Editorial: A dignidade do trabalho
Silvonei José - Cidade do Vaticano
No último dia 29 de junho, Solenidade de São Pedro e São Paulo, o Papa Francisco, durante a sua homilia na Santa Missa celebrada na Praça São Pedro com os novos cardeais (14) criados no dia anterior e com 30 arcebispos que receberam o Pálio Sagrado, advertiu todos nós, membros da Igreja, para a tentação de mantermos sempre "uma distância" do sofrimento dos outros.
"Não são poucas as vezes que sentimos a tentação de sermos cristãos mantendo distância prudente das chagas do Senhor. Jesus toca a miséria humana, convidando-nos a estar com ele a tocar a carne sofredora dos outros", disse.
Francisco assinalou que "confessar a fé com nossos lábios e com nossos corações requer identificar os segredos do maligno" no mundo. Mas também "aprender a discernir e descobrir aqueles abrigos pessoais ou comunitários que nos mantêm distantes do nó da tempestade humana" e que impedem "entrar em contato com a existência concreta dos outros".
O Evangelho é a inspiração de Francisco
A verdadeira inspiração de Francisco é o Evangelho e é a partir desta perspectiva que Francisco olha para os problemas sociais de hoje, para as vítimas da cultura do desperdício, como os jovens e os idosos, os migrantes, os desempregados.
E sobre esse último tema – desemprego - nos dias passados foi a apresentado o livro "O trabalho é dignidade", publicado pela Editora italiana Ediesse e realizado por Giacomo Costa e Paolo Foglizzo. Um livro onde os dois autores fazem uma coletânea e comentam os pronunciamentos mais significativos do Papa Francisco sobre o tema do trabalho.
Voltando à homilia de Francisco na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo onde ele toca a tecla de sentirmos a tentação, como cristãos, de manter distância prudente das feridas de Cristo, de tocar a miséria humana, nos aproximamos do grande tema que está no coração do Papa, a dignidade do trabalho, que há muitos homens e mulheres causa sofrimento.
A voz de quem não tem voz
Francisco sempre coloca sua voz em defesa dos trabalhadores e de sua dignidade. No nosso mundo globalizado tudo está sendo redefinido, começando pelo conceito de trabalho, que para o Papa, precisamente, é um fator de dignidade.
Muitas vezes o trabalho é interpretado unicamente como uma necessidade econômica, portanto, como uma ferramenta para obter uma renda que então permita consumir. Francisco lembra que o trabalho é muito mais. O trabalho é, acima de tudo, um âmbito em que a pessoa pode se tornar mais pessoa. A pessoa experimenta a sua criatividade, experimenta os laços que a unem aos outros. É por isso que o trabalho é uma experiência humana fundamental e é por isso que o Papa diz: "atenção, não podemos imaginar resolver o problema simplesmente garantindo uma renda também àqueles que não trabalham, porque faltaria a eles uma parte fundamental da experiência humana".
A falta de trabalho é um nó na existência do homem e da mulher. O mal das nossas sociedades é tanto a exploração dos recursos quanto a exploração das pessoas. É a "cultura do desperdício" sobre a qual o Papa insiste, propondo, em oposição a ela, a globalização da solidariedade.
Diálogo, conceito essencial
Segundo um dos autores do livro sobre o Papa e o trabalho, “estamos no mundo da indústria 4.0, estamos no mundo da globalização: precisamos entender novamente o que significa justiça, bem-estar, trabalho digno”. Para fazer isso, e esta é a lição do Papa, precisamos que todos digam como as coisas são vistas do seu ponto de vista, precisamos do ponto de vista de todos.
Francisco quando fala do trabalho fala com os trabalhadores, mas também com empresários e proprietários de empresas. Não teme o confronto porque pensa que, assumindo as responsabilidades, é possível alcançar um bem maior. Neste universo o fio condutor para buscar uma solução aos dilemas é o diálogo. Para Francisco o diálogo é um conceito essencial.
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