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O lançamento de uma coroa de flores: a imagem simbólica da visita do Papa a Lampedusa O lançamento de uma coroa de flores: a imagem simbólica da visita do Papa a Lampedusa

Lampedusa 10 anos depois: o clamor incessante do Papa Francisco

Desde Lampedusa, nestes dez anos nunca esmoreceu a luta do Papa por justiça para com os migrantes mundo afora. E o fez com discursos e exortações pungentes, desmascarando as raízes do problema, denunciando as desigualdades e oferecendo soluções. Mas o fez também com gestos de ternura, indo ao encontro desses nossos irmãs na fronteira entre México e Estados Unidos, Mianmar e Bangladesh, Moçambique, Sudão do Sul, Iraque, Chipre, Grécia, Polônia...

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

No dia 8 de julho de dez anos atrás, o Papa surpreendeu os fiéis ao realizar a primeira viagem de seu pontificado. O destino escolhido foi a ilha de Lampedusa, extremo sul da Itália.

O anúncio da visita foi feito somente sete dias antes, para que se realizasse de maneira "sóbria e discreta", como anunciou na época o então diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé. Francisco havia ficado impressionado com um naufrágio ocorrido no canal da Sicília e o motivo era claro: manifestar sua proximidade aos migrantes que tinham conseguido atravessar o Mediterrâneo e chorar por aqueles que morreram na travessia.

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Dez anos se passaram desde aquele dia e o sonho de uma vida mais digna fez incontáveis vítimas, cerca de 26 mil. Demasiadas, a ponto de o Pontífice chamar o "Mare nostrum" de cemitério. A gestão dos países interessados pouco mudou, mas mudou de certa forma o olhar da Igreja em relação a este fenômeno. Francisco institui uma Comissão especializada no assunto no Vaticano, que trabalha junto a organizações internacionais defendendo políticas migratórias baseadas em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. Mas não só: o Papa mobilizou congregações e paróquias para abrirem suas casas praticamente inutilizadas por falta de vocações e seu pedido foi amplamente atendido.

Mas o que impressiona é que nestes dez anos nunca esmoreceu a luta do Papa por justiça para com os migrantes mundo afora. E o fez com discursos e exortações pungentes, desmascarando as raízes do problema, denunciando as desigualdades e oferecendo soluções. Mas o fez também com gestos de ternura, indo ao encontro desses nossos irmãs na fronteira entre México e Estados Unidos, Mianmar e Bangladesh, Moçambique, Sudão do Sul, Iraque, Chipre, Grécia, Polônia...

E nunca se cansa de repetir: "Os migrantes não são números, mas pessoas". E é deste encontro olho no olho que vem a lembrança do próprio Pontífice da viagem realizada 10 anos atrás: 

"Lembro-me daquele dia... Algumas pessoas contaram-me as suas histórias, como tinham sofrido para lá chegar. E havia intérpretes. Um deles contou coisas terríveis na própria língua, e o intérprete parecia traduzir bem, mas falava muito e a tradução era curta. 'Bem — pensei — vê-se que nesta língua há mais rodeios de palavras para se expressar'. Quando voltei para casa, à tarde, na recepção havia uma senhora — que a paz esteja com a sua alma, ela já se foi — que era filha de etíopes. Compreendia a língua e tinha assistido ao encontro pela televisão. E disse-me o seguinte: 'Ouça, aquilo que o tradutor etíope lhe disse não é sequer a quarta parte das torturas, dos sofrimentos que eles padeceram'. Deram-me a versão 'destilada'. É o que acontece hoje com a Líbia: passam-nos uma versão 'destilada'. Sim, a guerra é horrível, sabemo-lo, mas não podem imaginar o inferno que se vive lá, naqueles lagers de detenção. E aquelas pessoas vinham apenas com a esperança de atravessar o mar."

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08 julho 2023, 09:07