Papa aos embaixadores: “quando aprenderemos que somos uma única família humana?"
Manoel Tavares - Vatican News
O Santo Padre recebeu, na manhã deste sábado, 13, no Vaticano, os Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários, junto à Santa Sé, da Islândia, Bangladesh, Síria, Gâmbia e Cazaquistão.
Ao dar as boas-vindas aos presentes, o Papa saudou, através dos novos Embaixadores, os diversos Chefes de Estado, aos quais promete suas orações no cumprimento de seu nobre serviço.
Francisco iniciou seu discurso dirigindo seu pensamento, de modo particular, ao querido povo sírio, provado pelas consequências do recente e violento sismo, mas também pelos contínuos sofrimentos causados pelo conflito armado.
A seguir, o Papa passou em resenha a atual situação mundial, que nos pode deixar perturbados e desanimados, e o crescente desequilíbrio no sistema econômico global:
“Pensemos nos muitos lugares como Sudão, República Democrática do Congo, Myanmar, Líbano e Jerusalém, que estão enfrentando conflitos e desordens: o Haiti continua a passar por uma grave crise social, econômica e humanitária; a guerra na Ucrânia, que causa sofrimentos e mortes incalculáveis; o aumento do fluxo de migrações forçadas e os efeitos das mudanças climáticas; o grande número de irmãos e irmãs, que ainda vivem na pobreza por falta de água potável, alimentos, cuidados básicos de saúde, educação e trabalho decente”.
Aqui, Francisco levantou algumas questões:
“Quando aprenderemos, com a história, que os caminhos da violência, opressão e ambição desenfreada de conquistar terras não servem para o bem comum? Quando aprenderemos que investir no bem-estar das pessoas é sempre melhor do que gastar recursos para a construção de armas letais? Quando aprenderemos que as questões sociais, econômicas e de segurança estão interligadas? Quando aprenderemos que somos uma única família humana, que pode se desenvolver realmente apenas quando seus membros são respeitados, cuidados e capazes de oferecer a própria contribuição de modo original”?
Para chegarmos a essa consciência, respondeu Francisco, ainda continuaremos a experimentar o que ele chama de “terceira guerra mundial” combatida em pedaços. Tudo isso, talvez, possa perturbar nossas sensibilidades, não obstante os extraordinários avanços tecnológicos e científicos, que tentam melhorar as questões sociais e o direito internacional.
Embora todas essas conquistas sejam certamente louváveis, explicou o Papa, jamais devemos nos sentir satisfeitos ou, pior ainda, indiferentes com a atual situação do mundo, tampouco deixar de garantir que todos possam se beneficiar das conquistas e desenvolvimentos.
Não obstante, disse o Pontífice, devemos permanecer otimistas e determinados, acreditando que a família humana é capaz de enfrentar, com sucesso, os desafios de nosso tempo.
A este respeito, referiu-se ao precioso serviço, que os novos Embaixadores são chamados a desempenhar. Trata-se de uma função antiga e nobre, até inserida nas escrituras cristãs pelo apóstolo Paulo, ao descrever os anunciadores de Jesus Cristo:
“Como homem ou mulher de diálogo, construtores de pontes, um Embaixador deve ser uma figura de esperança, na bondade última da humanidade, pois todos fazem parte da mesma família. Esperança de que a última palavra jamais seja a última para evitar um conflito ou resolvê-lo pacificamente. Espero que a paz não seja um sonho impossível”.
Francisco continuou a definir o Embaixador com aquele que serve fielmente seu país de origem, mas também que seja imparcial ao encontrar soluções aceitáveis, o que não é fácil. A voz da razão e os apelos à paz, muitas vezes, encontram ouvidos surdos. No entanto, a atual situação mundial reforça a necessidade de os Embaixadores serem defensores do diálogo, paladinos da esperança.
A Santa Sé, recordou o Papa, aprecia o importante papel dos Embaixadores e seu compromisso diplomático:
“A Santa Sé, por sua própria natureza e missão particular, compromete-se em defender a dignidade inviolável de cada pessoa, promover o bem comum e a fraternidade humana entre todos os povos. Seus esforços, que não têm fins políticos, comerciais ou militares, se realizam mediante o exercício de uma neutralidade positiva. Longe de ser uma ‘neutralidade ética’, sobretudo, diante do sofrimento humano, a Santa Sé mantem uma posição bem definida na Comunidade internacional, que lhe permite contribuir para a resolução de conflitos e outras questões”.
Ao término da audiência aos novos Embaixadores, Francisco afirmou que poderão ser muitas as oportunidades para colaborar com a Santa Sé. A Secretaria de Estado, com os Dicastérios e outros setores da Santa Sé, está disposta a estabelecer, com os Embaixadores, um diálogo aberto e honesto, em benefício da família humana.
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