O Papa em Asti, entre memórias e o futuro
Alessandro Gisotti
O trajeto que sábado (19) levará Francisco a Asti, terra natal da sua família, pode ser medida tanto em anos quanto em quilômetros. Na verdade, a viagem não só o levará ao norte de Roma, mas também de volta no tempo.
A visita, motivada pelo aniversário de 90 anos de uma prima, assumirá naturalmente uma forma privada para salvaguardar a dimensão familiar. No entanto, embora seja reservado, não sentimos que este evento seja distante. Aquela comunidade piemontesa, assim como as vicissitudes da família Bergoglio - uma família migrante como tantas outras na Itália do século passado - nos pertence de alguma forma. O Papa falou sobre isso muitas vezes, nos "convidou" a sermos hóspedes na sua casa, para encontrar primeiro a sua avó Rosa, uma figura fundamental em sua formação humana, que lhe transmitiu o primeiro anúncio cristão "em dialeto".
Sim, porque a fé - ele se lembrou disso muitas vezes - é transmitida na língua falada em família, é absorvida junto com o ar que se respira dentro das paredes domésticas, onde o cheiro do Evangelho tem gosto de casa. Aquele dialeto piemontese, aprendido em Buenos Aires, a milhares de quilômetros das terras onde é falado, o Papa ainda se lembra em algumas situações - pensemos na denúncia em Scampia da corrupção que "cospe" - ressurge naturalmente do baú do passado para voltar à vida.
Muitas vezes, nestes quase 10 anos de Pontificado, o Papa enfatizou a importância das raízes, de "voltar para casa" mesmo simplesmente com o coração onde não é possível de qualquer outra forma. Ele o fez compartilhando anedotas e memórias pessoais, às vezes entrelaçando-as com poemas que o marcaram particularmente. Como a de Hölderlin dedicada à própria avó no seu aniversário ("Abençoe o neto mais uma vez, que o homem cumpra o que a criança prometeu") ou a do poeta argentino Bernárdez ("O que a árvore tem de flores, vem do que ela enterrou").
A lembrança, o Papa sempre nos disse, não é, entretanto, veneração das cinzas, mas custódia do fogo. A sabedoria do tempo não pode, portanto, se desconectar do ímpeto para o amanhã. A este respeito, uma singular coincidência nesta visita à região de Asti é marcante: se o sábado terá, de fato, como característica distintiva o de memórias, o dia seguinte, em vez disso, assumirá o do futuro. A missa que o Papa celebrará na catedral de Asti na solenidade de Cristo Rei coincide, de fato, (precisamente por vontade de Francisco) com a Jornada Mundial da Juventude em nível diocesano. Haverá, portanto, muitos jovens de toda a região participando da celebração deste "encontro há muito esperado", como diz o lema da visita.
Os jovens e os idosos. Em sua primeira JMJ, a que viveu no Rio de Janeiro alguns meses após a sua eleição para a Cátedra de Pedro, Francisco enfatizou a importância do encontro "entre gerações, especialmente dentro da família" e disse estar convencido de que "crianças e idosos constroem o futuro dos povos". É a Profecia de Joel, tantas vezes evocada pelo Pontífice como "a profecia do nosso tempo": "Os seus anciãos terão sonhos, os seus jovens terão visões e profetizarão".
Afinal, e vemos isso também nesta dramática mudança de época, o progresso de uma sociedade se pode "pesar" pela maneira como ela cuida dos seus jovens e idosos. Esta visita "privada" tem então um significado universal, pois nos fala do diálogo entre gerações, de avós e de netos. A partir da história de uma avó que, forte da sua fé em Jesus, foi capaz de lutar por sua família e "realizou sonhos" para aquele neto que um dia se tornaria Papa.
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