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França, o Papa aos bispos: a Igreja novamente abalada por abusos

Mensagem de Francisco assinada pelo cardeal Parolin à Conferência Episcopal reunida em Lourdes para a sessão plenária. Sobre o caso do bispo Santier: "Não desanimem, as pessoas decepcionadas precisam de vocês". O convite à "paternidade" para aqueles que se sentiram desorientados pelo Motu Proprio "Traditionis Custodes" e a refletir "sobre como ajudar a sociedade a encontrar leis justas sobre o fim da vida".

Salvatore Cernuzio, Silvonei José – Vatican News

Não desanimar e garantir a proximidade às vítimas de abusos, como também às pessoas desiludidas e provadas pelos escândalos. Em carta assinada pelo cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, o Papa assegura oração e "apoio fraterno e espiritual" aos bispos franceses reunidos em Lourdes para a assembleia plenária de outono. Um apoio necessário "em um momento em que a Igreja na França está novamente abalada pela tragédia dos abusos cometidos por alguns de seus pastores", diz a missiva. A referência é ao caso de dom Michel Santier, bispo de Luçon e depois de Créteil, que renunciou e foi sancionado por abuso sexual cometido nos anos 90 sobre dois homens adultos no contexto agravante de um acompanhamento espiritual e, em particular, durante o sacramento da confissão.

O caso do bispo Santier

Um caso, que emergiu nas últimas semanas na mídia nacional, batizado de "o caso Santier", que "perturbou o programa planejado desta assembleia", como disse o presidente da Conferência Episcopal, dom Éric de Moulins-Beaufort na abertura da sessão plenária na quinta-feira (03/11), dando 'vazão' à raiva e à vergonha dos prelados, mas sobretudo das 'pessoas que foram vítimas, daqueles que se manifestaram há dois anos e mais recentemente, e daqueles que, talvez, ainda não se manifestaram'.

Avançar com ousadia e discernimento

Neste momento complexo e delicado, o Papa convida os bispos "com os olhos fixos na cruz de Cristo, a não desanimarem, mas perseverarem na certeza de que o Espírito Santo acompanhará seus esforços, que mais uma vez serão objeto de seu trabalho". “Ele, acrescentou o Pontífice, conhece a vontade de vocês de restaurar à Igreja da França, o seu verdadeiro rosto missionário e os encoraja a seguirem adiante com ousadia e discernimento".

Proximidade ao povo

A prioridade neste momento, salientou o Papa Francisco, é "tratar as feridas do povo de Deus": "As vítimas destes abusos, antes de tudo, mas também todas as pessoas escandalizadas, decepcionadas e provadas, especialmente seus sacerdotes, cujo ministério tão belo é desonrado e que se tornou ainda mais difícil, e que precisam de sua proximidade mais do que nunca".

Paternidade aos fiéis desorientados

Finalmente, o Papa convida também à "máxima solicitude" e "paternidade" para com "aquelas pessoas - especialmente jovens, sacerdotes e leigos - que se sentiram desorientadas pelo Motu Proprio Traditionis Custodes", a carta apostólica de julho de 2021 com a qual o Papa Francisco redefiniu as formas com as quais o missal pré-conciliar deve ser usado. Estes fiéis que dizem estar "confusos" são "muitas vezes ovelhas feridas que precisam de apoio, tempo para serem ouvidas", lê a carta, onde, no entanto, é reiterado o convite aos bispos trabalharem "na implementação" do Motu Proprio.

Leis justas sobre o fim da vida

No texto assinado por Parolin, não falta referência à iniciativa tomada pelo presidente Emmanuel Macron de lançar um plano para uma consulta de seis meses aos cidadãos sobre a eutanásia. O Papa exorta a colocar no centro "o cuidado e o respeito pelos mais vulneráveis" porque estes "farão parte de seu trabalho". Junto com isto, o convite para refletir "sobre como ajudar sua sociedade a encontrar leis justas sobre o fim de vida". "O Santo Padre", lê-se nas últimas linhas da carta, "reza para que um debate baseado na verdade e livre de ideologia possa ser estabelecido em seu país, e que sua voz possa ser ouvida".

A abertura dos trabalhos com o arcebispo Moulins-Beaufort

A mensagem de Francisco abriu na quinta-feira a sessão plenária da Conferência Episcopal Francesa (CEF), em curso - como mencionado - em Lourdes. O mesmo lugar escolhido pelos bispos para a assembleia do ano passado, que também foi agravado pela dramática questão dos abusos, após a publicação do Relatório da Comissão independente Sauvé sobre casos de abuso sexual na Igreja francesa de 1950 até hoje. "Devemos enfrentar, ainda mais intensamente do que no ano passado, se possível, este drama espiritual", disse o arcebispo dom Moulins-Beaufort em seu discurso de abertura. Em seguida, ele voltou seu pensamento "para o povo diocesano de Créteil que se sentiu duplamente traído" e "para aqueles que confiaram em nossas decisões no ano passado e que mergulharam de novo na dúvida e na preocupação".

Nós mesmos", disse o prelado, "nos reunimos com sentimentos mistos de raiva, vergonha, impotência, incompreensão, talvez até desconfiança entre nós, e sentimos que a raiva, vergonha, desânimo e cansaço dos fiéis mais comprometidos, diáconos, sacerdotes, seminaristas, atingiu um novo nível, sem dúvida insuportável para alguns". Todos nós fomos abalados, pessoalmente e em nossa autoridade apostólica no serviço ao Senhor Jesus e ao povo de Deus". No entanto, a Igreja francesa - assegurou Moulins-Beaufort - continuará em seu caminho de renovação para "restaurar a confiança danificada ou perdida". 

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06 novembro 2022, 12:51