deus
Na memória do Papa permanece viva a percepção da curiosidade de Scalfari sobre a escolha de seu nome Francisco, sobre seu "trabalho de pastor universal da Igreja ", sobre o compromisso da Igreja com o diálogo inter-religioso e ecumênico, sobre o mistério de Deus como "fonte de paz e fonte de caminhos de fraternidade concreta" entre pessoas, nações e povos. Interesses sobre os quais o fundador de La Repubblica, observa o Papa, "raciocinava em voz alta" mesmo em seus artigos, entrelaçando-os com o fascínio despertado nele "por várias questões teológicas, como o misticismo na religião católica e a passagem do Gênesis em que se diz que o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, e pela composição e características das populações que habitarão a Casa comum nas próximas décadas".
Uma recordação preciosa
Ao dizer que está próximo da dor da família e de quem o conheceu, Francisco conclui: "A partir de hoje vou guardar ainda mais no coração a bela e preciosa lembrança das conversas que tive com Eugenio, que aconteceram durante esses anos de pontificado. Rezo por ele e pelo consolo dos que choram por ele. Confio sua alma a Deus, por toda a eternidade."
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