Busca

Papa: migração pode ajudar no aumento das taxas de natalidade

"Esse é um problema muito sério", alertou Francisco em audiência com um grupo de jovens empresários e trabalhadores que partem para a segunda fase do projeto internacional "O futuro do trabalho após a Laudato si'" para enfrentar a crise global. A "relação entre trabalho digno e migração" deve ser tema de análise, e o Papa citou a desnatalidade como um dos desafios a serem abordados "para o cuidado da criação".

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Francisco, antes da Audiência Geral desta quarta-feira (08/05), recebeu um grupo de jovens empresários e trabalhadores liderados pelo cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. A delegação está empenhada na segunda fase do projeto internacional "O futuro do trabalho após a Laudato si'" (The future of work - Labour after Laudato si') para enfrentar a atual crise global, que se propõe em contribuir - junto com as empresas - de repensar o trabalho dentro do quadro de referência da ecologia integral proposto pelo próprio Pontífice. 

Em discurso, Francisco agradeceu os parceiros do projeto que foi elaborado em 2016, mas entrou em fase operativa em 2018: a Organização Internacional do Trabalho, as Conferências Episcopais, as Congregações religiosas, as organizações católicas e de outras confissões, além de sindicatos e outros grupos de base da sociedade civil, encorajados pelos superiores do próprio Dicastério e coordenados pela Comissão Católica Internacional. "Obrigado, muito obrigado", enalteceu o Papa, pelas atividades desenvolvidas nesses 6 anos, "propondo modelos inovadores de ação para um trabalho equitativo, justo, digno para todas as pessoas do mundo".

Para esta segunda fase, como explicou o Pontífice, o projeto vai se concentrar sobre o tema “O cuidado é trabalho, o trabalho é cuidado”. Para construir uma comunidade transformadora global. Uma oportunidade para tanto identificar as potencialidades como para "reconhecer antecipadamente os males sistêmicos que podem se tornar pragas sociais". Para esse estudo, o grupo vai se preocupar em analisar 5 questões que foram lembradas pelo Papa.

As 5 temáticas para cuidar do trabalho

Em primeiro lugar, o trabalho digno e as indústrias extrativas. Francisco voltou a lembrar o que já escreveu na Encíclica Laudato si', sobre as graves consequências geradas pela exportação de matérias-primas que visam "satisfazer os mercados do Norte industrializado", como "a poluição por mercúrio ou dióxido de enxofre nas minas":

"É fundamental que as condições do trabalho estejam vinculadas aos impactos ambientais, prestando muita atenção aos possíveis efeitos em termos de saúde física e mental das pessoas envolvidas, bem como de segurança."

Um segundo tema é o trabalho digno e a segurança alimentar, sobretudo porque os números de pessoas sofrendo com altos níveis de insegurança alimentar aguda tem aumentado: só em 2023 foram mais de 280 milhões de pessoas em 59 países, "exigindo um auxílio assistencial urgente", comentou o Papa, ao acrescentar:

“Os desastres naturais e as condições meteorológicas extremas, agora intensificadas pelas mudanças climáticas, além dos choques econômicos, são outros fatores importantes que determinam a insegurança alimentar que, por sua vez, estão ligados a algumas vulnerabilidades estruturais, como a pobreza, a alta dependência de importações de produtos alimentícios e a infraestrutura precária.”

Trabalho, migração e taxa de natalidade

A terceira questão diz respeito à relação entre trabalho digno e migração, já que são muitas as pessoas que emigram em busca de trabalho ou são forçadas a fazê-lo. Muitas são vistas como "cidadãos de segunda categoria", "um problema e um fardo para os custos de uma nação", alertou o Papa, ao direcionar novamente a preocupação com a queda na taxa de natalidade dos países anfitriões, que poderia ser amenizada com o melhor acolhimento aos migrantes:

"Gostaria de destacar a baixa natalidade. Esses países ricos não têm filhos: todos têm um cachorrinho, um gato, todo mundo; mas não têm filhos. E a desnatalidade é um problema, e a migração vem para ajudar na crise que causa a desnatalidade. Esse é um problema muito sério."

Também sob essa perspectiva, o quarto tema é a relação entre trabalho digno e justiça social. "Essa palavra", disse o Papa, "justiça social, que veio com as encíclicas sociais dos Papas. É uma palavra que não é aceita pela economia liberal, pela economia de ponta. A justiça social". Uma questão complexa que precisa encontrar respostas adequadas para frear as desigualdades sociais, inclusive no que diz respeito às relações de trabalho e aos direitos fundamentais dos trabalhadores. 

Por fim, o último aspecto é o do trabalho digno vinculado à transição justa. Levando em conta a interdependência entre o trabalho e o meio ambiente, "trata-se de repensar os tipos de trabalho que devem ser promovidos para cuidar da casa comum, especialmente com base nas fontes de energia que eles exigem".

“O mundo precisa de um compromisso renovado, de um novo pacto social que nos una - gerações mais velhas e gerações mais novas - para o cuidado da criação e para a solidariedade e a proteção mútua dentro da comunidade humana. Que Deus abençoe todos vocês e o trabalho de vocês nestes dias! E, por favor, não se esqueçam de rezar por mim: esse trabalho não é fácil. Muito obrigado!”

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

08 maio 2024, 09:50