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Migrantes desembarcando nas costas das Ilhas Canárias Migrantes desembarcando nas costas das Ilhas Canárias 

Ilhas Canárias, cartas dos migrantes ao Papa: ajude-nos a ter a empatia da Europa

Duas cartas, uma de Mamadou, guineense que desembarcou em 2008 e hoje mediador cultural, e outra de um grupo de jovens africanos, foram entregues a Francisco pelo Presidente Fernando Clavijo, recebido em audiência no Vaticano. “O Papa está atento e preocupado com a nossa situação. O acolhimento continua, mas estamos saturados." Foco no problema dos menores não acompanhados e o convite ao Pontífice a ir ao arquipélago.

Salvatore Cernuzio – Vatican News

“Não sou ninguém para pedir algo a Sua Santidade, mas se ele achar oportuno e conveniente, poderia dedicar algumas palavras de encorajamento ao povo africano, pois dada a posição privilegiada que ocupa, seria ouvido em todo o mundo, um grande megafone para aproximar as posições entre África e Europa, culturalmente falando, fomentar a empatia e divulgá-la”. Mamadou Malal Diallo apela em uma carta ao Papa para que ele seja a sua voz e a de outros imigrantes africanos que desembarcaram nas Ilhas Canárias, Espanha.

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O texto - uma página escrita num computador, com a data de segunda-feira, 15 de janeiro de 2024, e assinado - foi entregue ao Papa Francisco nesta manhã pelo presidente do governo das Ilhas Canárias, Fernando Clavijo Batlle, recebido em audiência no Vaticano. Com ele estava o vice-presidente Manuel Domínguez González e sua comitiva, incluindo três bispos, Bernardo Álvarez, José Mazuelos e Cristóbal Déniz, representando a Igreja nas Ilhas Canárias, que está fortemente comprometida com a emergência migratória com centros de acolhimento e distribuição de alimentos e roupas.

As mensagens dos migrantes

A audiência durou cerca de 40 minutos e, no final, duas cartas foram colocadas nas mãos do Pontífice: uma de Mamadou, guineense, que contou sua história - desde sua chegada em 2008, a barreira do idioma, o choque cultural e a falta de oportunidades que existem para pessoas como ele, até seu trabalho atual como mediador cultural e intérprete - e a carta de um grupo de migrantes africanos, alguns deles menores, que vivem na Ilha de El Hierro, ou seja, a menor ilha de todo o arquipélago, que, no entanto, tornou-se um ponto de chegada diretamente procurado por aqueles que enfrentam a perigosa "Rota do Atlântico" e que em suas margens vê um fluxo contínuo de desembarques: mais de 1.100, em outubro, em apenas 48 horas; 650 no último sábado.

O presidente e o vice-presidente na Praça São Pedro após a audiência com o Papa
O presidente e o vice-presidente na Praça São Pedro após a audiência com o Papa

Saturados, mas dispostos a acolher

Um verdadeiro drama para uma terra e uma população que se dizem "saturadas", mas que ainda assim estão dispostas a acolher, mostrar solidariedade e coragem para com as pessoas que fogem da fome, da sede e da morte. Isso é o que os próprios jovens dizem na carta quando, contando que tiveram que deixar casa e família e que sentem "muito a falta deles" ("Não foi fácil deixá-los, mas lá estamos em perigo, não podemos estudar, não há trabalho para alimentar a família, é muito difícil continuar lá sem que nossos corações parem de acreditar na oportunidade", dizem eles), em letras maiúsculas escrevem "OBRIGADO DE CORAÇÃO" a todos os habitantes de El Hierro "que nos apoiam, nos ajudam e nos incentivam a continuar lutando para realizar nossos sonhos. Queremos poder estudar e depois, quando formos grandes, trabalhar para ajudar nossas famílias".

Cooperação e desenvolvimento para a África

O presidente relatou tudo isso ao Papa, que se mostrou atento, interessado e muito preocupado com a situação, como o próprio Clavijo disse a um grupo de jornalistas reunidos na Praça São Pedro logo após o encontro no Vaticano. "O vice-presidente (Manuel Domínguez González, ndr.) e eu pudemos falar sobre o fato de que o problema da migração da África pode ser resolvido na África, que precisamos de políticas de cooperação e desenvolvimento", explicou o presidente, garantindo que a "humanidade" nunca será esquecida, ou seja, a consciência "de que há pessoas tentando fugir da fome, da morte e da miséria, e que o povo das Ilhas Canárias também já foi migrante".

O apoio do Papa

O Papa Francisco – que numa carta de 20 de novembro agradeceu aos bispos das Ilhas Canárias e a todos os habitantes "por abrirem as portas de seus corações àqueles que sofrem" - "não apenas reconheceu a solidariedade do povo das Canárias, seu compromisso com os mais frágeis e desfavorecidos, mas também nos disse que está rezando para que o problema seja resolvido", tanto do ponto de vista do fluxo de pessoas que se aventuram na Rota do Atlântico, que é "altamente mortal", quanto do ponto de vista do apoio ao acolhimento. "Estamos falando de 40 mil pessoas que chegaram às nossas costas em 2023, 70% de todos os imigrantes que chegam à Espanha, e todos os dias 16 pessoas morrem na tentativa de encontrar um futuro melhor", ressalta Clavijo.

Audiência do Papa com o presidente do governo das Canárias
Audiência do Papa com o presidente do governo das Canárias

Trabalhar juntos

"Sozinhos, não somos capazes de lidar com uma situação como essa", disse o vice-presidente Domínguez. "Estamos extremamente saturados, estamos fazendo tudo o que podemos para ajudá-los, há solidariedade, mas estamos fazendo tudo que é possível". A esperança dos líderes das ilhas é que a visita ao Papa possa "ajudar as instituições europeias, o governo espanhol e outros países europeus a se conscientizarem da realidade da África, um continente que, com seca, guerras, instabilidade política, é um problema que, ou trabalhamos seriamente em cooperação, ou continuará por muito tempo", disse Clavijo.

O drama dos menores desacompanhados

O Papa Francisco, conforme seus convidados disseram aos jornalistas, "nos transmitiu que é essencial e necessário estar ciente de que as políticas de desenvolvimento devem ser aplicadas na África para evitar que as pessoas tenham que fugir em busca de um futuro melhor. Ele rezará por isso e nós seremos eternamente gratos a ele". O Papa - que sempre pediu para não fechar as portas, mas, ao mesmo tempo, avaliar a sustentabilidade de cada país de chegada - "estava bem ciente do que estamos sofrendo em nossa região" em relação à questão dos menores desacompanhados. Um dos problemas mais graves nas Ilhas Canárias no momento, dado o número crescente que "torna quase impossível garantir seus direitos de integração, infância e projeto de vida". "Foi uma grande surpresa que o Papa tenha se mostrado tão atento a uma questão tão particular como a nossa".

Convite a visitar o arquipélago

Em meio a saudações, bênçãos e presentes - dentre eles, uma bula papal de 1462 autorizando o bispo das Ilhas Canárias a excomungar qualquer pessoa que escravizasse os aborígenes, os guanches e um pacote de doces de La Laguna - o presidente e o vice-presidente não deixaram de convidar o Papa a fazer uma visita ao arquipélago: "Nós o convidamos e eu gostaria que fosse assim. Também pedi aos bispos que o convidassem".

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15 janeiro 2024, 18:10