Editorial: Jamais matar em nome de Deus
Silvonei José - Cidade do Vaticano
Aumenta a perseguição aos cristãos em todo o mundo: é o que afirmam Relatórios de Organizações Internacionais que cuidam da defesa dos direitos humanos. São muitos os países que fazem parte da lista negra onde os cristãos são mais oprimidos, perseguidos, discriminados, objetos de abusos e violência devido a sua fé. Situações, seja na vida privada, seja na vida pública.
Nos dias passados o Papa Francisco na sua saudação aos fiéis de língua árabe durante a Audiência geral no Vaticano, se referiu à Síria, à Terra Santa e ao Oriente Médio como “terra martirizada”. “Devemos rezar por esses irmãos que estão em guerra e pelos cristãos perseguidos, que querem expulsá-los daquela terra! Devemos rezar por esses nossos irmãos e irmãs”, repetiu o Santo Padre.
O Papa Francisco em muitas ocasiões, como no encontro do ano passado com os embaixadores de 182 países com os quais a Santa Sé mantém relações diplomáticas, reafirma sua viva convicção de que cada expressão religiosa é chamada a promover a paz.
Sabemos que não têm faltado violências por motivação religiosa,- disse -, começando precisamente pela Europa, onde históricas divisões entre os cristãos já perduram há demasiado tempo. “Na base deste caminho, não pode haver senão o diálogo autêntico entre as diferentes confissões religiosas”.
Estamos cientes, porém, de que ainda hoje, infelizmente, a experiência religiosa, em vez de se abrir aos outros, pode às vezes ser usada como pretexto de fechamentos, marginalizações e violências. O Papa se refere particularmente ao terrorismo de matriz fundamentalista, que ceifa a vida de numerosas pessoas em todo o mundo.
Trata-se de uma loucura homicida que, na tentativa de afirmar uma vontade de predomínio e poder, abusa do nome de Deus para semear morte.
Mais de 215 milhões de cristãos perseguidos no mundo: 1 entre 3 gravemente.
Francisco recorda que as perseguições dos dias de hoje são tão intensas que são muito superiores às perseguições sofridas pelos primeiros cristãos. Há um aumento vertiginoso de situações de violência que chegam a dar a Igreja os “mártires do mundo moderno”.
Hoje, graças ao Papa, mas também a ONGs que lutam pelos direitos do homem, há uma maior atenção ao tema da perseguição dos cristãos, mas ainda são poucas as vozes que se levantam para gritar ao mundo os horrores padecidos por homens e mulheres, cuja única culpa é seguir Cristo. Muitos são assassinados pelo simples fato de crer.
Discriminar e relegar pessoas a uma vida de série B, a uma vida sem futuro, sem acesso à educação, sem acesso ao mundo do trabalho e a cuidados médicos pelo simples fato de se professar cristão, é algo que deveria sacudir as consciências, principalmente no mundo ocidental.
As perseguições em aumento são também um sinal de que no mundo outros direitos não estão sendo respeitados. É um sinal dos tempos. Há uma laceração na sociedade de hoje. As perseguições, o sangue dos novos mártires como semente da Igreja, certamente não são uma novidade, a novidade é que estão aumentando, e muitas vezes na total indiferença de quem poderia evitá-las.
A educação à “cultura do encontro”, a promoção de um clima de maior confiança para com as religiões, o reconhecimento que com os seus valores e tradições podem contribuir de modo significativo para o desenvolvimento de nossas sociedades, são chaves de leitura para ajudar a prevenir a intolerância e a discriminação anticristã.
A intolerância é a antecâmara da discriminação que por sua vez é a antecâmara da perseguição. Somente um testemunho sereno da fé poderá mover a pedra que hoje está no coração daqueles que semeiam ódio e violência, em nome de uma religião, de um Deus. Mas Francisco levanta a sua voz: “nunca se pode matar em nome de Deus”.
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