Sobre "uma segunda parte da Laudato si’" que o Papa está escrevendo
Vatican News
"Estou escrevendo uma segunda parte da Laudato si’ para atualizar as questões".
Foi o que o Papa disse na manhã desta segunda-feira, 21 de agosto, dirigindo-se a uma delegação de advogados de países membros do Conselho da Europa que são signatários do Apelo de Viena, ao tempo em que eventos extremos continuam a afetar as populações em todos os continentes do mundo. O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, especificou que esta é uma Carta que visa abordar as recentes crises climáticas em particular.
Francisco, durante a audiência desta segunda-feira, estava expressando seu apreço pelo compromisso com a elaboração de um quadro normativo em favor da proteção ambiental:
"Nunca devemos esquecer que as gerações mais jovens têm o direito de receber de nós um mundo belo e habitável, e que isso nos investe de sérios deveres para com a criação que recebemos das mãos generosas de Deus. Obrigado por essa contribuição".
Laudato si' é a segunda Encíclica de Francisco: publicada em 18 de junho de 2015, tem a data de 24 de maio do mesmo ano, Solenidade de Pentecostes. O documento, dedicado ao "cuidado com a casa comum", toma seu título do incipit do Cântico das Criaturas de São Francisco e se inicia da seguinte forma:
"Laudato si', mi' Signore", cantava São Francisco de Assis. Nesse belo cântico, ele nos lembrou que nossa casa comum também é como uma irmã, com quem compartilhamos a existência, e como uma bela mãe que nos acolhe em seus braços: "Louvado sejas, meu Senhor, por nossa querida mãe Terra, que nos sustenta e governa, e produz diversos frutos com coloridas flores e relva".
O próprio Papa quis esclarecer o significado dessa Encíclica, pouco depois de sua publicação, na audiência de 21 de julho de 2015 aos participantes do Workshop intitulado "Escravidão moderna e mudança climática: o compromisso das cidades":
Esta cultura do cuidado do meio ambiente não é unicamente uma atitude — digo-o no bom sentido da palavra — «verde», não é uma atitude «verde», mas muito mais. Ou seja, cuidar do meio ambiente significa uma atitude de ecologia humana. Isto é, não podemos dizer: a pessoa está aqui e a Criação, o meio ambiente, está ali. A ecologia é total, é humana. Foi o que eu quis dizer na Encíclica Laudato si’: que não se pode separar o homem do resto; há uma relação de incidência mútua, quer do ambiente sobre a pessoa, quer da pessoa sobre o modo como ele cuida do meio ambiente; e também o efeito de repercussão contra o homem quando o meio ambiente é maltratado. Por isso, a uma pergunta que me dirigiram, eu respondi: «Não é uma Encíclica “verde”, mas social», porque no contexto social, na vida social dos homens, não podemos separar o cuidado do meio ambiente. Ainda mais, o cuidado do meio ambiente é uma atitude social, que num certo sentido nos socializa — cada um pode atribuir-lhe o valor que quiser — e, além disso, nos leva a receber — gosto da expressão italiana, quando se fala do meio ambiente — da «Criação», daquilo que nos foi concedido como dom, ou seja, o meio ambiente.
Na Encíclica, ele recorda que escolheu o nome de Francisco como guia e inspiração para seu pontificado:
Acho que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. É o santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos. Manifestou uma atenção particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. Amava e era amado pela sua alegria, a sua dedicação generosa, o seu coração universal. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior.
E ele apela para o desafio urgente de proteger nossa casa comum a fim de construir um futuro melhor para toda a humanidade, sem excluir ninguém:
Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na consciencialização. Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal. Como disseram os bispos da África do Sul, «são necessários os talentos e o envolvimento de todos para reparar o dano causado pelos humanos sobre a criação de Deus». Todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades.
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