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O 2024 do Papa Francisco, artesão da paz e peregrino no mundo

Os momentos mais significativos do ano de 2024 do Pontífice de 88 anos, entre viagens internacionais e visitas à Itália e nas paróquias de Roma, o Sínodo e o Consistório, a Encíclica “Dilexit Nos” e a abertura do Santo Ano. Entre apelos, encontros, telefonemas, cartas, audiências e reformas.

Salvatore Cernuzio/Mariangela Jaguraba – Vatican News

A viagem mais longa ao Sudeste Asiático e à Oceania (quase duas semanas) e a mais curta à Córsega (cerca de dez horas). Quase 200 apelos contra guerras, “crueldade” com as crianças, produção de armas e pena de morte. Encontros com autoridades do Oriente Médio e da Ucrânia e com vítimas de conflitos. Cartas-apelos aos núncios em Kiev e Moscou e aos católicos na Terra Santa. Mensagens vigorosas para o G7, o G20, o Fórum de Davos, a Cop29. Reformas e reestruturações internas no Vaticano ou na Diocese de Roma. Depois, telefonemas, telegramas, mensagens de vídeo, entrevistas, biografias, prefácios de livros e até mesmo uma encíclica, Dilexit Nos, sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. E ainda: o Sínodo sobre Sinodalidade, visitas a paróquias das periferias de Roma e encontros com sacerdotes. Por fim, o Jubileu da Esperança, com a abertura da Porta Santa em São Pedro, em 24 de dezembro, e depois em Rebibbia, um cárcere que se tornou uma “basílica” por um dia. Não houve um período de calmaria, um momento de pausa, um mês de descanso para o Papa Francisco neste 2024 que se conclui. Foi um ano intenso para o Pontífice, entre as contingências mundiais, o governo de toda a Igreja e os preparativos para o Ano Santo. A seguir, uma retrospectiva do ano de 2024 do Santo Padre com etapas fundamentais e palavras-chave.

O Papa em Dili, capital do Timor-Leste
O Papa em Dili, capital do Timor-Leste

A - Ásia e Oceania

De 2 a 13 de setembro, Francisco realizou a tarefa mais desafiadora de todas: uma viagem de quase duas semanas ao Sudeste Asiático, com escalas na Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura. Uma viagem que abrangeu dois continentes, quatro fusos horários diferentes e 32.814 quilômetros percorridos de avião. Uma viagem “sonhada” desde 2020, antes da pandemia de Covid, e um desafio vencido para quem temia possíveis problemas de saúde. Cenas inesquecíveis marcaram a viagem papal: os gestos de afeto com o grão imame de Jacarta; as boas-vindas nas ruas com cantos e danças tribais do povo de Port Moresby; os mais de meio milhão de pessoas em Dili, ao longo da costa e nas calçadas ou em árvores; a missa composta e ordenada no cenário futurista de Singapura. O Papa, entusiasmado, nunca cansado, mas revigorado pelo encontro com esses povos jovens e com essas Igrejas vivas, também conseguiu incluir no programa uma escala em Vanimo, nas fronteiras de Papua Nova Guiné, onde chegou num avião militar, para encontrar os missionários argentinos que anunciam o Evangelho nas florestas entre os indígenas. Uma viagem que, depois do Iraque, permanecerá entre os capítulos mais significativos da história do pontificado.

As boas-vindas ao Papa em Port Moresby, Papua Nova Guiné
As boas-vindas ao Papa em Port Moresby, Papua Nova Guiné

B - Bélgica e Luxemburgo

Depois de uma semana e meia, o Papa embarcou novamente num avião no dia 26 de setembro para Luxemburgo, primeira parte de um itinerário até 29 de setembro que incluiu também a Bélgica. Uma viagem ao coração da Europa com foco nos desafios do continente: a guerra (o memorável apelo aos “compromissos honrosos” para alcançar uma solução pacífica para os conflitos), a migração, a secularização, os casos de abusos na Igreja. Este último foi um tema recorrente durante a visita ao Papa que não poupou denúncias vigorosas de “uma vergonha” pela qual pediu humildemente perdão e encontrou-se em privado durante duas horas com 17 vítimas de abusos em Bruxelas. Francisco visitou as duas sedes da antiga Universidade de Louvain, por ocasião dos 600 anos de sua fundação, onde não faltaram pequenos protestos. Os muitos eventos não programados em Bruxelas permanecem na nossa memória: a visita a uma casa de caridade para idosos e doentes, a oração no túmulo do rei Balduíno, o café da manhã na paróquia com os pobres e refugiados, a aparição surpresa no palco de evento juvenil com 6 mil jovens acampados durante a noite aguardando a missa papal do dia seguinte.

A visita surpresa a um evento juvenil em Bruxelas
A visita surpresa a um evento juvenil em Bruxelas

C – Córsega

Em setembro a viagem mais longa, em dezembro a mais curta: em menos de dez horas Jorge Mario Bergoglio foi à île de beauté, Córsega, terra natal de Napoleão e uma das maiores ilhas do Mediterrâneo. O Papa visitou Ajácio desde a manhã até à tarde de domingo, 15 de dezembro, participando na sessão final de um Congresso sobre a piedade popular, encontrando-se com o clero local e celebrando a missa na Praça de Austerlitz. No final da visita, um encontro confidencial com o presidente francês Emmanuel Macron no aeroporto para uma conversa sobre a atualidade na Europa e no mundo. Durante o dia em Ajácio também houve orações à Madonnuccia (Virgem padroeira da Córsega), saudações ao povo e especialmente às crianças, que, como disse aos jornalistas no avião de retorno, foi o que mais o impressionou em toda a viagem.

Missa do Papa em Ajácio
Missa do Papa em Ajácio

D - Dilexit Nos

Ele a anunciou em junho e a publicou em 24 de novembro. A quarta encíclica de Francisco percorre a tradição e a atualidade do pensamento “sobre o amor humano e divino do coração de Jesus Cristo”, convidando a renovar a nossa devoção autêntica para não esquecer a ternura da fé, a alegria de se colocar a serviço, o fervor da missão. Uma mensagem para um mundo que parece ter perdido o coração. “No meio de guerras e fragmentações, Dilexit Nos desafia-nos a olhar para o alto e a fazer escolhas corajosas, por vezes perdedoras, mas para o bem de todos”, disse o arcebispo de Chieti-Vasto, Bruno Forte, na apresentação do texto. Isto, esclareceu, não é “uma mudança de ritmo” para o Papa Francisco, mas sim “uma mudança de ritmo para quem nivelou o seu magistério sobre o social e o político”.

A encíclica Dilexit Nos, a quarta do Papa Francisco
A encíclica Dilexit Nos, a quarta do Papa Francisco

E – Ecumenismo

Novos passos este ano para o caminho ecumênico, uma prioridade para o Papa Francisco. Em junho foi apresentado o documento do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos. O Bispo de Roma, que faz um balanço do diálogo ecumênico em torno do papel do Papa e do exercício do primado petrino. O Papa manteve muitas audiências com luteranos, metodistas, delegados de diversas confissões cristãs e também com o patriarca assírio Mar Awa, trinta anos depois da assinatura da "Declaração Cristológica Comum" por João Paulo II e Mar Dinkha IV, que pôs fim a mais de um milênio de controvérsias doutrinárias entre as Igrejas Católica e Oriental. Na Bula que anuncia o Jubileu, a Spes non Confundit, Francisco expressou o “profundo desejo” de que durante o Ano Santo “não falte uma celebração ecumênica”. E reiterou o seu desejo para 2025 de à Turquia para o aniversário de 1500 anos do Concílio de Nicéia.

Francisco e o patriarca da Igreja Assíria do Oriente, Mar Awa
Francisco e o patriarca da Igreja Assíria do Oriente, Mar Awa

F - Fundo contra a fome

Utilizar uma percentagem fixa do dinheiro utilizado em armamentos para criar um fundo global que elimine definitivamente a fome e facilite as atividades educativas nos países mais pobres. O Papa reiterou esta proposta em todos os seus pronunciamentos mais importantes de 2024: nas mensagens à Cop29 e ao Fórum Econômico de Davos, na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, nos encontros com chefes de Estado e de governo, na Spes not Confundit. Em diversas ocasiões, Francisco apontou o dedo contra o mercado de armas, denunciando a “hipocrisia” de falar de paz e “armar guerras”. “Com o dinheiro utilizado para essas despesas”, afirmou diversas vezes, citando a opinião de especialistas, “a fome poderia ser erradicada em muitos países”.

Francisco almoça com 1.500 pessoas carentes
Francisco almoça com 1.500 pessoas carentes

G – Giubileo, em italiano (Jubileu)

O Jubileu da Esperança, o XXVII de toda a Igreja, o segundo de Jorge Mario Bergoglio depois do Ano Santo da Misericórdia de 2016. Doze meses de graça, perdão, renovação e também de desejados sinais concretos de “esperança” como a abolição da pena de morte, o perdão da dívida dos países pobres, o cessar-fogo. Um Ano para levar a esperança “lá onde ela se perdeu”, em particular “nos lugares profanados pelas guerras e pela violência”, disse o Papa na homilia da missa de Natal, em 24 de dezembro, depois do evocativo rito de abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro. Dois dias depois, em 26 de dezembro, o Papa abriu a Porta Santa na igreja do cárcere de Rebibbia. Um gesto sem precedentes através do qual Francisco quis injetar esperança num lugar de reclusão e dificuldades. Na oração da Imaculada Conceição de 8 de dezembro, o Papa recomendou não “sufocar” a graça jubilar com a organização, reclamações por causa dos canteiros de obras em Roma e as “coisas para fazer”. Enviou uma carta aos párocos, sacerdotes e religiosos da Diocese de Roma convidando-os a disponibilizar durante o Ano Santo alojamentos ou apartamentos desocupados de sua propriedade para “conter a emergência habitacional” e ativar “formas de proteção” para quem não tem casa ou corre o risco de perdê-la. Muitos eventos aguardam o Papa, inclusive a missa da Solenidade da Epifania, em 6 de janeiro de 2025, e os vários “jubileus” dedicados a comunicadores, artistas, forças armadas, voluntários, profissionais de saúde, vida consagrada, empresários, governantes, jovens e adolescentes. Nestes dois últimos eventos, em particular, espera-se o maior afluxo devido à canonização dos dois beatos Carlos Acutis e Pier Giorgio Frassati.

O Papa abre a Porta Santa de São Pedro para o Jubileu de 2025
O Papa abre a Porta Santa de São Pedro para o Jubileu de 2025

H - Helsinque

Em meio à exacerbação de conflitos e tensões internacionais, o Papa Francisco - e, assim como ele, o presidente italiano Sergio Mattarella e o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin - invocou repetidamente o “Espírito de Helsinque”, a grande conferência de 1975 que freou a Guerra Fria e contribuiu para a distensão na Europa, codificando pontos firmes sobre o dever de respeitar as fronteiras dos Estados e resolver disputas por meio da diplomacia e do diálogo. “Sem diálogo nunca haverá paz”, foi uma das frases recorrentes do Papa ao longo deste ano.

Papa Francisco no Angelus
Papa Francisco no Angelus

I – Incontri, em italiano (Encontros)

Sempre promotor do princípio de “proximidade” para com quem sofre, o Papa Francisco recebeu nos últimos meses testemunhas dos horrores no Oriente Médio e na Ucrânia. Em abril, recebeu no Vaticano uma delegação de familiares de pessoas sequestradas pelo Hamas em 7 de outubro e, em novembro, um grupo de ex-reféns. Em outubro, ocorreu o encontro com Ehud Olmert, 78 anos, ex-primeiro-ministro do Estado de Israel junto com o ex-ministro das Relações Exteriores do Estado palestino, Nasser Al-Kidva. Em dezembro, realizou-se a audiência de cerca de meia hora com o presidente palestino Abu Mazen. Em relação à Ucrânia, o Papa recebeu em audiência pela terceira vez no Vaticano, em 11 de outubro, o presidente Volodymyr Zelensky, que já tinha visto quatro meses antes no G7 na Puglia. Depois, recebeu a sua esposa Olena Zelenska e, ao longo dos meses, encontrou refugiados, vítimas, crianças provenientes das áreas devastadas pelos bombardeios, as esposas dos soldados combatentes de Azov condenados à prisão perpétua na Rússia.

A audiência a um grupo de ex-reféns israelenses
A audiência a um grupo de ex-reféns israelenses

L – Lettere, em italiano (Cartas)

Na densa correspondência pública e privada do Papa, destacam-se três cartas. A primeira é a carta de 7 de outubro, aniversário do massacre do Hamas em Israel, aos católicos do Oriente Médio: um texto-denúncia de um conflito “feito pelos poderosos” às custas dos inocentes e da “incapacidade” da Comunidade internacional de “calar as armas”. Uma mensagem de proximidade àqueles que sofrem com a guerra: mães, crianças, pessoas deslocadas e a população sofredora de Gaza. A outra carta é a dirigida ao núncio apostólico em Kiev, dom Visvaldas Kulbokas, datada de 19 de novembro, relativa aos mil dias desde o início do conflito: uma página e meia que termina com a garantia de que “a última palavra” sobre esta tragédia será de Deus: Ele “pedirá contas de todas as lágrimas derramadas”. Na mesma linha, Francisco escreveu em 12 de dezembro ao núncio apostólico na Federação Russa, dom Giovanni D'Aniello, para mais uma vez estigmatizar a guerra, uma "ferida grave" infligida à família humana, e encorajar "esforços diplomáticos renovados para deter a progressão do conflito."

Os apelos do Papa no final da Audiência Geral de quarta-feira
Os apelos do Papa no final da Audiência Geral de quarta-feira

M - Medio Oriente (Oriente Médio)

Não houve nenhum Angelus, Audiência Geral de quarta-feira, audiência na Residência Apostólica em que o Papa não mencionou a tragédia que ocorre no Oriente Médio há mais de um ano, com o ataque do Hamas, a resposta militar de Israel em Gaza que causou mais de 50 mil mortos (números reportados pelo Ministério da Saúde administrado pelo Hamas), o crescendo das tensões com o Irã, os ataques no Líbano. Um peso no coração de Francisco que sempre fez apelo pelo cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, pela libertação dos reféns israelenses ainda em cativeiro, pelo acesso à ajuda humanitária em Gaza, onde a população está no extremo. Sobre Gaza, o Papa – especialmente nos últimos tempos – denunciou brutalidades como as “crianças sendo metralhadas” ou ataques a escolas e hospitais. No livro “A esperança não decepciona”, publicado pela Piemme, o Papa pediu também que “investigasse com atenção para determinar” se o que acontece na Faixa de Gaza “se enquadra na definição técnica” de genocídio “formulada por juristas e organismos internacionais”. Estas palavras, bem como outras, que suscitaram queixas do mundo judaico e do governo de Israel.

O momento de oração nos Jardins Vaticanos no décimo aniversário da “Invocação pela paz” na Terra Santa
O momento de oração nos Jardins Vaticanos no décimo aniversário da “Invocação pela paz” na Terra Santa

N - Novos cardeais

Surpreendentemente, no Angelus de 6 de outubro, o Papa, da janela da Residência Apostólica, anunciou o décimo Consistório do seu pontificado para a criação de 21 novos cardeais. Uma lista que mais uma vez seguiu a visão global da Igreja considerada pelo Papa Jesuíta, com purpurados do Irã, Japão, Chile, Filipinas, Costa do Marfim, Argélia, Brasil e Itália. Com os novos cardeais, o Colégio Cardinalício passou para 253 membros, dos quais 140 eleitores e 113 não eleitores no caso de Conclave.

O Consistório para a criação de 21 novos cardeais (7 de dezembro)
O Consistório para a criação de 21 novos cardeais (7 de dezembro)

O - Oitenta e oito anos

No dia 17 de dezembro, Jorge Mario Bergoglio completou 88 anos. Com uma saúde que parece ter melhorado em relação a 2023, ano de operações e internações, fora algumas gripes sazonais que o obrigaram a cancelar audiências ou a rezar o Angelus na Santa Marta, com as habituais dores no joelho que o impedem de realizar trajetos longos a menos que esteja numa cadeira de rodas, Francisco tornou-se um dos Papas mais longevos da história. Nenhuma celebração no dia 17 de dezembro, mas um dia normal de trabalho entre felicitações e presentes de todo o mundo.

O Papa apaga as velas de um bolo oferecido pelos fiéis
O Papa apaga as velas de um bolo oferecido pelos fiéis

P – Paz

O maior presente, a meta a ser alcançada e o antídoto para a guerra “que é sempre uma derrota”. Existem inúmeras ocasiões em que o Papa exortou as pessoas a rezarem pela paz. No dia 7 de outubro – na sequência de outras iniciativas semelhantes a partir de 2013 em prol da Síria, RD Congo, Sudão do Sul, Afeganistão, Líbano – o Bispo de Roma anunciou um dia mundial de jejum e oração para invocar a paz nos territórios dilacerados pela violência. No dia anterior, 6 de outubro, foi a Santa Maria Maior para rezar o Rosário e pedir a Nossa Senhora para “escutar o grito” daqueles que sofrem. Não deve ser esquecida, a cerimônia de 8 de junho nos Jardins Vaticanos, no mesmo local onde exatamente dez anos antes, em 2014, ele rezou e plantou uma oliveira com o presidente israelense Peres e o presidente palestiniano Abbas, como sinal de paz para Oriente Médio ferido. “Que o Estado da Palestina e o Estado de Israel possam viver lado a lado”, foi a oração do Papa durante a cerimônia de junho passado.

O Terço pela paz em Santa Maria Maior
O Terço pela paz em Santa Maria Maior

Q – Quadro

Num ano de palavras – muitas palavras – escritas e faladas, uma imagem permanece impressa na memória coletiva: o Papa em meditação diante da Crucificação Branca de Chagall. Uma obra que sempre lhe foi cara e cuja reprodução se conserva no seu escritório privado. Francisco admirou o quadro no Palazzo Cipolla na Via del Corso, como parte da exposição Chagall em Roma: A Crucificação Branca. O Papa foi lá de surpresa depois da oração na Praça de Espanha, reiterando assim a sua ligação com a obra-prima criada por Chagall em 1938, depois da Noite dos Cristais, que no passado Bergoglio definiu como uma mensagem de “dor”, mas “cheia de serenidade”.

Francisco em frente ao quadro "A Crucificação Branca", de Marc Chagall, em exposição em Roma
Francisco em frente ao quadro "A Crucificação Branca", de Marc Chagall, em exposição em Roma

R – Roma

“Bispo e povo, juntos...” disse ele em sua apresentação ao mundo no balcão central da Basílica de São Pedro após o Conclave. E nunca mais do que este ano Francisco se fez presente como pároco na sua Diocese, Roma, realizando uma longa visita que durou meses nas paróquias do centro e das periferias para encontrar sacerdotes de diferentes setores ou com vários anos de ordenação (jovens, médios, idosos). Em vista do Jubileu iniciou também as Escolas de Oração, uma série de encontros de "catecismo" com diferentes realidades romanas: crianças numa paróquia da área Borghesiana, adolescentes num auditório paroquial em Colli Aniene, famílias numa garagem de condomínio no Distrito de Palmarola. Também digno de nota é o Motu Proprio “A verdadeira beleza” com que o Papa reorganizou a Diocese ao fazer com que o setor central fosse absorvido pelos outros quatro setores para favorecer uma “maior comunhão eclesial”.

O catequista Francisco numa garagem no bairro Palmarola de Roma
O catequista Francisco numa garagem no bairro Palmarola de Roma

S – Sínodo

Quase todo o mês de outubro foi ocupado pela segunda sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade. Mesma configuração e organização de outubro de 2023, mas o encontro viu duas inovações: a criação de dez Grupos de Estudo para aprofundar alguns temas doutrinários, teológicos e pastorais após o trabalho sinodal (incluindo o da mulher e o seu papel na Igreja, sobre o qual houve foi forte pressão mediática e não só) e o fato de o Papa não ter publicado uma exortação pós-sinodal, mas ter aceito o Documento Final, votado por maioria na assembleia, como magistério pontifício. Uma escolha perfeitamente alinhada com o tema da sinodalidade, no centro do Sínodo.

O Papa durante os trabalhos do Sínodo
O Papa durante os trabalhos do Sínodo

T – Telefonemas

Canal utilizado desde a noite das eleições, também este ano Francisco utilizou frequentemente o telefone para ter comunicação direta com os seus interlocutores. Desde Gino Cecchettin, pai de Giulia, jovem vítima de feminicídio, à paróquia de Gaza e ao seu pároco, padre Gabriel Romanelli, a quem telefona todos os dias, até ao presidente em fim de mandato dos Estados Unidos, Joe Biden, a quem reiterou o apelo ao perdão dos prisioneiros no corredor da morte nas prisões federais. Este pedido do Papa foi aceito pelo líder democrático que poucos dias atrás anunciou que tinha comutado a pena capital em prisão perpétua para 38 presos.

O Papa com o presidente em fim de mandato dos EUA, Joe Biden, no G7 na Puglia (14 de junho)
O Papa com o presidente em fim de mandato dos EUA, Joe Biden, no G7 na Puglia (14 de junho)

U – Ucrânia

Tal como acontece com o Oriente Médio, a expressão “Ucrânia martirizada” tem estado na boca do Pontífice em todos os pronunciamentos públicos. Além dos já mencionados encontros, apelos e iniciativas de caridade com envios de roupas, remédios, ambulâncias e alimentos por meio do cardeal esmoleiro Konrad Krajewski, em missão pela oitava vez no Natal ao país do Leste Europeu, o Papa enviou mais uma vez o cardeal Matteo Maria Zuppi a Moscou em outubro. Uma segunda missão do presidente da CEI para procurar formas de diálogo e levar adiante as iniciativas humanitárias nas quais a diplomacia vaticana demonstrou o máximo envolvimento. Em primeiro lugar, a repatriação de menores ucranianos deportados à força para a Rússia e a troca de prisioneiros.

A audiência ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em 11 de outubro
A audiência ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em 11 de outubro

V - Visitas à Itália

Em 2024 o Papa Francisco voltou a viajar pela Itália. Veneza, Verona, Trieste as etapas, todas no Veneto e todas pontuadas por fotografias ou encontros de forte impacto: o Pontífice numa lancha no Grande Canal foi acolhido pelos cantos dos jovens do Triveneto; Bergoglio no palco da Arena nos braços de Maoz e Aziz, empresários de Israel e da Palestina cujos familiares foram mortos pela guerra, que partilhavam o desejo comum de construir um futuro melhor; o Papa na Semana dos Católicos Italianos falou sobre a democracia “que não goza de boa saúde” e depois se imergiu num encontro feito de abraços e testemunhos com imigrantes do Médio e Extremo Oriente e grupos de doentes e deficientes.

O Papa com os empresários israelense Maoz e o palestino Aziz, em Verona
O Papa com os empresários israelense Maoz e o palestino Aziz, em Verona

Z - Zero Deficit (Déficit Zero)

Objeto de estudo e trabalho do C9, cristalizado no Praedicate Evangelium, a reforma das finanças do Vaticano iniciada pelo Papa Francisco ainda não foi totalmente implementada, afirmou ele mesmo. Além de iniciativas concretas, sobretudo a modificação das regras relativas aos contratos e despesas extraordinárias dos Dicastérios, permanece central a carta ao Colégio dos Cardeais na qual o Papa pede “um esforço” para o objetivo do “déficit zero”. Novamente aos cardeais, mas também aos prefeitos e chefes de instituições da Cúria e de organismos ligados à Santa Sé, Francisco escreveu alguns meses depois pedindo “medidas urgentes” para o Fundo de Aposentadorias, cuja atual gestão parece não ser capaz de garantir "o cumprimento da 'obrigação de pensões para as gerações futuras'. A questão econômica parece ser um desafio para a Santa Sé e o Papa pede “sensibilidade” e “sacrifícios” de todos para o próximo ano.

O Papa durante as felicitações de Natal à Cúria Romana (21 de dezembro)
O Papa durante as felicitações de Natal à Cúria Romana (21 de dezembro)

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31 dezembro 2024, 11:58