Cardeal Turkson em encontro em Fátima: família e dignidade humana
Cidade do Vaticano
As famílias podem encarnar um verdadeiro “programa de dignidade humana” e de “moralidade” e ser, desse modo, modelo para toda a família humana chamada a habitar e custodiar a casa comum de toda a criação.
Foi o que disse o prefeito do Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, dirigindo-se aos milhares de casais das Equipes de Nossa Senhora (Équipes Notre-Dame) reunidos em Fátima, Portugal, de 16 a 21 de julho, em seu 12º Encontro internacional.
Espiritualidade conjugal
Em seu pronunciamento na quarta-feira, 18 de julho, endereçou sua reflexão sobre a espiritualidade conjugal no âmbito de uma mais ampla “ecologia humana” que tem seus pilares na “fraternidade” e na “comunhão”.
Quem tem uma casa para administrar, explicou o purpurado ganense, compreende bem o que significa ter “responsabilidade pela nossa casa comum”. Quem vive numa pequena comunidade como a comunidade familiar, em que se deve gerir relações, problemas, compromissos, projetos, sabe colher a importância de uma correta interação entre as pessoas.
Estreita relação que une o homem à criação
Por isso, o Cardeal Turkson pediu às famílias presentes que vivam diariamente, na concretude das pequenas e das grandes escolhas que se apresentam, a estreita relação que une a dignidade humana à tutela do ambiente, o homem à criação em sua totalidade.
Trata-se, explicou, de uma “consciência ecológica” que vai além da consciência alcançada nos últimos cinquenta anos pela comunidade internacional, com a evolução dos estudos científicos e das políticas dos vários governos e das Nações Unidas.
Consciência ecológica - raízes na Sagrada Escrituras
É uma consciência que tem suas raízes nas Sagradas Escrituras, na narração bíblica da criação na qual Deus coloca o homem, “forjado do pó da terra e do sopro de Deus” no “jardim plantado por Ele” para cultivá-lo. Por conseguinte, domínio significa cuidado e proteção.
Nessa visão, disse o purpurado, o homem não é mais “o centro autorreferencial da criação”, mas, embora trazendo consigo a distinção do ser à imagem e semelhança de Deus, é percebido sobretudo como “parte de um mundo criado interligado e interdependente”. Não apenas: “O homem é parte de uma comunidade, está em comunhão com os outros e vive numa rede de relações”.
Do ser filhos de Deus, iguais em dignidade
Sobretudo, acrescentou o prefeito do referido Dicastério vaticano continuando em seu excursus escriturístico, é na comum natureza de ser filhos de Deus que os homens reconhecem ser “iguais em dignidade”. Por isso, “todo homicídio é um fratricídio”.
Pessoa humana criada para uma vida de comunhão
O ser humano, disse ele, “não é um indivíduo. É um ser relacional, criado para coexistir na relação de uma família, de uma comunidade, de uma sociedade, com igual dignidade e buscando o bem comum”. “A pessoa humana é criada para uma vida de comunhão”, afirmou ainda.
Tudo explica, segundo o Cardeal Turkson, o que significa a expressão “ecologia humana”: “Não é somente a interação do homem com seu ambiente, mas as condições de bondade, ordem, justiça, amor, fraternidade, solidariedade e piedade, que fazem a vida humana florescer como criação de Deus”.
Indubitavelmente, reconheceu o purpurado, as famílias hoje devem enfrentar muitas dificuldades, são submetidas a uma “dúplice vulnerabilidade”.
Em primeiro lugar, do ponto de vista econômico, encontrando-se muitas vezes às presas com salários insuficientes, desemprego, inseguranças, até as dramáticas emergências mundiais que se encontram nos fenômenos do tráfico de pessoas e da escravidão.
Vulnerabilidades ecológicas
Existem também vulnerabilidades, por assim dizer, ecológicas: efetivamente, quantas famílias no mundo devem ainda enfrentar o problema do insuficiente acesso à água, o problema da fome e da desnutrição, a precariedade dos alojamentos, a degradação ambiental que coloca em risco o trabalho de agricultores e pescadores?
São dificuldades que estão diante dos olhos de todos. Mas é também verdade, defendeu o purpurado, que das próprias famílias pode se ter o impulso para uma melhor atitude global. As famílias, por exemplo, “podem, de um lado, aprender a não desperdiçar, do outro, a partilhar com espírito de gratuidade e de generosidade”.
Na família, enfrentar juntos os desafios
Mais ainda, na família se aprende “a enfrentar os desafios diretamente, juntos, com coragem e com criatividade”. As boas famílias não cedem a um “finto vitimismo”, mas “reúnem os dons, os talentos e os recursos e assim enfrentam tudo aquilo que mina a sua dignidade humana e seu desenvolvimento”. Eis aí o “programa de dignidade humana”, que de cada família pode chegar ao mundo inteiro, concluiu o Cardeal Turkson.
(L’Osservatore Romano)
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