Papa aos iraquianos: diálogo e fraternidade, caminho para alcançar a paz
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
De 5 a 8 de março de 2021, o Papa Francisco realizou uma visita histórica ao Iraque, onde foi "como peregrino penitente para implorar do Senhor perdão e reconciliação depois destes anos de guerra e terrorismo, para pedir a Deus a consolação dos corações e a cura das feridas". E lá chegou "como peregrino de paz, que repete: «Vós sois todos irmãos» (...), mendigando fraternidade", animado pelo desejo de rezar juntos e caminhar juntos, "incluindo os irmãos e irmãs doutras tradições religiosas, sob o signo do pai Abraão que reúne numa única família muçulmanos, judeus e cristãos." Uma peregrinação que deixou marcas não só na sociedade iraquiana, mas também em seu coração.
Mas a violência dos últimos dias registrada em algumas áreas de Bagdá, recebeu a atenção do Santo Padre na Audiência Geral desta quarta-feira, que reiterou que o diálogo e a fraternidade são o caminho para alcançar a convivência pacífica:
Acompanho com preocupação os acontecimentos violentos ocorridos em Bagdá nos últimos dias. Peçamos a Deus na oração para dar paz à população iraquiana. No ano passado tive a alegria de visitá-la e senti de perto o grande desejo de normalidade e convivência pacífica entre as várias comunidades religiosas que a compõem. O diálogo e a fraternidade são o principal caminho para enfrentar a atual dificuldade e alcançar esse objetivo.
Após os protestos, a calma parece voltar ao Iraque, mas o saldo dos confrontos de segunda-feira na 'Zona Verde' de Bagdá é pesado: pelo menos 30 mortos e mais de 700 feridos. A situação foi aparentemente contornada pelo líder xiita Moqtada al-Sadr que, após anunciar sua despedida da política - que muitos não acreditam que irá realmente acontecer -, condenou o uso de armas e violência e ordenou a seus partidários que atacaram a 'Zona Verde' de Bagdá - a área protegida no centro da capital iraquiana que abriga instituições governamentais e embaixadas - a se manifestarem de forma pacífica e imediatamente retirarem-se das ruas dentro e ao redor da zona verde. Apelos que levaram o exército iraquiano a suspender o toque de recolher.
"Isto não é uma revolução", afirmou al-Sadr, que também pediu desculpas públicas pelo ocorrido. Declarações que foram acolhidas com prazer por toda a comunidade internacional que, quase por unanimidade, fez pedidos para que se evitasse uma escalada.
"Um exemplo de patriotismo", é como o primeiro-ministro cessante Mustafa Kazimi definiu o pedido de al-Sadr para acabar com a violência, enquanto os seguidores começavam a retirar e desmontar as tendas do protesto erguidas nas últimas semanas em frente ao Parlamento iraquiano.
No entanto, a situação no país continua muito tensa, pois desde outubro de 2011, quando após as eleições, que viram o partido de al-Sadr conquistar a maioria das cadeiras, não foi possível formar um governo.
Especialistas em Iraque não acreditam que, pelo menos no momento, haja risco de guerra civil. Mas os distúrbios, seriam fruto de uma rivalidade no campo xiita entre os partidários de al-Sadr e as milícias pró-iranianas, uma luta interna pelo poder.
Em 31 de julho, o Patriarca da Bagdá dos Caldeus, cardeal Louis Raphaël I Sako, havia feito um renovado e sincero apelo aos líderes políticos e às autoridades religiosas do país para que não esperassem mais, mas agissem imediatamente para remediar a situação, antes que se desencadeasse um tsunami que devastasse a todos.
O purpurado recordou na ocasião que "o país encontra-se em uma fase de incandescência, devido ao impassedo quadro político e aos desempregados e pobres que descem às ruas para manifestar seu dissenso", fazendo um apelo a todos para que removessem "as causas profundas e estruturais que geram este caos", e reconhecessem o fracasso do sistema político, "baseado na distribuição de cargos políticos e institucionais com bases sectárias”. A abordagem sectária e o chamado “sistema de cotas", segundo o Patriarca, estão na origem das injustiças e da corrupção. Portanto, ele convida a encontrar “novas abordagens e novos caminhos” necessários para a criação de um sistema eficiente, que esteja realmente a serviço do povo e não dos interesses partidários.
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