Busca

O Papa: os líderes religiosos não podem deixar de se comprometer e dar bom exemplo

No seu discurso por ocasião do Encerramento do Fórum “Oriente e Ocidente em prol da Coexistência Humana", nesta sexta-feira (04/11), o Papa Francisco convidou a considerar o Documento sobre a Fraternidade Humana, onde se almeja um encontro fecundo entre Ocidente e Oriente. E o Papa fez mais um apelo "pelo fim da guerra na Ucrânia e por sérias negociações de paz"

Jane Nogara - Vatican News

O primeiro compromisso da manhã desta sexta-feira (04/11) do Papa Francisco no Bahrein  foi a participação no Encerramento do Fórum “Oriente e Ocidente em prol da Coexistência Humana”. Francisco iniciou seu discurso recordando que a terra vista do alto apresenta-se como um vasto mar azul, que liga margens distintas. “Do céu”, disse o Papa, “parece recordar-nos que somos uma família: não ilhas, mas um único grande arquipélago. É assim que o Altíssimo nos quer, e bem pode simbolizar o seu anseio este país, um arquipélago de mais de trinta ilhas”.

Ouça e compartilhe!

Entre dois mares de sabores opostos

Em seguida recordou que contudo, vivemos tempos em que uma humanidade, interligada como nunca, se apresenta bem mais dividida do que unida. “E o nome do ‘Bahrein’ pode ajudar-nos a ir mais longe na nossa reflexão: os ‘dois mares’, que evoca, referem-se às águas doces das suas nascentes submarinas e às águas salobras do Golfo. De modo semelhante, encontramo-nos hoje perante dois mares de sabor oposto: por um lado, o mar calmo e doce da convivência comum, por outro, o mar amargo da indiferença, afligido por confrontos e agitado por ventos de guerra, com as suas devastadoras ondas sempre mais tumultuosas, com o risco de nos arrastar a todos”. E Francisco lamentou que Oriente e Ocidente assemelham-se cada vez mais a dois mares contrapostos. “Entretanto”, encorajou, “nós estamos aqui juntos, porque pretendemos navegar no mesmo mar, escolhendo a rota do encontro em vez da do confronto, o caminho do diálogo indicado por este Fórum: 'Oriente e Ocidente em prol da coexistência humana'".

O paradoxo mundial

Ponderando a questão disse ainda: “Impressiona este paradoxo: enquanto a maior parte da população mundial se encontra unida pelas mesmas dificuldades, atormentada por graves crises alimentares, ecológicas e pandêmicas, bem como por uma injustiça planetária cada vez mais escandalosa, uns poucos poderosos concentram-se decididamente numa luta por interesses de parte, desenterrando linguagens obsoletas, redesenhando áreas de influência e blocos contrapostos”. Alertando em seguida que “veremos multiplicar-se estas amargas consequências, se continuarmos a acentuar as oposições sem redescobrir a compreensão”, “se não deixarmos de distinguir de forma maniqueísta quem é bom e quem é mau, se não nos esforçarmos por compreender e colaborar para o bem de todos”. Concluindo este ponto disse:

“Estas opções estão diante de nós, porque, num mundo globalizado, só se avança remando juntos; ao passo que, navegando sozinho, vai-se à deriva”

Documento da Fraternidade Humana

Então Francisco convida a considerar o Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, onde se almeja um encontro fecundo entre Ocidente e Oriente. “Encontramo-nos aqui, crentes em Deus e nos irmãos, para rejeitar ‘o pensamento isolante’, aquele modo de ver a realidade que ignora o mar único da humanidade para se concentrar apenas nas suas próprias correntes”. Ao falar sobre os temas debatidos durante o Fórum o Papa disse que os líderes religiosos “não podem deixar de se comprometer e dar bom exemplo”.

“Assim, continuou Francisco, “queria delinear três desafios, que sobressaem do Documento sobre a Fraternidade Humana e da Declaração do Reino do Bahrein e sobre os quais se refletiu nestes dias. Dizem respeito à oração, à educação e à ação.

Oração e Coração

“Em primeiro lugar, a oração, que toca o coração do homem. Na realidade, os dramas que sofremos e as perigosas dilacerações que experimentamos, ‘os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração do homem’” (Gaudium et spes, 10).

“Por isso mesmo a oração, a abertura do coração ao Altíssimo, é fundamental para nos purificar do egoísmo, do isolamento, da autorreferencialidade, das falsidades e da injustiça.

“Quem reza, recebe no coração a paz, não podendo deixar de se fazer sua testemunha e mensageiro, convidando os seus semelhantes para não se tornarem reféns de um paganismo que reduz o ser humano àquilo que vende, compra ou com que se diverte, mas redescobrirem a dignidade infinita que cada um traz impressa”

Liberdade religiosa

Porém afirma ainda o Papa “para que isso possa acontecer, há uma premissa indispensável: a liberdade religiosa. A Declaração do Reino do Bahrein explica que ‘Deus nos orientou para o dom divino da liberdade de opção’ e, por conseguinte, ‘qualquer forma de coerção religiosa não pode levar a pessoa a uma relação significativa com Deus’”.

“Toda a coerção é indigna do Omnipotente, pois Ele não entregou o mundo a escravos, mas a criaturas livres, a quem respeita profundamente”

Educação e mente

“Se o desafio da oração tem a ver com o coração, o segundo desafio – a educação – diz respeito essencialmente à mente do homem” afirmou o Papa. “A Declaração do Reino do Bahrein afirma que ‘a ignorância é inimiga da paz’. É verdade que, onde faltam oportunidades de instrução, aumentam os extremismos e radicam-se os fundamentalismos”. “De facto, é indigno da mente humana crer que as razões da força prevalecem sobre a força da razão, usar métodos do passado para as questões presentes, aplicar os esquemas da técnica e da conveniência à história e à cultura do homem”. Explicando este ponto Francisco afirma: “Isto requer questionar-se, entrar em crise e saber dialogar com paciência, respeito e espírito de escuta; aprender a história e a cultura alheia. Assim se educa a mente do homem, alimentando a compreensão recíproca. Porque não basta dizer que somos tolerantes, é preciso abrir verdadeiramente espaço ao outro, dar-lhe direitos e oportunidades”.

Urgências educativas

O Papa descreveu em seguida três urgências educativas: “Em primeiro lugar, o reconhecimento da mulher na esfera pública: reconhecer o seu direito ‘à instrução, ao trabalho, ao exercício dos seus direitos políticos’. Em segundo lugar, “‘a tutela dos direitos fundamentais das crianças’, para que cresçam instruídas, assistidas, acompanhadas, não condenadas a viver nos mordimentos da fome e nos remordimentos da violência”. Por fim em terceiro lugar, “a educação para a cidadania, para viver juntos, no respeito e na legalidade. E, em particular, a importância do ‘conceito de cidadania’, que ‘se baseia na igualdade dos direitos e dos deveres’”.

Ação e as forças do homem

Por fim falou sobre o último dos três desafios: “aquele que diz respeito à ação – poder-se-ia dizer –, às forças do homem. A Declaração do Reino do Bahrein ensina que, ‘quando se prega ódio, violência e discórdia, profana-se o nome de Deus’”. “Com efeito”, concluiu o Papa, “não basta dizer que uma religião é pacífica, é preciso condenar e isolar os violentos que abusam do seu nome. E não basta sequer distanciar-se da intolerância e do extremismo, é preciso agir em sentido contrário”. E disse com firmeza:

“Por isso, é necessário interromper o apoio aos movimentos terroristas através do fornecimento de dinheiro, de armas, de planos ou justificações e também da cobertura mediática, e considerar tudo isto como crimes internacionais que ameaçam a segurança e a paz mundial. É preciso condenar tal terrorismo em todas as suas formas e manifestações”

Concluindo este ponto disse:

“O homem religioso, o homem de paz, opõe-se também à corrida ao rearmamento, aos negócios da guerra, ao mercado da morte. Não sustenta ‘alianças contra ninguém’, mas caminhos de encontro com todos: sem ceder a relativismos ou sincretismos de qualquer espécie, segue apenas uma estrada, a da fraternidade, do diálogo, da paz. Estes são os seus ‘sins’”. Da Praça Al-Fida' no Palácio Real de Sakhir em Awali, Bahrein, a voz do Papa sobe aos céus ao lançar um novo e sentido apelo 'pelo fim da guerra na Ucrânia e por sérias negociações de paz'".

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

04 novembro 2022, 08:45