Jubileu: nas bancas o livro do Papa sobre a esperança, virtude cristã fundamental
Andressa Collet - Vatican News
Nesta quarta-feira, 6 de novembro, chega às bancas da Itália e também para aquisição on-line, duas novas obras do Papa Francisco publicadas em vista do Jubileu. Os livros "A esperança é uma luz na noite" e "A fé é uma viagem", da Livraria Editora Vaticana (LEV), são antologias com trechos dos discursos do Pontífice, além de dois textos inéditos, ou seja, as duas introduções.
O livro sobre a esperança
"A esperança é uma luz na noite", com 92 páginas, em língua italiana e ao preço de 9 euros, traz meditações sobre essa "virtude humilde" da esperança, muitas vezes esquecida e negligenciada, que será tema do Ano Santo. O Papa Francisco, com os gestos e palavras, é uma testemunha dessa esperança, entendida como ação espiritual de quem não se rende à noite do mal no mundo. Aquele que vive da esperança, afirma o Pontífice, colabora com Deus para “fazer novas todas as coisas”. Confira, a íntegra - traduzida em português - da introdução do Papa Francisco na obra "A esperança é uma luz na noite" (em língua original "La speranza è una luce nella notte"):
"O Jubileu de 2025, ano santo que eu quis que fosse dedicado ao tema 'Peregrinos de esperança', é uma ocasião propícia para refletir sobre essa virtude cristã fundamental e decisiva. Especialmente em tempos como os que estamos vivendo, em que a terceira guerra mundial em pedaços que está se desenrolando diante de nossos olhos pode nos levar a assumir atitudes de desânimo sombrio e cinismo mal disfarçado.
A esperança, por outro lado, é um dom e uma tarefa para todo cristão. É um dom porque é Deus quem a oferece a nós. Esperar, de fato, não é um mero ato de otimismo, como quando, às vezes, esperamos passar em um exame na universidade (“esperamos conseguir”) ou esperamos que o tempo esteja bom para o passeio fora da cidade em um domingo de primavera (“esperamos que faça tempo bom”). Não, esperar é aguardar algo que já nos foi dado: a salvação no amor eterno e infinito de Deus. Aquele amor, aquela salvação que dão sabor ao nosso viver e que constituem a base sobre a qual o mundo permanece de pé, apesar de toda a maldade e crueldades causadas por nossos pecados de homens e de mulheres. Esperar, portanto, é acolher esse presente que Deus nos oferece todos os dias. Esperar é saborear a maravilha de ser amado, procurado, desejado por um Deus que não se fechou em seus céus impenetráveis, mas que se fez carne e sangue, história e dias, para compartilhar o nosso destino.
A esperança é também uma tarefa que os cristãos têm o dever de cultivar e fazer bom uso para o bem de todos os seus irmãos e irmãs. A tarefa é aquela de permanecer fiel ao dom recebido, como bem apontava Madeleine Delbrêl, uma francesa do século XX, capaz de levar o Evangelho às periferias, geográficas e existenciais, da Paris de meados do século, marcadas pela descristianização. Escrevia Madeleine Delbrêl: “A esperança cristã nos atribui como lugar aquela linha estreita no cume, aquela fronteira onde a nossa vocação exige que escolhamos, a cada dia e a cada hora, de ser fiel à fidelidade de Deus por nós". Deus é fiel a nós, a nossa tarefa é aquela de responder a essa fidelidade. Mas atenção: não somos nós que geramos essa fidelidade, ela é um dom de Deus que opera em nós se nos deixarmos plasmar pela sua força de amor, o Espírito Santo que age como um sopro de inspiração no nosso coração. Cabe a nós a tarefa, então, de invocar esse dom: “Senhor, permita-me ser fiel na esperança!”.
Eu disse que esperar é um dom de Deus e uma tarefa para os cristãos. E viver a esperança requer um “misticismo de olhos abertos”, como o grande teólogo Joseph-Baptist Metz a chamava: saber notar, em toda parte, atestados de esperança, o agir do possível no impossível, a graça onde poderia parecer que o pecado tenha corroído toda a confiança. Há algum tempo, tive a oportunidade de dialogar com duas testemunhas excepcionais de esperança, dois pais: um israelense, Rami, e um palestino, Bassam. Ambos perderam suas filhas no conflito que ensanguenta a Terra Santa há muitas décadas. No entanto, em nome da dor deles, do sofrimento que sentiram com a morte das duas filhas pequenas - Smadar e Abir - eles se tornaram amigos, na verdade, irmãos: vivem o perdão e a reconciliação como um gesto concreto, profético e autêntico. Conhecê-los me deu muita, muita esperança. A amizade e fraternidade deles me ensinaram que o ódio, concretamente, pode não ter a última palavra. A reconciliação que eles experimentam como indivíduos, profecia de uma reconciliação maior e mais ampla, constitui um sinal invencível de esperança. E a esperança nos abre a horizontes impensáveis.
Convido cada leitor deste texto a fazer um gesto simples, mas concreto: à noite, antes de ir para a cama, relembrando os eventos vividos e os encontros que teve, vão em busca de um sinal de esperança no dia que acabou de passar. Um sorriso de alguém de quem vocês não esperavam, um ato de gratuidade observado na escola, uma gentileza encontrada no local de trabalho, um gesto de ajuda, talvez até pequeno: a esperança é de fato uma “virtude meninazinha”, como escrevia Charles Péguy. E precisamos voltar a ser crianças, com seus olhos atônitos sobre o mundo, para encontrá-la, conhecê-la e apreciá-la. Vamos treinar para reconhecer a esperança. Poderemos então nos maravilhar com o tanto de bem que existe no mundo. E o nosso coração se iluminará de esperança. Poderemos, então, ser faróis de futuro para quem está ao nosso redor.
FRANCISCO
Cidade do Vaticano, 2 de outubro de 2024"
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