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O Papa: o "comércio da morte" transforma a terra num arsenal, a paz deve ser enraizada

Em seu discurso ao Conselho Muçulmano de Anciãos, Francisco disse que "o Deus da paz nunca conduz à guerra, nunca incita ao ódio, nunca apoia a violência. Nós, que cremos n’Ele, somos chamados a promover a paz através de instrumentos de paz, como o encontro, pacientes negociações e o diálogo, que é o oxigênio da convivência comum".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco encontrou-se com os membros do Conselho Muçulmano de Anciãos, na Mesquita do Palácio Real Sakhir, em Awali, no Bahrein, na tarde desta sexta-feira (04/11).

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A palavra "paz" norteou o discurso de Francisco. O Pontífice reiterou que "o Deus da paz nunca conduz à guerra, nunca incita ao ódio, nunca apoia a violência". "Nós, que cremos n’Ele, somos chamados a promover a paz através de instrumentos de paz, como o encontro, pacientes negociações e o diálogo, que é o oxigênio da convivência comum. Entre os objetivos que vocês propõem, conta-se o de difundir uma cultura da paz baseada na justiça. Este é o caminho, aliás o único caminho, já que a paz é «obra da justiça»", sublinhou o Papa, reiterando que "a paz não pode ser apenas proclamada, deve ser enraizada. E isto é possível removendo as desigualdades e as discriminações, que geram instabilidade e hostilidade".

Precisamos cada vez mais de nos encontrar, conhecer e estimar

A seguir, Francisco disse que ficou impressionado ao ver como um hospede é acolhido no Bahrein, "não só com um aperto de mão, mas levando também a outra mão ao coração em sinal de afeto; como se dissesse: a tua pessoa não fica longe de mim, mas entra no meu coração, na minha vida. Com respeitoso afeto, também eu levo a mão ao coração, vendo cada um de vocês e bendizendo ao Altíssimo pela possibilidade de nos encontrarmos".

O Papa Francisco com o grão imame de Al-Azhar, Muḥammad Aḥmad Al-Tayyeb
O Papa Francisco com o grão imame de Al-Azhar, Muḥammad Aḥmad Al-Tayyeb

"Creio que precisamos cada vez mais de nos encontrar, conhecer e estimar, superando os preconceitos e as incompreensões da história em nome d’Aquele que é Fonte de Paz. Diante de uma humanidade cada vez mais ferida e dilacerada que, sob a veste da globalização, respira com dificuldade e medo, os grandes credos devem ser o coração que une os membros do corpo, a alma que dá esperança e vida às aspirações mais elevadas", disse o Papa, acrescentando:

Caros amigos, irmãos em Abraão, que creem no Deus único, os males sociais e internacionais, os males econômicos e pessoais, bem como a dramática crise ambiental, que caracteriza estes tempos e sobre a qual se refletiu hoje aqui, vêm em última análise do afastamento de Deus e do próximo. Temos, portanto, uma tarefa única e imprescindível: a de ajudar a reencontrar estas fontes de vida esquecidas, de levar novamente a humanidade a beber nesta antiga sabedoria, de aproximar os fiéis à adoração do Deus do céu e aos homens para os quais Ele fez a terra.

Encontro com os membros do Conselho Muçulmano de Anciãos, na Mesquita do Palácio Real Sakhir
Encontro com os membros do Conselho Muçulmano de Anciãos, na Mesquita do Palácio Real Sakhir

Oração e  fraternidade

Segundo o Papa, para se fazer isso, "os meios são essencialmente dois: a oração e a fraternidade. Estas são as nossas armas, humildes e eficazes".

Não devemos deixar-nos tentar por outros instrumentos, por atalhos indignos do Altíssimo, cujo nome de Paz é insultado por aqueles que creem nas razões da força, alimentam a violência, a guerra e o mercado das armas, «o comércio da morte» que, através de somas astronômicas de dinheiro, transformam a nossa Casa comum num grande arsenal. Por trás de tudo isto, quantas tramas obscuras e quantas dolorosas contradições!

A mesquita do Palácio Real Sakhir, local do encontro
A mesquita do Palácio Real Sakhir, local do encontro

Francisco convidou a pensar, "nas várias pessoas que são obrigadas a migrar da sua terra por causa de conflitos alimentados pela compra a preços acessíveis de armamentos já sem validade, para acabar depois identificadas e rejeitadas em outras fronteiras através de equipamentos militares cada vez mais sofisticados. E, assim, a esperança é morta duas vezes! Pois bem, perante estes trágicos cenários, enquanto o mundo segue as quimeras da força, do poder e do dinheiro, somos chamados a lembrar, com a sabedoria dos anciãos e dos antigos, que Deus e o próximo vêm antes de tudo, que só a transcendência e a fraternidade nos salvam. Cabe a nós desenterrar estas fontes de vida; caso contrário, o deserto da humanidade será cada vez mais árido e mortífero. Sobretudo cabe a nós testemunhar, mais com os fatos, do que com as palavras, que acreditamos nisto".

Devemos ser modelos exemplares daquilo que pregamos

Temos uma grande responsabilidade diante de Deus e dos homens, e devemos ser modelos exemplares daquilo que pregamos, não só nas nossas comunidades e em nossa casa, isto já não basta, mas também no mundo unificado e globalizado. Nós, que descendemos de Abraão, pai na fé dos povos, não podemos ter no coração somente «os nossos», mas devemos dirigir-nos, cada vez mais unidos, a toda a comunidade humana que habita na terra.

Encontro com os membros do Conselho Muçulmano de Anciãos, na Mesquita do Palácio Real Sakhir
Encontro com os membros do Conselho Muçulmano de Anciãos, na Mesquita do Palácio Real Sakhir

A seguir, o Papa fez as seguintes perguntas: "Quem é o homem? Porquê o sofrimento, o mal, a morte, a injustiça? O que existe depois desta vida?" "Em muitos, porém, anestesiados por um materialismo prático e por um consumismo paralisador, tais questões jazem adormecidas, enquanto em outros são silenciadas pelas chagas desumanas da fome e da pobreza", sublinhou Francisco, reiterando que, "entre os motivos do esquecimento daquilo que conta, não se inclua a nossa incúria, o escândalo de nos empenharmos em outra coisa e não no anunciar o Deus que dá paz à vida e a paz que dá vida aos homens. Apoiemo-nos nisso, demos continuidade ao nosso encontro de hoje, caminhemos juntos! Seremos abençoados pelo Altíssimo e pelas criaturas mais pequeninas e frágeis que são as preferidas d’Ele: os pobres, as crianças e os jovens, que, depois de tantas noites tenebrosas, aguardam o surgir de uma alvorada de luz e de paz".

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04 novembro 2022, 14:30