Papa ao encontro de Teramo: na verdade e na caridade o caminho da paz
Adriana Masotti - Cidade do Vaticano
A cidade de Teramo e o vizinho município de Isola del Gran Sasso sediam hoje, 30 de junho, e amanhã o segundo Encontro Internacional A Ciência para a Paz, intitulado: "Novos discípulos do conhecimento: o método científico na mudança de era".
Em continuidade com a primeira edição de 2021 - explicam os organizadores - o evento abordará o tema do método científico "a ser desenvolvido em todas os âmbitos da pesquisa e cuja partilha, por parte dos homens e mulheres da ciência, se revela como caminho privilegiado para construir a paz e promover o desenvolvimento dos povos, tema mais atual do que nunca "à luz dos recentes desenvolvimentos do conflito à porta da Europa".
O Papa: a pesquisa faz parte de um autêntico serviço de caridade
E é o Papa Francisco a desejar aos participantes do encontro na manhã desta sexta-feira um “frutífero desenvolvimento dos trabalhos”. Sua saudação é transmitda por meio de uma mensagem dirigida ao bispo de Teramo-Atri, dom Lorenzo Leuzzi. "Para o vosso encontro - afirma o Papa - escolhestes um tema de grande interesse, que oferece uma perspectiva rica de esperança para o futuro da humanidade. Ser homens e mulheres da ciência, de fato, é uma vocação e, ao mesmo tempo, uma missão, uma forma específica de caridade: aquela intelectual".
Francisco então sublinha que, como afirmou o Beato Antonio Rosmini, existe um vínculo fundamental entre a verdade e a caridade. Pesquisa e estudo da verdade, de fato, "são parte imprescindível de um autêntico serviço de caridade", porque "conduzem o homem a um conhecimento cada vez mais pleno da verdade, até ao abrir-se ao dom de Deus". Por isso, retomando o ensinamento de Rosmini, o Santo Padre observa que o conhecimento entre os homens deve ser incansavelmente promovido.
A caridade intelectual para uma renovada proximidade
A caridade intelectual, continua Francisco, hoje não pode ser reservada apenas para os iniciados, mas deve "apoiar a construção de uma renovada proximidade". E recorda o que disse Paulo VI em 1954: "Hoje a caridade intelectual deve suscitar na pessoa o 'pensar grande'" e sublinha que só a harmonia entre o conhecimento e amor, entre fé e razão, pode responder às necessidades do ser humano.
O Papa Francisco pensa nas novas gerações que esperam encontrar "discípulos de conhecimento desta pujança". E inspirado em palavras de São Paulo VI dirigidas aos homens de pensamento no encerramento do Concílio Vaticano II afirma: "Na verdade e na caridade está o caminho da paz”.
O segundo Encontro Internacional
O Encontro "A Ciência para a Paz" é promovido pela diocese de Teramo-Atri e pela Universidade de Estudos da cidade em colaboração com a Pontifícia Academia de Ciências, o Ministério de Universidade e Pesquisa, os Laboratórios Nacionais de Gran Sasso- INFN, a Representação na Itália da Comissão Europeia e do Comitê de Coordenação Regional das Universidades de Abruzzo.
Entre os palestrantes, juntamente com numerosos cientistas de realidades acadêmicas de todo o mundo, estão Maria Chiara Carrozza, presidente do Conselho Nacional de Pesquisas; Antonio Zoccoli, presidente do Instituto Nacional de Física Nuclear; Teodoro Valente, presidente da Agência Espacial Italiana; Carlo Doglioni, presidente do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia e Marco Tavani, presidente do Instituto Nacional de Astrofísica. As saudações da Ministra de Universidade e Pesquisa Anna Maria Bernini são aguardadas on-line.
Viganò: necessário promover "pensamento complexo"
Um dos primeiros a falar pela manhã foi monsenhor Dario Edoardo Viganò, vice-chamceler da Pontifícia Academia de Ciências, que abordou o tema da especificidade da ciência no contexto do "pensamento complexo" e se concentrou na comparação a nível antropológico-filosófico com dois dos desafios colocados pelos mais recentes desenvolvimentos técnico-científicos: o Antropoceno e a Inteligência Artificial (IA).
Monsenhor Viganò destaca o quanto hoje o fenômeno da pseudociência é galopante em todo o mundo. “A atitude anticientífica – observa – parece seduzir com o uso de uma tática convincente de desinformação, desenvolvendo falsos debates e recorrendo a argumentações infundadas”.
Neste sentido, é necessária uma ação conjunta contraposta que envolva as esferas da comunicação, da educação, da ética e da filosofia, bem como as esferas legislativa, política e espiritual que interroga o ser humano "sobre o sentido da pesquisa científica, com uma 'abertura à questão do sentido último da existência".
Objeto de esclarecimento de cada esfera é o próprio conceito de "ciência", continua o vice-chanceler da Pontifícia Academia, que oferece um rápido excursus histórico da abordagem a partir desse processo de diferenciação dos saberes iniciada pela modernidade com sua consequente fragmentação.
Desenvolver uma relação harmoniosa entre a natureza e os seres humanos
Em seu discurso, o vice-chanceler aborda, portanto, os dois desafios cruciais já mencionados com os quais o "pensamento complexo" deve confrontar-se hoje na colaboração entre cientistas e intelectuais: o Antropoceno e a Inteligência artificial. A primeira indica a nova era geológica, percebida pelo estudo das alterações do equilíbrio atmosférico desde a década de 1990, uma era “definida pelas marcas, feridas e cicatrizes causadas pela humanidade, cuja atividade colocou as condições de vida à beira do colapso”.
Perante a sensação de uma catástrofe iminente que possa se abater sobre a terra, cujos sinais são "a perda da biodiversidade, a emergência climática, a degradação dos ecossistemas, a ameaça nuclear e, a nível puramente social, o aumento das injustiças e das desigualdades ”, monsenhor Viganò convida a repensar a pertença do ser humano à mesma natureza e à vida do cosmos com a qual “desenvolver uma relação harmoniosa”.
O segundo desafio para o qual Viganò chama a atenção é aquele representado pelo enorme desenvolvimento da Inteligência Artificial: o risco revelado por muitos é uma possível "domesticação" do computador sobre homem, em que "dispositivos dotados com Inteligência Artificial reivindicam drasticamente sua autonomia e declaram guerra à humanidade”.
Redescobrir a capacidade de maravilhar-se
Aproximando-se da conclusão, monsenhor Viganò propõe uma última consideração que nasce da constatação do eclipse, entre as emoções humanas, de um maravilhar-se chave para uma "compreensão mais aprofundada da realidade". Em seu lugar hoje domina a ansiedade e o impulso de consumir. Mas o "maravilhar-se", observa Viganò, "não está apenas na origem da filosofia, mas é também um elemento antropológico constitutivo que permite a relação com o Outro e com os outros".
O desejo expresso ao final pelo vice-chanceler aos participantes é para "tornarem-se anunciadores da maravilha, educando as novas gerações neste horizonte".
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