O Papa: a pena de morte não faz justiça, é um veneno para a sociedade
Papa Francisco
O Evangelho é um encontro com uma Pessoa viva que muda a vida: Jesus é capaz de revolucionar nossos projetos, aspirações e perspectivas. Conhecê-lo significa encher nossa existência de significado, porque o Senhor nos oferece a alegria que não passa. Porque é a própria alegria de Deus.
A história humana de Dale Recinella, que eu encontrei numa audiência, o conheci melhor através dos artigos que escreveu ao longo dos anos para «L'Osservatore Romano» e agora através deste livro que toca o coração, é uma confirmação do que foi dito: só assim se pode explicar como foi possível que um homem, com outros objetivos em mente para o seu futuro, se tornasse capelão, como cristão leigo, marido e pai, dos condenados à pena capital.
Uma tarefa muito difícil, arriscada e árdua de realizar, porque toca com as mãos o mal em todas as suas dimensões: o mal causado às vítimas, que não pode ser reparado; o mal que vive o condenado, sabendo que está destinado à morte certa; o mal que, com a prática da pena capital, é instilado na sociedade. Sim, como já reiterei várias vezes, a pena de morte não é de forma alguma a solução para a violência que pode afetar pessoas inocentes. As execuções capitais, longe do fazer justiça, alimentam um sentimento de vingança que se transforma num veneno perigoso para o corpo das nossas sociedades civis. Os Estados devem preocupar-se em permitir aos prisioneiros a oportunidade de mudarem realmente de vida, em vez de investirem dinheiro e recursos na sua supressão, como se fossem seres humanos que já não são dignos de viver e que devem ser eliminados. No seu romance O Idiota, Fiódor Dostoiévski resume assim, de forma impecável, a insustentabilidade lógica e moral da pena de morte, falando de uma pessoa condenada à pena capital: «É uma violação da alma humana, nada mais! Diz-se: 'Não mataras', e em vez disso, porque ele matou, outros o matam. Não, é algo que não deveria existir». O próprio Jubileu deveria comprometer todos os fiéis a pedir, com voz unívoca, a abolição da pena de morte, prática que, como diz o Catecismo da Igreja Católica, «é inadmissível porque atenta contra a inviolabilidade e a dignidade da pessoa!» (nº 2267).
Além disso, a ação de Dale Recinella, sem esquecer a importante contribuição de sua esposa Susan, refletida no livro, é um grande presente para a Igreja e para a sociedade dos Estados Unidos, onde Dale vive e trabalha. O seu compromisso como capelão leigo, em um lugar tão desumano como o corredor da morte, é um testemunho vivo e apaixonado da escola da misericórdia infinita de Deus. Como o Jubileu Extraordinário da Misericórdia nos ensinou, nunca devemos pensar que possa haver um nosso pecado, um nosso erro ou uma nossa ação que nos afastará definitivamente do Senhor. O seu coração já foi crucificado por nós. E Deus só pode nos perdoar.
É claro que esta infinita misericórdia divina também pode escandalizar, como escandalizou muitas pessoas no tempo de Jesus, quando o Filho de Deus comia com os pecadores e as prostitutas. O próprio irmão Dale tem que enfrentar críticas, reclamações e rejeição por causa de seu compromisso espiritual ao lado dos condenados. Mas não é verdade que Jesus acolheu nos seus braços um ladrão condenado à morte? Pois bem, Dale Recinella realmente entendeu e testemunha com sua vida, toda vez que passa pela porta de uma prisão, em particular aquela que chama de “a casa da morte”, que o amor de Deus não tem limites e nem medida. E que mesmo o mais repugnante dos nossos pecados não desfigura a nossa identidade aos olhos de Deus: permanecemos seus filhos, amados por Ele, guardados por Ele e considerados preciosos.
A Dale Recinella eu gostaria, portanto, de dizer um sincero e sentido obrigado: porque sua ação como capelão no corredor da morte é uma adesão tenaz e apaixonada à realidade mais íntima do Evangelho de Jesus, que é a misericórdia de Deus, seu amor gratuito e incansável por todas as pessoas, mesmo por aquelas que erraram. E que é a partir de um olhar de amor, como o de Cristo na cruz, que elas podem encontrar um novo sentido para sua vida e também para sua morte.
Cidade do Vaticano, 18 de julho de 2024
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