O Papa: precisamos de cultura que não seja "sectária" nem se coloque acima dos outros
Raimundo de Lima – Vatican News
A grande missão da Universidade é alargar fronteiras e tornar-se um espaço aberto ao homem e à sociedade. Foi o que disse Francisco esta sexta-feira (27/09) no encontro com os professores da Universidade Católica de Leuven, ponto alto desta visita à Bélgica, focada sobretudo na celebração dos 600 anos da mais antiga universidade católica do mundo. Situada a cerca de 26 Km da capital Bruxelas, Leuven (ou Lovaina) está situada na região de Flandres, centro da Bélgica. A visita pastoral do Pontífice se insere no âmbito da 46ª Viagem Apostólica Interncaional de Francisco, iniciada esta quinta-feira, 26, com a primeira etapa em Luxemburgo.
Após agradecer ao reitor por suas palavras e por ter recordado a história e tradição nas quais esta Universidade está radicada, bem como alguns dos principais desafios atuais que nos interpelam a todos, o Santo Padre ressaltou que a primeira tarefa da Universidade é “oferecer uma educação integral para que as pessoas tenham as ferramentas necessárias para interpretar o presente e planejar o futuro”. Na verdade, observou, a formação cultural nunca é um fim em si mesma e as Universidades não devem correr o risco de se tornarem “catedrais no deserto”; elas são, pela sua própria natureza, lugares que impulsionam ideias e novos estímulos para a vida e o pensamento humanos e para os desafios da sociedade, ou seja, espaços generativos. “É bom pensar que a Universidade gera cultura, gera ideias, mas sobretudo que promove a paixão pela busca da verdade, ao serviço do progresso humano”.
Alargar as fronteiras do conhecimento
Em particular, as Universidades católicas, como esta, são chamadas a “prestar o decisivo contributo de fermento, sal e luz do Evangelho de Jesus Cristo e da Tradição viva da Igreja sempre aberta a novos cenários e propostas”. Por isso, gostaria de lhes dirigir um simples convite: alarguem as fronteiras do conhecimento! Não se trata de multiplicar as noções e as teorias, mas de fazer da formação acadêmica e cultural um espaço vivo, que englobe a vida e fale à vida.
Em nosso contexto, disse o Pontífice aos acadêmicos da prestigiosa universidade belga, deparamo-nos com uma situação ambivalente em que as fronteiras se estreitam.
Por um lado, estamos imersos numa cultura marcada pela renúncia à busca da verdade. Perdemos a paixão inquieta da procura, para nos refugiarmos no comodismo do pensamento fraco, na convicção de que tudo é igual, de que tanto vale uma coisa como outra, de que tudo é relativo. Por outro lado, quando, em contextos universitários e não só, se fala de verdade, cai-se muitas vezes numa atitude racionalista, segundo a qual só aquilo que podemos medir e experimentar pode ser considerado verdadeiro, como se a vida se reduzisse exclusivamente à matéria e ao visível. Em ambos os casos, as fronteiras são estreitas, observou Francisco.
Acolhimento aos refugiados
Sobre o primeiro aspeto, temos o cansaço do espírito, que nos remete para a incerteza permanente e para a falta de paixão, como se fosse inútil procurar sentido numa realidade que permanece incompreensível. Sobre o segundo aspeto, porém, temos o racionalismo sem alma no qual corremos novamente o risco de cair, condicionados pela cultura tecnocrática. Quando o homem se reduz apenas à matéria, quando a realidade se restringe aos limites do visível, quando a razão é apenas matemática e “laboratorial”, perde-se o espanto, aquele assombro interior que nos impele a procurar mais além, a olhar para o céu, a descobrir aquela verdade escondida que responde às perguntas fundamentais: Porque é que vivo? Que sentido tem a minha vida? Qual é o objetivo último e a meta deste caminho?
Sejamos conscientes – como disse o senhor Reitor no início – “de que ainda não sabemos tudo”, mas é precisamente esta limitação que sempre os deve impulsionar, ajudando-os a conservar acesa a chama da investigação e a manter uma janela aberta para o mundo de hoje, disse o Papa dirigindo-se aos preofessores.
A este respeito, prosseguiu o Santo Padre, quero dizer-lhes sinceramente: “obrigado! Obrigado porque, ao alargarem as fronteiras, abriram espaço para acolher tantos refugiados que são forçados a fugir das suas terras, no meio de inúmeras inseguranças, enormes dificuldades e, por vezes, sofrimentos atrozes”.
Criar uma cultura que seja inclusiva
O Papa aludiu ao vídeo pouco antes exibido sobre a assistência aos refugiados, um testemunho muito comovente de uma jovem palestina. “E enquanto alguns apelam ao reforço das fronteiras, cada um dos que aqui se encontram, como comunidade universitária, alarga as fronteiras, abre os braços para acolher estas pessoas marcadas pela dor, ajudando-as a estudar e a crescer”, disse.
É disto que precisamos: uma cultura que alargue as fronteiras, que não seja “sectária” nem se coloque acima dos outros, mas pelo contrário, que esteja na massa do mundo, introduzindo nela um bom fermento, que contribua para o bem da humanidade. Esta tarefa, esta “esperança maior”, está confiada a todos vós!
Francisco concluiu exortanto-os a serem protagonistas na criação de uma cultura de inclusão, de compaixão, de atenção para com os mais fracos e para com os grandes desafios do mundo em que vivemos.
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