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Papa a peregrinos de El Salvador: como os mártires, lutar pelos descartados e denunciar injustiças

Diante de peregrinos em agradecimento, sobretudo, à beatificação de Pe. Rutílio Grande (1928-1977), Francisco enalteceu sobre a paixão que move os mártires. Um chamado para abraçar a cruz de Jesus, que é também para nós, ao ajudar pobres, presos, doentes e descartados. Um caminho de oração, mas também “de luta, às vezes tem que tomar a forma de denúncia, de protesto, não político, nunca, mas sempre evangélico. Enquanto houver injustiça”, disse o Papa, “ali deve estar a nossa voz contra o mal".
Ouça a reportagem com a voz do Papa

Andressa Collet - Vatican News

A última audiência na agenda desta sexta-feira (14) do Papa Francisco foi em agradecimento à beatificação de Padre Rutílio Grande García (1928-1977), realizada em janeiro deste ano em El Salvador. A Sala Clementina, no Vaticano, recebeu cerca de 400 peregrinos provenientes daquele país e devotos do sacerdote jesuíta, sempre incansável na luta contra as desigualdades sociais, assassinado em 1977, pouco antes da guerra civil de 1980 a 1992 que deixou 75 mil mortos e 8 mil desaparecidos. Conhecido como "Padre Tilo", ele era amigo de São Oscar Romero, também assassinado em 1980.

Seguir o exemplo de unidade à Igreja

Em discurso em espanhol aos participantes da peregrinação, promovida pela Conferência Episcopal de El Salvador e que também era em agradecimento à beatificação de Comes Spessotto, Manuel Solórzano e Nelson Rutílio Lemus, o Papa descreveu a história dos mártires como "um dom imenso e gratuito do Senhor" com um "significado que sempre permanecerá no mistério de Deus". Uma realidade de "união mística" com Jesus, continuou Francisco, que deve ser aprofundada nas comunidades, "porque os problemas não terminaram, a luta pela justiça e pelo amor do povo continua e, para lutar, não bastam palavras, não bastam doutrinas, o que é necessário, mas não são suficientes; testemunhos são suficientes, e isso é o que temos que seguir".

Recentemente, o cardeal Rosa Chávez disse que quando o Papa Francisco era sacerdote chegou a conhecer o Pe. Rutílio, na época, provincial na Argentina. Tanto que o Pontífice voltou a demonstrar essa proximidade na audiência desta sexta-feira (14) quando novamente confidenciou a sua devoção pessoal:

“Eu senti muito a vida desses mártires, vivi muito ela, vivi o conflito de pró e contra. E é uma devoção pessoal: na entrada do meu escritório, tenho um pequeno quadrinho com um pedaço de pano ensanguentado de São Oscar Romero e uma catequese pequenininha de Rutílio Grande, para que me lembrem que há sempre injustiças pelas quais tem que lutar. E eles me mostraram o caminho.”

O Pontífice, então, citou a homilia de Oscar Romero nas exéquias de Rutílio Grande em 1977, quando motivou a se deixar inspirar pelo amor à Igreja, vivendo a fé, para "a solução dos nossos grandes problemas sociais". Palavras daquela época que poderiam ser, segundo o Papa, "um bom itinerário para 'remoer' em oração":

"Nossas realidades certamente não são as mesmas de então, mas o chamado ao compromisso, à fidelidade, a colocar a fé em Deus e o amor pelo irmão em primeiro lugar, a viver pela esperança, é atemporal porque é o Evangelho, um Evangelho vivo, que não se aprende com os livros, mas com a vida daqueles que nos transmitiram o depósito da fé."

Caminhar junto aos mártires

Em tempos de sinodalidade, lembrou Francisco, "temos nesses mártires o melhor exemplo daquele 'caminhar juntos'", e justamente se pensarmos que Pe. Rutílio foi martirizado enquanto se dirigia à sua cidade:

"A mesma mensagem é contida em uma homilia do Padre Rutílio, quando diz que esse caminhar juntos não pode se conformar com um 'passear' para conhecer coisas novas, não é um passear. Não. Um passear do santo em uma imagem devocional, por exemplo, implica, acima de tudo, assumir o testemunho da fé, da esperança e do amor que este santo nos deixou em sua vida."

A cruz de Jesus, de oração e de denúncia

Ao finalizar o discurso, Francisco enalteceu que a paixão que movia esses mártires deve ser um chamado a todos - bispos, sacerdotes e agentes de pastoral - para abraçar "a cruz que o Senhor oferece a cada um de nós pessoalmente". Uma cruz, acrescentou ele, que é de todos e que, com a força da fé, pode ajudar a servir os que passam maior dificuldade: os pobres, os presos, quem não consegue pagar as contas, os doentes, os descartados.

“E este projeto de caminho, de jornada espiritual, de oração, de luta, às vezes tem que tomar a forma de denúncia, de protesto, não político, nunca, mas sempre evangélico. Enquanto houver injustiça, enquanto não forem ouvidas as justas exigências do povo, enquanto um país mostrar sinais de não amadurecer no caminho da plenitude do Povo de Deus, ali deve estar a nossa voz contra o mal, contra a tibieza na Igreja, contra tudo que nos afasta da dignidade humana e da pregação do Evangelho.”

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14 outubro 2022, 13:00