O Papa: dar ao mundo das finanças uma nova cultura e uma espiritualidade
Raimundo de Lima – Vatican News
“Ajudar os pobres com dinheiro deve ser sempre um remédio temporário para lidar com emergências. O verdadeiro objetivo deve ser possibilitá-los a viver uma vida digna por meio do trabalho”. Foi o que disse Francisco aos participantes dos “Diálogos por uma finança integralmente sustentável”, promovidos pela Fundação Centesimus annus Pro Pontifice, ao recebê-los em audiência na manhã desta segunda-feira (03/06) na Sala do Consistório, no Vaticano.
Já no início de seu discurso, o Papa disse ter lido com interesse os resultados do trabalho que realizaram nestes dois anos, para iniciar um diálogo entre finanças, humanismo e religião: não é fácil - observou o Pontífice.
Recuperar a dignidade por meio do trabalho
Vocês optaram por iniciar esses “Diálogos” com expoentes do sistema financeiro italiano. Uma economista me disse uma vez: o diálogo entre economia e filosofia, religião e humanismo é possível. O diálogo entre finanças, teologia e humanismo é muito difícil, citou Francisco, observando ser curioso isso, acrescentando em seguida:
Um sistema, esse sistema financeiro italiano, que tem uma história antiga, na qual, por exemplo, os “Monti di Pietà” eram um grande estímulo para ajudar os mais pobres sem cair na lógica assistencialista, e favorecia empréstimos para permitir que as pessoas trabalhassem e, por meio de sua atividade, recuperassem sua dignidade.
Magistério social da Igreja como bússola
Também fiquei impressionado com o objetivo principal que vocês estabeleceram, ou seja, analisar junto com a alta administração do mundo das finanças sobre a possibilidade de que o compromisso de fazer-bem e o compromisso de fazer-o-bem possam andar de mãos dadas. Em outras palavras, vocês se propuseram a uma tarefa nobre: combinar eficácia e eficiência com sustentabilidade integral, inclusão e ética.
Vocês dizem, com razão, que acreditam que o magistério social da Igreja pode ser uma bússola. Para que isso realmente aconteça, é necessário não parar no momento exortativo, mas ser capaz de analisar como as finanças funcionam, expor os pontos fracos e imaginar medidas corretivas concretas, observou o Santo Padre.
O dinheiro deve servir e não governar
Vocês conhecem os processos financeiros, e esse o grande mérito de vocês, mas ao mesmo tempo é também uma grande responsabilidade. Cabe a vocês descobrir como fazer com que a iniquidade diminua: que a iniquidade diminua. Porque uma “reforma financeira que não ignore a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitude por parte dos líderes políticos. O dinheiro deve servir e não governar!” Certa vez, ouvi um crítico político dizer: “Neste país, se governa a partir dos bolsos”: isso é feio...
Em seguida, o Santo Padre destacou que eles trabalharam em três níveis: pensamento, concretude e valorização do bem. Concordo que nunca se deve perder de vista a concretude, porque o que está em jogo é o destino dos mais pobres, das pessoas que lutam para encontrar os meios para uma vida digna.
O diálogo é sempre o melhor caminho
O trabalho que vocês realizaram em Milão é encorajador, e talvez seja bom estendê-lo a outros centros financeiros, promovendo um modelo de Diálogo que se difunda e gere uma mudança de paradigma. De fato, o paradigma tecnocrático continua dominante; há necessidade de uma nova cultura, capaz de abrir espaço para uma ética adequadamente sólida, uma cultura e uma espiritualidade.
Por fim, Francisco agradeceu pelo trabalho feito e que estão realizando e à Fundação Centesimus Annus pela iniciativa, e exortou-os a continuar e a difundir este método e estilo.
“O diálogo é sempre o melhor caminho, inclusive para melhorar a casa comum”, concluiu.
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