Centro Pro União: "O diálogo como a alma do ecumenismo"
Cidade do Vaticano
Cardeal Koch agradeceu de inicio a todos que participaram na criação deste centro, aos que o mantem e de modo especial aos padres franciscanos em particular o diretor do “Centro Pro União”, Padre James F. Puglisi. E afirmou que logo após o Concílio Vaticano II, os fundadores do centro compreenderam que o dialogo ecumênico precisava não somente de intensos esforços teológicos, mas também de contatos oficiais entre os chefes das Igrejas.
De quem depende o ecumenismo
Depende em maneira decisiva também dos colóquios e dos encontros mais ou menos informais entre cristãos que vivem nas Igrejas e Comunidades eclesiais separadas e que desejam conhecer-se melhor e enriquecer-se mutuamente. O encontro direto entre pessoas é sempre um dom de mutuo enriquecimento. No movimento ecumênico, tais encontros são salutares, digo necessários, também porque, a origem das dolorosas divisões na Igreja não foram somente divergências teológicas, mas também formas e desenvolvimento culturais diferentes.
Se as divisões internas da Igreja são devidas em grande parte ao fato que não era mais possível compreender-se uns com os outros, agora a superação destas divisões poderá acontecer somente no caminho inverso, através o encontro, a troca e o mutuo enriquecimento. Isto que vale para os encontros informais, vale ainda mais para os encontros entre os representantes das varias Igrejas, encontros onde o terreno é em grande parte preparada por aqueles menos oficiais.
Para isto, entre os frutos mais importantes do movimento ecumênico, o Santo Papa João Paulo II contou sobretudo com a “fraternidade reencontrada” entre os cristãos e entre as Comunidades Eclesiais cristãs. Os numerosos encontros, a troca das visitas e os vários colóquios criaram no tempo uma rede de relações amigáveis e fraternas, que constituem o solido fundamento dos diálogos ecumênicos.
João XXIII, Paulo VI e o Concilio Vaticano II
A luz dos primórdios do ecumenismo torna-se muito mais aguda se voltarmos nosso olhar para o santo Papa João XXIII e para a visão do Concílio Vaticano II que, não surpreendentemente, nasceu nele durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. As duas prioridades que levaram o Papa a convocar o Concilio estão intimamente ligadas: a renovação da Igreja Católica e a recomposição da unidade cristã.
Quão próximo o Papa João XXIII foi a ligação entre as duas intenções e quão importante foi para ele o objetivo ecumênico se torna evidente de uma forma particular também da decisão que tomou durante a quarta congregação geral do Conselho em outubro de 1962, quando colocou sobre o mesmo nível das outras dez comissões conciliares o então Secretariado para a Unidade dos Cristãos, fundado em 1960, com todos os seus membros e consultores, dando-lhe uma posição especial.
Papa Paulo VI, no inicio da segunda sessão do Concilio, no seu discurso fundamental de ingauguracao, no qual ainda era consultor conciliar Joseph Ratzinger reconheceu “um verdadeiro caráter ecumênico”, sublinhou que a aproximação entre os cristãos e as igrejas separadas era uma das intenções principais, ou o drama espiritual, na base da convocação do Concílio.
O próprio Pontífice, ao promulgar o decreto sobre o ecumenismo "Unitatis redintegratio", afirmou que isso explicava e completava a Constituição dogmática sobre a Igreja: "ea doctrina explicationibus completa". Esta expressão enfatiza inequivocamente que Paulo VI não atribuiu um valor teológico menor ao Decreto sobre o ecumenismo, mas que, pelo contrário, equiparou-o, em sua importância teológica, à Constituição dogmática sobre a Igreja "Lumen gentium".
João Paulo II, Bento XVI e Francisco
Papa João sublinhou que o caminho ecumênico é o caminho da Igreja e pertence organicamente a sua vida e a sua ação. E diante de várias dúvidas nutridas tanto pelos defensores quanto pelos detratores do ecumenismo, ele reiterou claramente que a decisão tomada pela Igreja em favor do ecumenismo é irreversível, porque a Igreja Católica, com o Concílio Vaticano II, "se comprometeu irreversivelmente a percorrer o caminho", de pesquisa ecumênica, colocando-se na escuta do Espírito do Senhor, que ensina a ler atentamente os "sinais dos tempos".
O papa Bento XVI reservou para o objetivo ecumênico um papel prioritário em seu pontificado, como já é evidente na primeira mensagem pronunciada depois de sua eleição ao trono papal, na qual afirmou que a tarefa primordial do sucessor de Pedro é "trabalhar sem poupar energias para a reconstituição da unidade plena e visível de todos os seguidores de Cristo. Esta é a sua ambição, este é o seu dever impulsionador”.
O Papa Francisco nunca se cansa de nos encorajar a empreender novos passos corajosos: "Estamos conscientes de que há ainda outro caminho para alcançar a plenitude da comunhão que também pode ser expressa na partilha da própria Mesa eucarística, que ardentemente desejamos; mas as diferenças não devem nos assustar e paralisar nosso caminho”.
Movimento de conversão
Em segundo lugar, o movimento ecumênico foi um movimento de conversão, que começou com a consciência do pecado das divisões na Igreja. Para representar esse pecado, não há uma mais emblemática imagem do que a do dano causado à integridade da túnica de Jesus, da qual a Bíblia explicitamente nos diz que foi costurado em uma única peça.
É significativo que, na história da paixão, nem mesmo os soldados romanos se atreveram a rasgar este precioso vestuário do Jesus terreno: "Não vamos repartir a túnica. Vamos tirar a sorte para ver com quem fica" (Jo 19,24). Assim, na história cristã, a túnica de Jesus poderia se tornar o símbolo da unidade da Igreja como Corpo de Cristo.
A tragédia deplorável nesta história é que os próprios cristãos fizeram o que os soldados romanos não se atreveram a fazer. Aqui, como observou o cardeal Edward Idris Cassidy, ex-presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, a túnica de Jesus está agora rasgada em pedaços e fragmentos, em confissões e denominações que muitas vezes lutam na história, um contra o outro, em vez de cumprir o mandato que nos foi confiado pelo Senhor, ou melhor, ser um".
Movimento Missionário
Se a divisão dos cristãos é o contra testemunho da pregação do Evangelho, então, na direção oposta, a reconciliação ecumênica é o pré-requisito fundamental para uma missão credível da Igreja. No mundo de hoje, é possível fazer um testemunho comum de Jesus Cristo - sustentável e, portanto, ecumênica - somente se as Igrejas cristãs superarem suas divisões e conseguirem viver a unidade em uma diversidade reconciliada. O ecumenismo e a missão são, portanto, inseparáveis; eles exigem e apoiam um ao outro. Uma Igreja missionária é, por sua natureza, uma Igreja ecumênica, e uma Igreja comprometida ecumenicamente é o pressuposto de uma Igreja missionária.
É por isso que, de acordo com o Papa Francisco, "o compromisso com uma unidade que facilita a recepção de Jesus deixa de ser mera diplomacia ou realização forçada, para se tornar um caminho inevitável para a evangelização".
E queremos ouvir o Espírito Santo ao compartilhar nossas experiências, nossas opiniões, nossas esperanças e nos deixar guiar por um importante princípio sugerido pelo Decreto sobre o Ecumenismo do Concílio Vaticano II, segundo o qual a essência do diálogo ecumênico não é uma mera troca de ideias, pensamentos e teorias, mas consiste em uma troca enriquecedora de dons. De fato, nenhuma Igreja é tão rica que não possa ser enriquecida pelos outros.
E nenhuma Igreja é tão pobre que não possa contribuir para a expansão do horizonte do cristianismo. É essa troca pessoal de dons que desejamos alcançar agora. E é precisamente a isso que o nosso "chá ecumênico" nos convida.
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