Dom Martinelli: a viagem do Papa ao Bahrein inspira novas relações internacionais
Emanuela Campanile – Vatican News
"Amanhã, partirei para uma viagem apostólica ao Reino do Bahrein. Será uma viagem marcada pelo diálogo: com efeito, participarei de um Fórum que tematiza a imprescindível necessidade que Oriente e Ocidente venham ainda mais ao encontro um do outro pelo bem da convivência humana". Este foi o tuíte do Papa na véspera da sua viagem ao Bahrein que inicia no dia 03 de novembro e que levará o Pontífice novamente à região árabe, após a visita histórica aos Emirados Árabes Unidos em fevereiro de 2019, quando em Abu Dhabi ele assinou o documento histórico sobre a fraternidade humana junto com o Imame de Al-Azhar Al-Tayyeb. Desta vez, o Papa será recebido por um país com maioria de confissão xiita, e Dom Paolo Martinelli, Vigário Apostólico para o Sul da Arábia - que inclui os Emirados Árabes Unidos, Iêmen e Omã - enfatiza os aspectos da continuidade entre essas duas viagens apostólicas
Em que contexto está ocorrendo esta visita do Papa ao Bahrein?
Esta segunda visita evidencia qye há muito significado em relação à primeira. A visita de Francisco a Abu Dhabi foi de fato um evento muito importante para a Igreja, mas também para a própria sociedade, inspirando profundamente o diálogo inter-religioso, a convivência, o confronto pacífico, a partilha dos bens espirituais e a possibilidade de promover precisamente através de boas relações entre pessoas de diferentes credos uma sociedade mais humana e mais fraterna, especialmente partindo do grande e profético documento sobre a fraternidade humana de Abu Dhabi assinado pelo Papa e pelo Grão-Imame de Al-Azhar. Eu diria que este encontro no Bahrein está acontecendo ainda dentro da ressonância de Abu Dhabi e acho que ele tem a possibilidade de aprofundar e retomar as motivações daquele encontro e continuar a inspirar tanto a comunidade cristã quanto os católicos, mas eu diria que todas as pessoas que também pertencem a diferentes religiões e, portanto, pode realmente ser um momento muito significativo. Certamente estamos em uma contingência histórica muito, muito séria. O conflito dentro da Europa é obviamente algo que é sentido em todo o mundo, e por isso acredito que este encontro do Papa - como seus recentes encontros anteriores - na verdade acontece em um momento da história que pode ser fortemente "inspirador" para uma promoção da paz e da reconciliação real. Acredito que o Golfo mostre a imagem de uma sociedade composta, de uma sociedade formada por muitas culturas diferentes e muitas espiritualidades diferentes, e acredito que este encontro possa ser uma grande provocação para repensar as relações internacionais e poder inspirar boas relações,na busca de uma vida melhor para todos, tornando possível descobrir como as diferenças, as diversidades - dentro de um amor pelo bem comum - possam ser um bem e não uma objeção. Este encontro, portanto, ocorre em um momento de grande preocupação global, mas em sua essência está precisamente a ideia de uma possível coexistência do bem, da paz, da reconciliação e do apoio à boa vida para todos. Pode de fato ser uma bênção não apenas para as regiões do Golfo, mas também inspirar fortemente uma visão diferente das relações internacionais.
Na sua opinião, qual é a característica que torna a Igreja na Arábia única?
Há mais de uma característica. Por um lado, é essencialmente uma Igreja de migrantes, em sua composição majoritária, e isto significa ao mesmo tempo ser uma Igreja que é o povo de Deus e composta de diferentes povos. Há muitas nacionalidades, culturas, mesmo entre os próprios católicos presentes no Golfo, então o grande desafio para nós, como Igreja, é captar a pluriformidade da experiência cristã com uma riqueza a ser vivida em profunda unidade. Esta é a primeira característica fundamental: é uma Igreja de migrantes, portanto composta de diferentes povos, em todos os níveis. Tanto os fiéis leigos como as pessoas consagradas, mas também o clero. O clero que está presente em toda a região do Golfo vem de diferentes realidades, de diferentes nações, e também pertence a diferentes institutos de vida religiosa. Portanto, é interessante esta capacidade - que é sempre um desafio, é claro - de manter a diversidade unida em favor da unidade. Essa é a primeira grande coisa. O outro grande desafio é certamente o fato de ser uma Igreja minoritária, que se encontra dentro de países com mil características diferentes, e é certamente uma minoria com respeito à realidade islâmica e aos fiéis muçulmanos. Isto nos impulsiona a buscar o essencial na vida cristã. Isso nos impele a buscar sempre a boa vida do Evangelho, a evitar de todas as maneiras qualquer forma de proselitismo e, em vez disso, a favorecer o diálogo e o testemunho da boa vida, especialmente testemunhando serenamente a alegria do Evangelho e de nossa fé. Aqui creio que estas duas características marcam profundamente a vida da Igreja: ser um povo de migrantes e uma igreja de migrantes, e ser uma igreja de minorias que visa o essencial, ou seja, testemunhar a boa vida do Evangelho.
Como descrever a fé ou a forma como se vive a fé no Vicariato Apostólico e como ela ajuda a vida diária daqueles que deixaram sua pátria para poder comer, no sentido mais verdadeiro da palavra, e alimentar suas famílias?
Ser um migrante pertencente à Igreja é algo que nos faz procurar vínculos significativos na experiência de fé e na Igreja. Uma pertença que dá força, que dá coragem, que se sustenta nas dificuldades a enfrentar. Deste ponto de vista, a fé dos migrantes é muito simples e essencial, ela visa encontrar na experiência cristã um apoio para viver as dificuldades de cada dia. Estou muito impressionado com o fato de ver tantos fiéis muito envolvidos na vida da Igreja. Ver as igrejas sempre cheias quando há celebrações e pais que desejam comunicar e transmitir a fé a seus filhos. Há também um envolvimento muito forte dos voluntários, a vontade de fazer catequese, de se encontrar mesmo depois do momento da celebração eucarística. Todos estes são sinais de uma fé viva que quer encontrar na Igreja um casa com as portas abertas. Uma casa na qual se pode encontrar a si mesmo e assim também encontrar sua própria identidade, e por outro lado também encontrar a força para viver serenamente nas relações com todos. Esta é a imagem de uma casa de portas abertas para encontrar o abraço da comunidade cristã, mas também a força para viver em boas relações com todos aqueles com quem se vive diariamente.
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