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O Papa: "alguns pegam minhas palavras fora do contexto para me levar para onde querem eles"

Uma antecipação da entrevista de Francisco ao jornal espanhol ABC, que será publicada na íntegra neste domingo, dia 18 de dezembro.

Julián Quirós. Diretor de ABC - Javier Martínez-Brocal. Correspondente no Vaticano do jornal ABC

No jornal espanhol ABC, a antecipação da entrevista que será publicada na íntegra na edição deste domingo, 18 de dezembro, assinada pelo diretor Julian Quiros e pelo vaticanista Javier Martinez Brocal: "Às vezes me usam". Mas nós usamos Deus muito mais, então eu fico quieto e vou em frente". Eis o texto da antecipação:

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Como está o joelho?

Já estou caminhando, a decisão de não me operar acabou sendo a decisão certa.

O senhor está com muito bom aspecto...

(Risos) Sim, eu já atingi a idade em que você tem que dizer: "Você está com bom aspecto!

Quando vi o senhor na cadeira de rodas, pensei que sua agenda iria diminuir, em vez disso, triplicou.

Governa-se com a cabeça, não com o joelho.

No dia 13 de março, o senhor festejará dez anos como Papa. Sua eleição nos pegou a todos de surpresa.

Também a mim. Eu tinha reservado meu bilhete de volta a Buenos Aires a tempo para o Domingo de Ramos. Eu estava muito calmo.

Como aprendeu a ser Papa?

Não sei se aprendi ou não... A história pega você onde você está.

O que acha mais difícil em ser Papa?

Não poder andar nas ruas, não poder sair. Em Buenos Aires eu era muito livre. Eu usava transporte público, eu gostava de ver como as pessoas se moviam.

Mas o senhor ainda vê muita gente...

O contato com as pessoas me recarrega, por isso não cancelei nem mesmo uma audiência de quarta-feira. Mas sinto falta de sair pelas ruas porque agora o contato é funcional. Eles vão "para ver o Papa", essa função. Quando saia pela rua, eles nem sequer sabiam quem era o cardeal.

Aqui em Santa Marta o senhor vê muitas pessoas. Alguns parecem tirar proveito disso e fingir ser amigos do Papa para seus próprios interesses.

Há seis ou sete anos, um candidato argentino veio à Missa. Eles tiraram uma foto fora da sacristia e eu lhe disse: "Por favor, não a use politicamente". "O senhor pode ficar tranquilo", respondeu ele. Uma semana mais tarde, Buenos Aires foi rebocada com aquela foto, adulterada para fazer parecer que se tratava de uma audiência pessoal. Sim, às vezes eles me usam. Mas nós usamos Deus muito mais, então eu fico quieto e vou em frente.

Também deve ser difícil que cada palavra que o senhor pronuncia seja calibrada.

Às vezes eles o fazem com uma hermenêutica prévia ao que eu disse, para me levar para onde eles querem que eu vá. "O Papa disse isto"... Sim, mas eu disse isso em um determinado contexto. Se você retira do contexto, significa outra coisa.

Nenhum Papa jamais fez coleitvas de imprensa ou deu entrevistas falando tão livremente.

Os tempos mudam.

Que presente pediria para este Natal?

Paz no mundo. Quantas guerras há no mundo! A da Ucrânia nos toca mais de perto, mas pensemos também em Mianmar, Iêmen, Síria, onde se combate há treze anos...

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17 dezembro 2022, 09:36