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Piazza di Spagna, centro de Roma, com prédio de Propaganda Fide Piazza di Spagna, centro de Roma, com prédio de Propaganda Fide 

Papa reorganiza a Diocese de Roma para “integrar” periferias e centro

Para fomentar um espírito cada vez maior de comunhão eclesial, com o Motu proprio “A verdadeira Beleza” o Papa inclui as cinco prefeituras do setor Centro nos outros setores periféricos, reduzindo a organização territorial aos quatro pontos cardeais. Uma visão dinâmica que prevê não muros, mas pontes. Seu desejo, em vista do Jubileu, é que Roma seja uma única grande casa para todos.

Antonella Palermo - Cidade do Vaticano

Com um Motu proprio com a data de 1º de outubro, o Papa Francisco determina a redefinição dos limites das prefeituras em que está dividida a Diocese de Roma, para que sejam harmonizados os contextos de referência e as paróquias que a elas pertencem. As atuais cinco prefeituras do setor Centro são incluídas nos outros Setores, reduzindo a organização territorial aos quatro pontos cardeais.

Favorecer maior comunhão eclesial

 

Na iminência do Jubileu, explica o Pontífice no documento, a releitura do significado pastoral a ser atribuído à presença no território pela Diocese de Roma tornou-se “necessária e inadiável” por uma série de razões que dizem respeito à mudança de época que vivemos e à necessidade de criar uma visão mais dinâmica entre centro e periferias. O espírito subjacente a esta modificação que, especifica o Papa, exigirá alguns meses de trabalho, é favorecer “um espírito cada vez maior de comunhão eclesial”.

Centro e periferias

 

A constatação que serve de premissa ao documento diz respeito ao fato de que a expansão da aglomeração urbana acabou criando gradualmente uma separação de fato entre centro e periferias. 

O centro histórico (grande santuário a céu aberto) tornou-se cada vez mais isolado, com o risco de se tornar exclusivamente um museu a visitar e menos um lugar capaz de “manifestar e difundir toda a santidade de Roma”. As periferias, pelo contrário, têm recebido uma menor atenção e cuidado por parte do Município, muitas vezes percebido como incapaz de prestar serviços adequados.

Por um lado, portanto, o esvaziamento residencial do centro - caracterizado principalmente por pendulares, turistas, comerciantes - acompanhado por uma pastoral cada vez mais reduzida "ainda que algumas sejam bonitas e positivas" (o mesmo número de paróquias, trinta e cinco, é sinal disso). Por outro, periferias que encontram nas paróquias uma referência importante, válida e enraizada. “Um patrimônio de grande potencial que está guardado há muito tempo – escreve o Papa – pede para ser repensado e colocado ao serviço do povo de Deus”.

Dissolver a tensão bipolar, não muros, mas pontes

 

“Neste horizonte – continua o texto – não existe mais um centro isolado e uma periferia dividida em compartimentos separados, mas, numa visão dinâmica que prevê não muros, mas pontes, a Diocese de Roma será concebida como um centro único que se expande pelos quatro pontos cardeais".

O Papa especifica que a diminuição dos limites do setor Centro “não significa de forma alguma fechá-lo”, mas sim abri-lo. O objetivo é encorajar “mesmo dentro do Conselho Episcopal, a partilha de trabalho e a unidade de propósitos numa área tão crucial da cidade. Com a esperança de dissolver – sublinha – a tensão bipolar que ao longo do tempo se insinuou na percepção social e eclesial entre centro histórico e periferias”.

Remodular os ritmos pastorais sobre o povo de Deus

 

São quatro os princípios da Doutrina Social da Igreja, recordados na Evangelii gaudium, que constituem a matriz inspiradora do Motu proprio. Francisco recordou-os mais de uma vez durante a sua recente Viagem Apostólica a Luxemburgo e à Bélgica. “Se os pastores não percebem que a mudança de época exige também uma remodelação dos ritmos sacramentais e pastorais, o risco é se tornar estéril”, afirma o Papa. “É necessário ter em conta os ritmos do Povo de Deus que vive em um determinado território paroquial e de horários mais compatíveis com os horários de uma família". E acrescenta que a confluência do setor Centro nos outros setores significa torná-los participantes de toda a história do cristianismo em Roma. Em termos concretos significa que as reuniões, as celebrações e os encontros de Setor podem enriquecer-se de lugares e de espaços antigos, capazes de tornar explícitas as profundas raízes que fundam a identidade dos fiéis romanos.

Além dos números, a profundidade da experiência espiritual

 

Dado que, como reitera o Sucessor de Pedro, o tempo é superior ao espaço, a preparação do Jubileu para as paróquias de Roma não deve limitar-se a avaliar os dados quantitativos relativos aos peregrinos presentes: é preciso preparar-se e sentir-se parte de uma história repleta de luz e de beleza, e prontos a acolher e compartilhar tal beleza em um sentido mais profundo.

Nesta perspectiva, "as portas do Jubileu, antes mesmo de ser uma ocasião de encontro com peregrinos provenientes de todo o mundo, devem ser meta de peregrinação para os próprios romanos".

O Bispo de Roma dá alguns exemplos de peregrinação urbana, como a “Coroa de Maria” ou a “visita das Sete Igrejas” seguindo os passos de São Filipe Neri ou a visita às catacumbas e ao Cemitério Verano no mês dos defuntos, a visita à Praça de Espanha no dia da Solenidade da Imaculada Conceição, a peregrinação ao Berço Sagrado mantido em Santa Maria Maior durante o Natal, a visita às antigas Stationes durante a Quaresma, a visita à Scala Santa na Igreja Santa Cruz em Jerusalém na Semana Santa, a descoberta de tantos ícones marianos nos meses de maio e outubro.

“Quanto mais cuidamos da fragilidade, mais ficamos belos”

 

O Papa também se concentra no significado de beleza na convicção, observa, de que “a beleza salvará o mundo somente se a Igreja conseguir salvar a beleza; salvá-la das manipulações ideológicas do falso progresso e da submissão ao comércio e à economia, que muitas vezes a reduzem a um engodo ou a um bem de consumo efêmero".

Retorna a metáfora materna: toda a cidade, e não apenas o centro histórico, é manifestação da concreta maternidade da Igreja, diz Francisco que enfatiza: “A fragilidade é outra manifestação de beleza que nos chama a atenção. Quanto mais cuidamos das fragilidades, mais belos ficamos."

O Papa aproveita a ocasião para agradecer aos numerosos agentes e voluntários que, com um autêntico espírito evangélico, fizeram de Roma uma cidade sensível às necessidades dos mais necessitados, especialmente no Centro Histórico. Ele elogia as tantas realidades agregativas que são lideradas por muitas irmandades ou entidades similares, que se ocupam do cuidado dos mais fracos. Realidades que devem ser “conhecidas, ampliadas e apoiadas por toda a diocese”. A este respeito, foram tomadas medidas para nomear um Vigário Episcopal específico que seja referência para as Entidades e Reitorias.

Os “feudos” na Igreja são um pecado contra a comunhão

 

Por fim, o Papa salienta que “hoje já não faz sentido multiplicar pertenças e adesões a subculturas que, em vez de fortalecer a unidade diocesana, muitas vezes alimentam conflitos. Não podem existir feudos na divisão dos territórios do ponto de vista eclesial”  Chega a dizer que “reduzir a paróquia a um microcosmo é um pecado contra a unidade e a comunhão diocesana, reduzir as comunidades a subculturas separadas é um pecado contra a comunhão eclesial. Isto vale para todas aquelas realidades ou movimentos eclesiais que preferem gastar energia apontando diferenças, antes que salvaguardar a unidade da diocese. Roma é uma única grande casa na qual todos – romanos e não romanos – devem sentir-se “em casa”, acolhidos como peregrinos”.

O Bispo de Roma conclui, portanto, que "o dinamismo sinodal da Igreja deve ser apoiado e deve permitir uma fácil flutuação dentro do único quadro sólido, que é a Igreja particular, a diocese". É preciso ir além da “necessidade elitista e egoísta de erguer muros de separação e de contrastes”, repete o documento papal. “A resposta da nossa diocese é a de construir pontes” sobre as quais possa fluir facilmente a comunhão eclesial que nos torne todos, um por um e todos juntos, pertencentes apenas a Cristo Ressuscitado e à sua Igreja.

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03 outubro 2024, 20:17