Destino de locais de culto abandonados é tema de Simpósio na Gregoriana
Cidade do Vaticano
“A igreja também é feita de cultura material, de coisas, de construções. De lugares onde eram celebrados batismos, funerais e casamentos, onde a comunidade se reunia para participar da Eucaristia. Lugares que são percebidos pelas pessoas como sagrados, mesmo quando não mais o são".
Observação de Ottavio Bucarelli, diretor do Departamento dos Bens Culturais da Igreja da Pontifícia Universidade Gregoriana, ao apresentar na terça-feira, 10, no Pontifício Conselho para a Cultura o simpósio “Deus não habita mais aqui? Abandono de locais de culto e gestão integrada dos bens culturais eclesiásticos”.
O encontro, que vai se realizar nos dias 29 e 30 de novembro na Pontifícia Universidade Gregoriana, quer debater a questão relativa ao destino dos locais de cultos que são abandonados.
Na apresentação do Simpósio, presentes o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Dicastério para a Cultura, o bispo Nunzio Galantino, ex-secretário geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI) e presidente da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, Carlos Alberto de Pinho Moreira Azevedo, delegado do Pontifício Conselho da Cultura, e Monsenhor Valerio Pennasso, diretor do Escritório Nacional para os Bens Culturais Eclesiásticos e a construção de locais de culto da CEI.
Tema desperta interesse
Os locais de culto, que por diversos motivos deixam de ter este fim, representam um tema delicado, doloroso e complexo, “que não é reservado a um clube restrito de especialistas, como poderia parecer num primeiro momento, mas desperta um interesse extraordinário em muitos âmbitos”, afirmou o cardeal Ravasi, introduzindo a coletiva de imprensa.
Já em 1987 a Pontifícia Comissão para a Arte Sacra na Itália publicava a “Carta sobre destinação do uso dos antigos prédios eclesiásticos”, que se concentrava sobretudo na situação italiana e no patrimônio imobiliário objeto das requisições do final do século XIX e após a unidade da Itália, em grande parte não mais de propriedade eclesiástica.
Trinta anos mais tarde, a Santa Sé volta a concentrar sua atenção sobre o fenômeno, visto que os desafios na época assumiram proporções mais amplas.
Não existem estatísticas sobre o abandono de igrejas, pois ainda não foi realizada uma pesquisa sistemática, capaz de reunir os dados de cada diocese.
Reação da opinião pública
Recentemente, no entanto, a imprensa internacional passou a interessar-se pelo fenômeno, sobretudo pela forte reação da opinião pública suscitada quando igrejas são colocadas à venda ou transformadas em lojas, bares, restaurantes, academias, centros de bem-estar, discotecas, mesquitas ou passarelas para desfiles de moda em meio à paredes com afrescos ou de altares ainda decorados por temas religiosos.
Fenômeno este que teve um peso maior em países como França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suíça, Estados Unidos e Canadá, mas muitos casos foram verificados também na Itália. E o problema não se restringe à Igreja Católica, mas também às protestantes.
Causas do fechamento de igrejas
As causas de fechamento de igrejas normalmente estão ligadas à diminuição das comunidades cristãs, escassez de sacerdotes, abandono da prática religiosa. E diante deste fenômeno, as pessoas quase sempre se opõem, pois o prédio da igreja tem um forte valor simbólico e de identidade.
Objetivos do encontro
Partindo deste histórico, o simpósio pretende abordar o tema de um ponto de vista geral que não negligencie a abordagem pastoral, além de aprofundar os aspectos jurídicos e técnicos dos desinvestimentos.
Para ampliar o alcance da participação, tanto quanto possível, os organizadores lançaram uma Call for posters and papers destinada a pesquisadores e acadêmicos, para saber quais são as pesquisas atuais sobre o tema.
Pelas redes sociais será lançado o concurso fotográfico Igrejas não mais igrejas #nolongerchurches voltado a documentar, mais do que os casos de abandono, aqueles de reutilização virtuosa. (L'Osservatore Romano)
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